A vacinação é a principal causa para que a mortalidade com Covid-19 seja mais baixa em Portugal do que em outros países da Europa, afirmaram os especialistas durante a reunião do Infarmed, esta sexta-feira.
A mortalidade aumentou, mas é inferior ao limite europeu de alerta, disse Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde. A vacinação reduziu o risco de internamento e de morte, o que favorece Portugal na comparação com o resto da Europa.
Portugal passa de um cenário de resposta de “transição” para uma resposta de “controlo”, destacou Pedro Pinto Leite.
Cinco vezes menos internamentos e quatro vezes menos mortes
Graças à vacinação, Pedro Pinto Leite adiantou que o risco de internamento foi duas a cinco vezes menor nas pessoas com vacinação completa do que nas pessoas que não tinham vacinação completa, em agosto de 2021. Isto foi particularmente evidente acima dos 50 anos, a maior parte das pessoas internadas com Covid-19.
Quanto à letalidade, foi 1,4 a quatro vezes menor nas pessoas com vacinação completa em relação às pessoas sem o esquema vacinal completo, em outubro de 2021. Aqui, considerando as pessoas com mais de 60 anos, os grupos etários com mais mortes registadas.
“Se não houvesse programa de vacinação, dos 65 aos 79 anos haveria 119 óbitos desde agosto, mas só houve 13”, disse Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. A redução é assim de 90%. Para o grupo de mais de 80 anos, passou-se de 217 para 72.
“Podemos claramente observar uma relação negativa: à medida que a cobertura vacinal aumenta, a incidência a 14 dias diminui e Portugal coloca-se como o país claramente com melhor cobertura vacinal”, reforçou Baltazar Nunes. Na mortalidade, acontece o mesmo.
Isto sugere que a cobertura vacinal tem um impacto populacional a nível de redução da mortalidade”, disse o especialista.
Quanto à análise da situação europeia, há seis países na categoria de preocupação muito elevada: Croácia, Eslovénia, Polónia, Hungria, Grécia e República Checa, com incidências que chegam a 2 mil casos por 100 mil habitantes. Nesses países, a cobertura vacinal é “muito reduzida”, explicou Pedro Pinto Leite, com valores na ordem dos 50 a 60%. (Portugal tem mais de 86% de vacinados, ou 81,4% no parâmetro europeu).
Henrique Barros: partimos de um nível mais baixo graças à vacina
Sobre a evolução da pandemia, Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, salientou dois aspetos destes dois anos da pandemia: a questão sazonal e a diferença entre o que aconteceu no primeiro e no segundo ano, “essencialmente marcados pelo processo de vacinação”.
A situação portuguesa, nessa hierarquização da frequência de casos e mortes, encontra-se muito melhor do que há um ano em comparação com os outros”, afirmou.
“Mesmo o aumento que estamos a verificar parte de uma base extraordinariamente mais baixa que é marcada pelo reflexo da vacinação”, repetiu mais uma vez.
Henrique Barros destacou que o número de casos está “a aumentar nas pessoas mais velhas, mas em coincidência com o processo da terceira dose começa a decrescer e apresenta uma forma de evolução distinta que nos permite pensar o futuro tendo isto em atenção”.
Desde maio até agora a vacina e a adesão dos portugueses à vacina terá poupado à volta de 200 mil infeções, 135 mil internamentos em enfermaria e 55 mil em Unidades de Cuidados Intensivos”, sublinhou.
Para evitar linha vermelha de cuidados intensivos é preciso acelerar terceira dose até fim do ano
O pico de ocupação dos cuidados intensivos será no final de janeiro e princípio de fevereiro, explicou Baltazar Nunes. Para não atingirmos o limiar das 255 camas ocupadas, “precisamos de vacinar praticamente toda a população elegível para a vacinação” antes do fim de dezembro.
Há 630 mil pessoas elegíveis (que tomaram a segunda dose há mais de seis meses) que já receberam a terceira dose, informou o coronel Carlos Penha-Gonçalves, que lidera o núcleo de coordenação do plano de vacinação contra a Covid-19. Dois terços dessas também tomaram a vacina da gripe e “pode haver um efeito de cooperação na adesão”.
A adesão “está a crescer” e está nos 80%, assegurou ainda. Se se mantiver, haverá 600 mil pessoas para vacinar até 19 de dezembro, uma cadência de 20 mil pessoas por dia, que disse estar “dentro das capacidades”. Se a adesão aumentar, o ritmo terá de subir para os 35 mil por dia. Assim, Portugal conseguiria vacinar “uma parte muito, muito significativa desta população”.
Se a perda da efetividade for mais lenta do que o calculado, as linhas vermelhas não serão atingidas, disse Baltazar Nunes. “É claramente vantajoso e muito importante atingirmos níveis de elevada cobertura, na dose de reforço, nesta população” (mais de 65 anos).
Segundo este especialista, nos maiores de 65 anos, a vacina terá prevenido entre agosto e outubro 3.065 mortes e 14.660 infeções. “Uma fração muito mais elevada do que a da vacina da gripe”.
Eficácia das vacinas na hospitalização e óbitos superior a 80%
“As vacinas são efetivas na redução da doença, mas em particular na doença grave ou muito grave. Na infeção, a efetividade é superior a 53% e na hospitalização e óbitos superior a 80%“, disse Ausenda Machado, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. “A efetividade varia com a idade e é mais elevada na população entre os 30 e os 49 anos. Há decaimento maior na população com 65 e mais anos.”
Apesar da efetividade da vacina na diminuição do risco de internamento ser superior a 80%, é mais baixa na população com 80 e mais anos. Analisando o período entre fevereiro e outubro, houve “um decaimento da eficácia ao longo do tempo” na população com 80 e mais anos — que foi vacinada na primeira fase da campanha de vacinação —, reforça Ausenda Machado.
Passados 41 dias depois da última dose da vacina, a proteção é elevada, mas cai a partir daí. Aos 149 dias depois da vacinação completa, a efetividade baixa para os 47%. A estimativa que diz respeito a cinco meses após a toma da vacina “tem baixa precisão”, acautelou a especialista que disse que a avaliação “tende a estar subestimada”.
Cinco meses após a vacinação completa, a efetividade [contra o internamento] ainda está com valores de 70%”, acrescentou.
Para a faixa etária seguinte, entre os 65 e os 79 anos, a efetividade contra infeção da vacina contra a Covid-19 após 41 dias começa em decaimento “bastante acelerado”, como na população com 80 e mais anos. O cenário é diferente no caso de hospitalização, com um “decaimento muito mais lento e muito mais suave”, referiu Ausenda Machado.
A investigadora encerrou a sua intervenção com um estudo britânico que diz que a eficácia da vacina contra a infeção sintomática, quando há reforço da vacina, “aumenta a efetividade e repõe quase a efetividade inicial”.