Nunca a velha máxima de Pimenta Machado, antigo presidente do V. Guimarães, fez tanto sentido como o que aconteceu com o Benfica e com Jorge Jesus nos últimos dias: “O que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira”. E foi nessa ideia paradoxal mas que muitas vezes funciona como motor no mundo do futebol que se perspetivou um outro volte face em toda a novela com o Flamengo desde meio de dezembro: a hipótese de ser ainda o técnico dos encarnados (a caminho da rescisão, que seria anunciada horas depois) a assumir o comando da equipa carioca. Não vai acontecer. Mas era ele o preferido em vez de Paulo Sousa.

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Apesar de haver esse interesse de ambas as partes, desde a madrugada de sábado para domingo que Jorge Jesus deixou de ser hipótese e o antigo selecionador da Polónia passou para o papel os dois anos de vínculo com o Flamengo que tinham sido apalavrados no dia 19 caso nada mudasse. Ainda assim, a possibilidade de voltar ao Brasil continua de pé, desta vez com o Atl. Mineiro a ver Cuca sair surpreendentemente após ter conseguido ser campeão e a colocar Jesus na lista de possíveis alvos para a temporada de 2022.

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Fontes próximas de Paulo Sousa garantiram ao Observador que não existiu qualquer mudança em relação ao que estava traçado: o técnico vai chegar a acordo com a Federação polaca para revogar os três meses de vínculo que tinha ainda até ao playoff do Mundial e assumir de seguida o comando do Flamengo. Também o Globo revela que a hipótese de um recuo não está a ser equacionado por parte dos responsáveis do clube do Rio de Janeiro. E, ainda antes da saída de Jorge Jesus, o próprio Marcos Braz tinha explicado que, apesar de ser a primeira opção pelo passado nos rubronegros, não deu sinais de querer sair.

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“Não dava mais para esperar o Jorge Jesus. Ele não nos deu nenhuma sinalização clara de que queria voltar. Estava a jogar connosco e com o Benfica. Se o mister me tivesse dito ‘Espera até o dia 30’, eu teria esperado. Mas ele não disse nada… Ele ficava na dele e, quando questionado, repetia que dependia sempre do Benfica”, contou Marcos Braz, vice do Flamengo, ao canal Ilan e Renato do Youtube.

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“Esperei o máximo que podia, fiz tudo que era possível, mas a verdade é que ele não me passou nenhuma segurança. Até entendo mas para mim, deu”, acrescentou, abordando também a situação dos encarnados ainda antes da saída do comando técnico. “Sabe quanto o Benfica ganhou com a classificação para os oitavos da Champions? 52 milhões de euros. Imagina quanto o mister levou de prémio? Ele está de olho numa possível classificação para os quartos da Champions, que vale mais uma fortuna para o clube e para ele. E se ele ganha agora ao FC Porto? Vai querer sair? O Benfica vai querer que ele saia? Não dá para ter certeza de nada e eu precisava decidir”, explicou o responsável pelo futebol do Flamengo.

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Agora surge o Atl. Mineiro no horizonte de Jorge Jesus, apontado até como o favorito para assumir a formação de Minas Gerais onde alinham jogadores como Hulk, Diego Costa ou Eduardo Vargas segundo o Globoesporte. Apesar da grande época no plano desportivo em 2021, com a conquista do Campeonato do Brasil, da Taça do Brasil e do Campeonato Mineiro, Cuca pediu para sair invocando razões pessoais e terá mesmo garantido aos dirigentes que não iria assumir qualquer projeto desportivo em 2022. Renato Gaúcho, antigo técnico do Grémio que saiu do Flamengo depois de perder a final da Taça dos Libertadores, era um nome em conta entre os responsáveis do Galo mas que foi perdendo força ao longo de 2021.

“O Atlético anuncia que Cuca não é mais treinador do clube. A saída foi uma decisão pessoal do treinador, depois de reunião virtual ocorrida no final da tarde desta segunda-feira, 27 de dezembro. No encontro, no qual participaram o diretor de futebol Rodrigo Caetano; o presidente Sérgio Coelho; e os 4 R’s (Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador), o agora ex-treinador alvinegro anunciou a decisão de distratar seu contrato com o Galo, cujo vencimento somente se daria no final de dezembro de 2022. Cuca alegou motivos pessoais, de ordem familiar, e disse que a sua decisão era irretratável, apesar das seguidas tentativas dos dirigentes em demovê-lo e buscar um caminho no qual fosse possível conciliar as questões particulares com o trabalho”, anunciou o clube de Minas Gerais em comunicado.

“O treinador também afirmou, na mesma reunião, que não iria trabalhar em nenhum outro clube em 2022, para se dedicar unicamente às questões familiares. O Galo contava com o treinador no seu planeamento para o próximo ano e lamenta a decisão, embora compreenda os motivos alegados. Em nome de toda a diretoria, funcionários e atletas, o clube agradece pelos serviços prestados e conquistas alcançadas, desejando-lhe sucesso no desenlace de suas questões particulares”, concluiu.