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The Ivens: expedições a África sem sair de Lisboa e um design a pedir atenção

Este artigo tem mais de 2 anos

Plantas tropicais, cadeirões de veludo, mas também padrões explosivos e um restaurante que não acaba. O novo hotel de cinco estrelas no Chiado, The Ivens, faz dos hóspedes autênticos exploradores.

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A receção está propositadamente escondida na mezzanine para que o primeiro embate seja com o lobby intimista e ao estilo colonial, onde os tons quentes predominam e os bagageiros de serviço em fardas beges dão as boas-vindas aos hóspedes. O hotel de cinco estrelas The Ivens, que abriu as portas em regime de soft opening em setembro a tempo de uma concorrida Web Summit, é o novo inquilino da cidade e ocupa o antigo edifício da Rádio Renascença. São 87 quartos — incluindo 10 suites com uma vista desafogada para o rio e para uma Lisboa surpreendentemente silenciosa — e foram sensivelmente seis anos de obras profundas que culminaram na conjugação estética de duas figuras na área do design de interiores.

Mas antes da imagética dos diferentes ambientes, a inspiração: o hotel situado no Chiado fica no cruzamento entre duas ruas batizadas em homenagem a uma dupla de exploradores, Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo, conhecidos por nos finais do século XIX (mais concretamente em 1877) terem feito uma expedição científica, na companhia do major Serpa Pinto, para explorar os territórios entre Angola e Moçambique e as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze — chegaram a estar perdidos durante mais de 40 dias na selva, mas descoberto o trilho de volta à capital portuguesa trouxeram consigo desenhos, plantas e até fósseis de animais desconhecidos (da expedição resulta a obra De Benguela às Terras de Iaca). Já a expedição datada de 1884 foi importante para a elaboração do famoso “mapa cor-de-rosa”.

De volta a 2021, primeiro surge o hotel, depois a zona de restauração com três espaços e ambientes distintos que, por enquanto, servem os hóspedes que pernoitam — a abertura do Rocco ao público, que compreende o bar principal, o Crudo Bar e o restaurante italiano, acontece até 15 de dezembro. A receção, os quartos e os corredores envolventes ficaram ao cuidado do atelier da decoradora Cristina Matos que ao projeto dedicou um total de cinco anos.

Existem ao todo 87 quartos, incluindo 10 suites. Ficaram a cargo da decoradora Cristina Matos

© Francisco Nogueira / www.francisconogueira.com

A inspiração, diz, foi “tão rica” que teve dificuldades em saber por onde começar. Concluído o trabalho fica evidente que o tema foi tratado de forma subtil, com detalhes que vão contando um pouco da história aqui e acolá. Ei-los, os tons mais neutros nos quartos de pé direito alto e adornados por papéis de parede que ora ocupam tetos, ora fazem as vezes de mesas de cabeceira, mas também os adereços simbólicos, desde figuras de animais e livros específicos a colares com grandes missangas.

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Mais representativos serão certamente os desenhos emoldurados retirados de dois livros assinados por Ivens e Capelo, que a decoradora adquiriu em leilão e que se encontram espalhados pelos corredores. Também a estátua de um macaco trabalhado em resina, junto à receção onde os espelhos dominam e prolongam o espaço curto, é destacada — foi adquirida em Paris e, se a Cristina Matos não falha a memória, já na altura lhe chamavam “Fernando”.

No lobby, onde se sente o “cheiro The Ivens” que a gestão encomendou a uma empresa de marketing olfativo (é o primeiro hotel com amenities da marca Jo Malone), a conversa é outra e o cunho do arquiteto Lázaro Rosa-Violán — também responsável pelo projeto JNcQUOI — é evidente e extensível à zona da restauração que tem uma identidade independente e, no futuro, quer ter vida além do hotel. Aliás, a entrada principal do edifício dá acesso ao Rocco, sendo aquela do lobby bastante mais discreta.

O Rocco divide-se em três espaços: bar principal, com uma prateleira vertical, Crudo Bar, dedicado aos mariscos, e o restaurante apostado nos pratos italianos

Francisco Nogueira

Na área dos comes e bebes, surge primeiro o bar envolvido por uma extensa prateleira vertical e pela garrafeira omnipresente que ocupa parte das paredes que o rodeiam. Aí servem-se cocktails ao balcão, mas também saladas, sanduíches e alguns pratos portugueses (seja disso exemplo o bacalhau à brás), mas também queijos, charcutaria e um presunto que é laminado no momento. O ambiente mais informal é sucedido pelo Crudo Bar onde o grande enfoque é o marisco e as bolhinhas em forma de champanhe e espumante — as ostras serão abertas no momento, ou ao balcão ou nas escadas que funcionam como lugares sentados como se estivéssemos num anfiteatro. O ambiente pisca o olho ao mar e às viagens, com uma ligeira influência do sul de França e de Itália que se cruza com a estética dos anos 60 espelhada nas muitas fotografias e quadros que forram as paredes.

A caminho do restaurante propriamente dito, onde a cozinha italiana é “prima donna”, está uma zona que no futuro terá um DJ que apenas trabalha com discos de vinil (John Player Special será esperado todas as sextas e sábados). Já na sala principal, que acomoda até 56 lugares, há três grandes ambientes: a garrafeira com a estação de trabalho do sommelier, a zona grill que terá também uma área para carnes maturadas e, do lado oposto, a cozinha de onde saem as pastas frescas e pratos clássicos italianos como o ossobuco — e antes do copo de vinho, é provável que surja primeiro o negroni, o cocktail feito de vermute, gin e Campari. O projeto gastronómico está a cargo do grupo português Plateform.

No exterior, ainda por estrear, está uma esplanada que, na verdade, é um jardim de inverno decorado com uma fonte em mármore descoberta no sul de França e que, para aqui chegar, viajou de grua e obrigou ao corte da rua que dá acesso ao hotel. Destaque ainda para a casa de banho partilhada, localizada num piso inferior, onde a explosão de padrões e cores é evidente e o casório com loiça de banho vintage uma vantagem.

A casa de banho resulta de uma explosão de padrões e tem a assinatura do arquiteto Lázaro Rosa-Violán

Francisco Nogueira

As fardas dos colaboradores foram todas feitas pelo designer português Pedro Feio e foram exclusivamente desenhadas para o hotel — eles usam fatos em linho e elas “um vestido muito à safari” e botas da vizinha Sapataria do Carmo, explica Mariana Buisel, diretora de operações. Questionada sobre se o tema do The Ivens pode ferir suscetibilidades, Buisel diz que o projeto foca-se no sentido da “descoberta” e é, em parte, um “agradecimento” ao espírito de pessoas como Ivens e Capelo. “Depois de uma pandemia temos é de explorar”, continua, esclarecendo que o hotel — cujos três proprietários portugueses, Carlos Ornelas, Gonçalo Dias e Henrique Mesquita, são os responsáveis pelo também vizinho LX Boutique Hotel — era suposto abrir em fevereiro de 2020. A unidade de cinco estrelas é ainda um franchise da cadeia Marriott.

Quartos premium a partir de 550 euros por noite em quarto duplo com pequeno-almoço incluído; suites a partir de 750 euros e signature suite desde 1.030 euros. Rua Capelo N. 9, Lisboa Portugal. Tel.: 210 543 135 / 213 474 394; book@theivenshotel.com

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