Um soldado da Ucrânia foi esta sexta-feira morto em confrontos com separatistas pró-Rússia, na zona leste do país.

Além da pressão sentida no executivo ucraniano pela movimentação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia, o país atravessa igualmente um conflito interno, com a presença de movimentos separatistas em duas regiões administrativas – Donetsk e Luhansk – que integram a região de Donbas, rica em minas de carvão.

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A morte do soldado ucraniano junta-se às 65 que já ocorreram este ano na região, de acordo com a AFP, citada pelo The Guardian, em comparação com 50 mortes em 2020.

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Os movimentos separatistas pró-Rússia têm sido, desde 2014, apoiados pelo governo russo, que tem atualmente cerca de cem mil tropas na fronteira, o que coloca em cima da mesa a possibilidade de uma anexação semelhante à de 2014, quando a Rússia ocupou o território ucraniano da Crimeia.

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O exército ucraniano afirmou ter sido atingido pelos elementos separatistas com recurso a lança-granadas e morteiros. Além do soldado morto, outro elemento do exército ficou ferido durante este ataque.

Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas, desde abril de 2014 até setembro de 2021, 3.095 civis morreram vítimas do conflito na Ucrânia. A AFP dá conta de um total de mais de 13 mil baixas registadas na Ucrânia desde o início do confronto.

O Concelho Europeu, reunido esta quinta-feira, emitiu um comunicado direcionado para o executivo russo: “Quaisquer agressões militares contra a Ucrânia terão consequências massivas e custos severos como resposta, incluindo medidas restritivas coordenadas entre os parceiros [da União Europeia]”.

Também o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, tinha já avisado Vladimir Putin que, caso as tropas da Rússia avançassem sobre a Ucrânia, o país enfrentaria “sanções como nunca antes tinha visto“.

Na passada quinta-feira, Putin tinha acusado a Ucrânia de praticar “russofobia” contra os habitantes ucranianos que tinham como língua principal o russo. “Nós temos visto e sabemos o que se passa em Donbas”, afirmou Putin, segundo a BBC. “[A situação] certamente parece-se com um genocídio.”

A tensão (linguística) que dura há mais de 300 anos

Também em 2014 a Rússia justificou a sua ocupação da Crimeia com o dever de proteger os cidadãos russos e os falantes da língua russa que viviam neste território ucraniano. Os cidadãos e falantes de russo passaram assim a fazer parte do país, bem como Sebastopol, uma cidade portuária de importante posição estratégica no Mar Negro.

Mas por que razão querem os cidadãos da região de Donbas pertencer à Rússia?  A resposta poderá, de acordo com a National Geographic, remontar ao final do século XVII, período no qual o império russo ocupou esta região.

Nesta época, a área a leste do rio Dniepre, com uma forte indústria assente nas múltiplas minas de carvão existentes na área, passou a pertencer ao Império Russo. Já a região a oeste do rio foi, por outro lado,  controlada por diversos países, como a Polónia e o Império Austro-húngaro (hoje dividido entre a Áustria e a Hungria).

Por este motivo, no leste da Ucrânia, a maioria da população tem o russo como idioma principal, com a região de Luhansk a registar, segundo a Tradutores Sem Fronteiras, 68% da população com russo como primeira opção linguística, e a região de Donetsk com 74% da população na mesma situação.