Rejeitado por Rui Rio, Francisco Rodrigues dos Santos tentou criar uma coligação pré-eleitoral de direita. O objetivo era juntar partidos como o PPM, o MPT, a Aliança e Nós, Cidadãos numa candidatura alternativa a que daria o nome de “Aliança de Direita” – numa referência evidente à Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles. As conversações acabaram por não chegar a bom porto e o líder do CDS decidiu mesmo ir a votos sozinho.
O plano tinha começado a ganhar forma bem antes de Rui Rio fechar definitivamente a porta ao CDS. Em conversas informais, Rodrigues dos Santos percebeu que existiria abertura do PPM, MPT e Aliança de se juntarem aos democratas-cristãos numa coligação mais alargada com o PSD. Faltava a última palavra do líder social-democrata.
Os sinais públicos e privados que Rio ia dando davam a entender que a aliança não só era possível como bastante provável. O único senão eram as resistências internas que se iam fazendo sentir no interior da direção social-democrata no sentido de obstaculizar uma eventual coligação pré-eleitoral à direita.
A 7 de dezembro, o tema voltou a ser debatido na Comissão Política Nacional do PSD e a maioria dos dirigentes sociais democratas voltou a dizer de forma clara e inequívoca que era contra uma aliança com o CDS. Rio estava convencido. Ainda antes das seis da tarde, o líder do PSD entrou em contacto com Rodrigues dos Santos para o informar de que não existiria coligação pré-eleitoral. Era altura de tentar avançar com o plano B.
A 8 de dezembro, um dia depois da decisão de Rio, Francisco Rodrigues dos Santos falou com os líderes do PPM, Aliança, MPT e Nós, Cidadãos para perceber que margem existia para construir a tal “Aliança de Direita” – que nunca considerou o Chega ou a Iniciativa Liberal.
Os representantes destes partidos foram chamados ao quartel-general do CDS, no Largo do Caldas, em Lisboa, para que apresentassem as condições que impunham e para que se percebesse se existia ou não viabilidade para uma coligação alargada.
Rodrigues dos Santos não participou nessas reuniões, que foram lideradas pelo secretário-geral adjunto Luís Machado. Ausência que inviabilizou desde logo qualquer princípio de conversa com o líder do Nós, Cidadãos: quando Joaquim Rocha Afonso chegou à sede do CDS e percebeu que Francisco Rodrigues dos Santos não estaria presente, não aceitou sequer sentar-se à mesa.
Por outro lado, o líder do CDS também nunca esteve verdadeiramente confortável com a hipótese de construir uma coligação com o MPT que já tinha uma pré-acordo com a Alternativa Democrática Nacional (ADN), sucessor do PDR e força política liderada por Bruno Fialho, candidato a Lisboa nas autárquicas de 2021 já depois de ter recebido protagonismo mediático quando representou o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas em plena greve dos motoristas.
O preço da Aliança, partido fundado por Pedro Santana Lopes, também era incomportável para o CDS: a força política agora liderada por Jorge Nuno de Sá exigia ter o terceiro lugar na lista de candidatos a deputados pelo círculo eleitoral de Lisboa para integrar a coligação de direita. Nestes termos, aos olhos do CDS, as negociações estariam sempre condenadas ao fracasso.
Além disso, Francisco Rodrigues dos Santos entendeu que estes partidos dificilmente teriam margem e estruturas preparadas para concluir um processo exigente e burocrático como este a tão pouco tempo das eleições legislativas.
Com todos estes dados em cima da mesa, menos de 24 horas depois de ter dado início às conversas exploratórias, o CDS fez saber junto dos partidos envolvidos nas negociações de que iria a votos sozinho. A “Aliança de Direita” acabaria assim por nunca sair do papel.