Os líderes chineses aprovaram uma resolução sobre a História do Partido Comunista, que visa abrir caminho para um terceiro mandato do Presidente Xi Jinping, quebrando com a rotatividade no poder promovida pelos seus antecessores.

A agência noticiosa oficial Xinhua esclareceu que a resolução sobre as principais conquistas e experiências históricas do Partido Comunista Chinês (PCC) foi adotada durante a reunião de quatro dias do Comité Central, que terminou esta quinta-feira.

Embora muitas das discussões importantes já tenham ocorrido anteriormente, a resolução vai ser redigida esta semana e pode demorar alguns dias a ser publicada.

A declaração é apenas a terceira deste tipo desde a fundação do Partido há cem anos e deve servir para atribuir a Xi Jinping um estatuto ao nível das figuras mais importantes do PCC.

A primeira foi feita pelo fundador da República Popular, Mao Zedong, que liderou a China entre 1949 e 1976, e a segunda por Deng Xiaoping, que lançou precisamente as reformas económicas que puseram fim à ortodoxia maoista, abrindo o país à iniciativa privada.

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Emitir uma declaração semelhante sobre Xi confirma que o líder chinês acumulou autoridade suficiente para ignorar a prática do partido nas últimas duas décadas, de limitar o exercício do cargo de secretário-geral a dois mandatos de cinco anos.

A sexta sessão plenária do Comité Central do PCC reuniu os 300 membros mais influentes da organização.

“Na prática, no entanto, o poder está nas mãos de um grupo muito menor de líderes–chave”, descreveu James Palmer, vice-editor da revista Foreign Policy.

Ao liderar a sua própria resolução histórica, Xi está a tentar colocar-se ao mesmo nível de Mao e Deng, observou o autor.

Analistas sugerem que a prática do PCC de reescrever a História é um legado da China Antiga, quando o novo imperador escrevia a História do seu predecessor. Cada dinastia tendia a retratar de forma negativa os imperadores da dinastia anterior.

Livros escolares chineses já foram reescritos para colocar Xi e o seu pai, Xi Zhongxun, outrora vice-primeiro-ministro da China, no centro dos eventos que marcaram o país nas últimas décadas.

O PCC removeu já os limites de mandatos estipulados na Constituição para o cargo de presidente da China, indicando a intenção de Xi de permanecer no poder.

O documento deve também enfatizar o sucesso do Partido na supervisão do crescimento económico da China e, provavelmente, ignorar a violência política mortal nas suas primeiras décadas no poder, assim como as crescentes acusações sobre violações dos Direitos Humanos.

Quando os limites de mandato para a presidência foram abolidos, em 2018, as autoridades chinesas indicaram que Xi poderia precisar de mais tempo para garantir que os seus objetivos para o país fossem alcançados.

Xi não enfrenta rivais óbvios, mas a tentativa de permanecer no poder tem o potencial de alienar figuras do partido mais jovens, que podem ter as suas oportunidades de promoção diminuídas.

Cientistas políticos apontam ainda para a experiência de outros países na Ásia, África e América Latina, alertando que longos períodos de governação pelo mesmo líder levam a más decisões oficiais e a pior desempenho económico.

Xi utilizou também o seu controlo sobre o vasto aparato de propaganda do Partido para promover a sua imagem.

A imprensa estatal atribui-lhe o crédito pelos sucessos nacionais, incluindo a luta contra a Covid-19, a ascensão da China como potência tecnológica e a bem-sucedida missão lunar realizada no ano passado para trazer para a Terra rochas lunares.

A avaliação de 1981 feita por Deng condenou a violência da Revolução Cultural (1966-76), o movimento de massas lançado por Mao Zedong que durante uma década mergulhou o país no caos e isolamento.

Xi, no entanto, promoveu uma imagem positiva das primeiras décadas do PCC no poder e apelou à organização para que retome a sua “missão original” como principal força económica, política e cultural da China.