O facto de, a três corridas do final do Mundial, ainda não ser possível ter certezas sobre quem será o campeão do mundo de Fórmula 1, engrossou naturalmente o interesse na modalidade. Pela primeira vez em vários anos, Lewis Hamilton tem em Max Verstappen um adversário à altura com um carro à altura que não pertence à mesma equipa e tem uma enorme fome de chegar ao primeiro título. Com tudo isso, que arrasta o lado bom da competitividade, surge também o lado mau da rivalidade — e as novelas que se repetem a cada semana.

No passado domingo, Lewis Hamilton orquestrou uma das melhores prestações dos últimos anos — e até, talvez, da carreira — e venceu o Grande Prémio do Brasil, encurtando para 14 pontos a distância para a liderança de Max Verstappen no topo da classificação geral. Já depois do final da corrida, contudo, a Mercedes decidiu pedir uma nova avaliação a um incidente entre os dois pilotos, que foi avaliado na altura sem consequências e onde ambos ultrapassaram os limites de pista, garantindo ter “novas provas” sobre uma eventual irregularidade cometida pelo neerlandês. No fim, já a meio da semana, a FIA decidiu não penalizar ninguém, encerrar mais uma discussão entre Mercedes e Red Bull e lançar as atenções para onde estas devem de facto estar: a pista.

Quando é dia de corridas importantes, Lewis Hamilton aparece: britânico vence GP do Brasil e relança luta pelo título na F1

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Já no Qatar, no início de uma trilogia pelo Médio Oriente que vai decidir as contas do Mundial, Lewis Hamilton conquistou a pole-position, a 102.ª da carreira, e deu o pontapé de saída para saltar para a liderança da classificação. Max Verstappen foi o segundo mais rápido, seguido de Valtteri Bottas, mas ambos caíram na grelha de partida pouco antes do arranque — neerlandês e finlandês foram penalizados por não terem respeitado as bandeiras amarelas durante a qualificação e saíam de 7.º e 6.º, respetivamente, atirando Pierre Gasly para a primeira linha do grid. Algo que, com certeza, engrossava os receios da Red Bull num fim de semana em que a Mercedes estava claramente mais rápida.

“A diferença é um pouco alarmante. Conseguimos compensar no primeiro setor, onde perdemos muito no início, mas depois ficámos para trás novamente no setor 2. É um vai e vem constante, o carro nunca foi bom numa volta completa. No entanto, continuamos positivos. Normalmente fazemos muito melhor com o tanque cheio, por isso espero que possamos fazer uma corrida disputada. Vamos ver qual é o ritmo de Hamilton mas será uma corrida difícil”, defendeu Helmut Marko, histórico consultor da Red Bull.

No arranque, Hamilton conseguiu segurar a liderança e Fernando Alonso ultrapassou Gasly para chegar ao segundo lugar. Mais atrás, Verstappen completou as primeiras curvas que almejava e saltou de imediato para a quarta posição, colocando-se em posição estratégica para atacar a liderança do britânico. À passagem da volta 6, o neerlandês já tinha deixado Alonso e Gasly para trás mas ia vendo Hamilton fugir, com o Mercedes a abrir seis segundos de vantagem para o Red Bull.

No pelotão, Sergio Pérez e Valtteri Bottas iam escalando para se aproximarem do pódio e apoiarem os respetivos colegas de equipa. Pelo meio, Gasly teve muitas dificuldades com os pneus e caiu em queda livre pela classificação, aterrando no 18.º lugar antes de parar e começar a tentar recuperar. Verstappen foi o primeiro dos da frente a parar, ainda antes da volta 20, e montou um novo jogo de pneus duros para ainda conseguir voltar antes de Alonso. Seguiu-se Hamilton na volta seguinte, também com um novo jogo de duros, e o líder da corrida manteve uma distância para lá de confortável para o neerlandês.

Bottas e Pérez chegaram a Fernando Alonso perto da volta 30, com o finlandês a ficar com o último lugar do pódio e o mexicano a posicionar-se logo atrás. Pouco depois, contudo, Bottas foi atingido pelo azar e teve um furo, sendo obrigado a uma paragem longa e caindo na classificação, algo que empurrou Pérez para o pódio e Alonso de regresso ao quarto lugar. O piloto finlandês via a corrida de recuperação ser anulada de um momento para o outro e pode ter sido o protagonista de um momento crucial nas contas do Mundial de Construtores.

Verstappen foi forçado a parar a cerca de 15 voltas do fim devido à degradação dos pneus e a Mercedes respondeu novamente na volta seguinte, com Hamilton a trocar para médios. Sergio Pérez parou logo depois do colega de equipa e caiu para 7.º a cerca de 19 segundos de Alonso e com Stroll, Ocon e Norris pela frente — o mexicano passou pelo primeiro, passou pelo segundo depois de o próprio Alonso pedir a Ocon que defendesse “como um leão” e beneficiou da paragem da McLaren para passar o terceiro, atirando a decisão sobre o pódio para as últimas voltas. Ainda assim, Pérez acabou por não conseguir chegar a Alonso e o piloto espanhol carimbou o primeiro pódio em sete anos, desde o Grande Prémio da Hungria de 2014.

Até ao fim, o Mercedes de Valtteri Bottas não aguentou e o finlandês acabou mesmo por abandonar a corrida, com os dois Williams a furarem. Max Verstappen registou a volta mais rápida mas nunca chegou sequer a ameaçar Lewis Hamilton e o britânico conquistou a segunda vitória consecutiva, lançando-se para as últimas duas provas do Campeonato do Mundo a oito pontos da liderança geral do neerlandês. A Mercedes confirmou que foi sempre muito mais rápida do que a Red Bull no Qatar e Hamilton e Verstappen confirmaram o que já todos sabiam: vamos ter luta até ao fim.