Mais de uma centena dos principais especialistas mundiais na luta contra o coronavírus pediram uma mudança de rumo na estratégia de muitos países. Os investigadores, especialistas em saúde pública, enviaram uma carta aberta à revista British Medical Journal, sublinhando a importância de ajustar as medidas às provas científicas, que são cada vez mais e melhores, mas nem sempre são acompanhadas pelos decisores políticos.
Em concreto, estes especialistas exigem que seja dito com clareza que o vírus se transmite por aerossóis, ou seja, partículas que expelimos ao falar ou respirar e que se mantêm no ar. “Verificou-se de forma indiscutível, e contrariamente a teorias anteriores que se revelaram desatualizadas, que o mecanismo deste coronavírus faz-se através de aerossóis”, explica José María Martín-Moreno, epidemiologista da Universidade de Harvard e professor catedrático de Medicina Preventiva e Saúde Pública na Universidade de Valência, um dos que assina a carta.
“Chegou o momento de articular medidas sobre a ventilação e filtragem eficaz do ar. Temos de ir mais além que a mera abertura de janelas, e tentar mudar o paradigma para garantir que os edifícios se desenham, constroem, adaptam e utilizam de forma ótima, de modo a maximizar o ar limpo para os seus ocupantes”, acrescenta Martín-Moreno, citado pelo jornal El Mundo.
A carta propõe uma estratégia global contra a pandemia baseada em cinco pontos: declaração inequívoca que a SARS-CoV-2 é um patógeno aéreo, promoção do uso de máscaras de qualidade (FFP2 e similares), recomendação de ventilação e filtragem do ar, fixação de critérios para impor ou retirar restrições segundo níveis de transmissão comunitária, e tomada de “medidas urgentes” para atingir a vacinação mundial.
“Tudo isto acompanhado de mais iniciativas de apoio financeiro a todos os grupos que tiveram de fazer sacrifícios, por eles próprios e pela sociedade. Isto é o que chamamos de Vacinas-Plus, ou Vacinas e mais”, indica Martín-Moreno, que também destaca a importância do rastreamento e isolamento.
“Ainda que muitos de nós tenhamos repetido estas mensagens várias vezes, não chegaram às pessoas que tinham de tomar decisões, e isso fez com que muitíssimas pessoas se tenham infetado, uma percentagem não negligenciável delas ficou gravemente doente, e uma percentagem ainda por conhecer terá Covid persistente. E o mais trágico de tudo: a morte associada ao novo coronavírus ou às consequências do colapso no sistema de saúde, que não conseguiu responder a muitas outras patologias”, descreve o médico.
A carta termina com um alerta recente do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom: “Tenho de ser muito claro: as vacinas sozinhas não vão tirar nenhum país desta crise. Não são vacinas ao invés de máscaras, distanciamento, ventilação ou higiene das mãos. Façam tudo. Façam-no de forma consistente. Façam-no bem”.
Omicron is spreading at a rate we have not seen with any previous variant. I need to be very clear: vaccines alone will not get any country out of this crisis.
It’s not vaccines instead of masks, distancing, ventilation or hand hygiene.
Do it all. Do it consistently. Do it well. pic.twitter.com/YAVfJXsviQ— Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) December 14, 2021