Lewis Hamilton tem muita experiência. Apesar de partilhar a grelha com colossos como Fernando Alonso, Kimi Räikkönen ou até Sebastian Vettel, é difícil dizer que Lewis Hamilton não é o piloto mais experiente do atual Mundial de Fórmula 1. A experiência de Lewis Hamilton não se faz pelo número de corridas, pelo número de voltas, pelo número de temporadas — faz-se pelo número de títulos, pelo número de vitórias, pelo número de pódios. E quem tem esse tipo de experiência sabe perfeitamente quando está prestes a começar uma prova decisiva.

Enquanto entramos na corrida mais importante da temporada, não posso deixar de refletir em todos os meus momentos favoritos nesta pista especial. Este país e estes fãs têm uma energia como nenhuns outros. Eu te amo, Brasil!”, escreveu o piloto britânico no Instagram, vincando uma proximidade já conhecida com os adeptos brasileiros, com o circuito de Interlagos e com a memória de Ayrton Senna, o seu maior ídolo. Mas, pelo meio, Hamilton não deixava de recordar o óbvio: esta era, para ele e para a Mercedes, a corrida mais importante da temporada.

Max Verstappen venceu nos Estados Unidos e no México e abriu uma vantagem de 19 pontos na liderança do Mundial de Fórmula 1. Este domingo, em São Paulo, o neerlandês partia da segunda posição da grelha, atrás da pole-position de Valtteri Bottas e à frente de Carlos Sainz e Sergio Pérez. Lewis Hamilton, penalizado em cinco lugares por ter trocado de motor durante o fim de semana, foi o quinto mais rápido na qualificação mas saía de 10.º. As contas, por isso, eram simples: na quarta última corrida da temporada, o britânico da Mercedes precisava essencialmente de que Verstappen não ganhasse e tinha de tentar ficar à frente do rival para ainda relançar a luta pelo título para o Qatar, a Arábia Saudita e Abu Dhabi.

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No arranque, Max Verstappen saiu muito bem e conquistou desde logo a frente a Valtteri Bottas, que optou por aproximar-se do centro da pista mas não conseguiu responder à velocidade que o neerlandês aplicou logo desde o primeiro segundo. No espaço entre a curva 3 e a curva 4, Bottas foi ainda ultrapassado por Sergio Pérez e caiu para o último lugar do pódio, com os dois Red Bull a assumirem a liderança da corrida. Mais atrás, Lewis Hamilton aproveitou um arranque mediano dos Ferrari e desatou desde logo a conquistar posições, enquanto que Lando Norris caiu para o último lugar depois de furar um dos pneus traseiros na sequência de um toque em Pérez.

Na volta 7, numa altura em que Lewis Hamilton já tinha escalado até ao pódio e procurava encurtar distância para os Red Bull, o piloto britânico recebeu a melhor notícia possível: o safety-car teve de entrar para retirar detritos do carro de Yuki Tsunoda depois de uma colisão e o pelotão regressou à formação, com Hamilton a aproveitar para se colar a Pérez e Verstappen. Ainda assim, no recomeço, os dois Red Bull conseguiram segurar a liderança e manter tudo igual no topo da classificação — pelo menos por algumas voltas.

Na volta 18, Hamilton iniciou um ataque concreto e chegou a passar Pérez, com o mexicano a ripostar graças a uma zona dupla de DRS para recuperar a posição, concretizando a ultrapassagem alguns instantes depois para ficar a cerca de três segundos de Verstappen. O britânico foi o primeiro dos da frente a parar, claramente à procura do undercut, e o neerlandês conseguiu ir às boxes mas sair à frente de Hamilton e com uma vantagem de praticamente dois segundos. Bottas foi líder durante alguns instantes, até parar e depois da paragem de Pérez, e aproveitou um virtual safety-car para fazer a pit-stop e ultrapassar o mexicano, regressando ao pódio quando Verstappen e Hamilton já eram novamente primeiro e segundo.

Depois da primeira paragem, Verstappen avisou a equipa de que não poderiam voltar a ser surpreendidos pelo undercut e a Red Bull cumpriu o desígnio, chamando o neerlandês às boxes para montar duros antes de os Mercedes pararem. Seguiu-se Bottas, Pérez e só depois Hamilton, que não teve grande dificuldade em regressar ao segundo lugar. Por esta altura, Bottas dizia à equipa que sentia que tinham acabado de “estragar um 1-2 fácil”, ou seja, que ao pararem depois da Red Bull tinham desperdiçado a possibilidade de conquistar os dois primeiros lugares do Grande Prémio.

O primeiro ataque sério de Lewis Hamilton apareceu na volta 48, quando o britânico ativou o DRS e chegou a colocar-se à frente de Max Verstappen durante um instante numa curva mas o neerlandês conseguiu responder e fechar a porta já para lá dos limites da pista. Hamilton ia intensificando o ritmo, Verstappen procurava defender-se mas ia ficando a ideia de que dificilmente o Red Bull ia aguentar a pressão do Mercedes até ao fim. Nesta altura, tanto Lance Stroll como Daniel Ricciardo abandonaram a corrida.

O momento decisivo apareceu na volta 59. Hamilton voltou a abrir o DRS, atacou Verstappen mas desta feita não deu hipóteses e ascendeu à liderança na curva 4, aproveitando o ritmo que vinha a impor para cavar logo uma vantagem confortável para o neerlandês. Até ao fim, já pouco aconteceu: Lewis Hamilton voltou a mostrar que aparece sempre nos dias mais importantes e bateu Max Verstappen apesar de ter saído de 10.º, encurtando para 14 pontos a distância para a liderança da classificação geral do Mundial e relançando a luta pelo título da Fórmula 1. Valtteri Bottas fechou o pódio, Sergio Pérez terminou em quarto.