Com acusações de “falta de articulação”, “surpresa” e “regresso ao feudalismo” e, mais longe, de conseguir ver na proposta apresentada por Filipa Roseta “uma lógica de extrema-direita à moda de Trump” caiu na primeira reunião pública de câmara a primeira proposta para resolver os problemas da habitação em Lisboa, com os votos contra do PS, Livre, BE, PCP e Paula Marques.

A proposta apresentada pela vereadora que tutela o pelouro propunha que o programa de renda acessível da autarquia fosse afunilado de modo a ser acessível apenas a quem vive ou viveu nos últimos 10 anos em Lisboa. De fora ficariam as milhares de pessoas que já saíram da cidade há mais de 10 anos ou quem, vivendo fora da cidade, tem residência por exemplo na Área Metropolitana de Lisboa.

Com críticas, a anterior responsável pelo pelouro da habitação no executivo de Medina Paula Marques — agora independente — apontou que “o caminho não pode ser pela restrição”. “Esta proposta é já uma assunção de derrota. Vêm dizer-nos que aquilo que tanto pugnaram no mandato anterior na ação política do vosso executivo é a assunção da derrota que não vão corresponder àquilo que tanto identificaram”, apontou.

Mais duro foi o ex-vice-presidente da autarquia João Paulo Saraiva que acusou o executivo de Moedas de estar abrir uma caixa de pandora. “O PSD é um partido que combateu em vários momentos pela democracia deu alguns bons exemplos e, neste momento, por um certo pânico da extrema direta, encosta-se à lógica de primeiro os lisboetas que faz lembrar Trump com o slogan ‘Primeiro América’“, atirou João Paulo Saraiva frisando que a proposta foi apresentada pelo executivo sem “discussão com nenhum dos vereadores do Partido Socialista”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“[Pode estar a] Alimentar a agenda da extrema-direita neste país que a todos nos envergonha. Tem uma oportunidade de voltar atrás, contem connosco para vos ajudar nesse caminho porque me parece que estão numa certa deriva“, disse João Paulo Saraiva levando Carlos Moedas a reagir de imediato: “Percebo que a reunião é pública e que a agenda é política, mas estar a usar uma pequena mudança de critério com uma lógica de extrema-direita, do Chega, de Trump ou Bolsonaro, acho extraordinário”.

Ainda à esquerda, a vereadora do BE Beatriz Gomes Dias revelou “total discordância com a proposta” e questionou a validade daquela que foi a primeira proposta apresentada pelo executivo na área da habitação.

“Estas propostas não aumentam a equidade, antes pelo contrário. Ampliam o fosso das desigualdades, é antiprogressista e nem sequer garante manter a cidade com as características que ela tem”, apontou Gomes Dias.

Pelo PCP, Ana Jara lamentou que a proposta tenha introduzido “restrições” e não “soluções” para o problema da carência habitacional na cidade. “Há pessoas que nascem, estudam e trabalham em Lisboa e nunca moraram em Lisboa. Estas pessoas não são lisboetas? Não têm o direito de morar cá? Lisboa é uma cidade de pessoas de fora. O problema da habitação tem que ter uma visão estratégica e não uma visão redutora. É necessário aumentar a oferta e não restringir administrativamente a procura“, apontou a vereadora.

Já Rui Tavares, pelo Livre, acusou o executivo de ter uma política para a habitação que é um “regresso ao feudalismo”. “Esta proposta, não sei se vai atrás dos novos tempos para a cidade de Lisboa, mas arrisca-se a ir atrás dos velhos tempos do feudalismo. É possível fazer muito mais”, considerou o vereador afirmando que “esperava mais da primeira proposta” da nova liderança na autarquia no domínio da habitação.