Foi um dos debates semanais na Câmara dos Comuns mais quentes desde que Boris Johnson é primeiro-ministro. O líder do governo britânico foi ao Parlamento esta quarta-feira pedir desculpa, depois de ser tornado público que se realizou mais uma festa em Downing Street quando o confinamento contra a Covid-19 estava em vigor. Boris Johnson pediu várias vezes desculpa e disse assumir a “responsabilidade”. Mas, desafiado pela oposição a demitir-se, o primeiro-ministro recusou e disse que iria esperar pela conclusão do inquérito que está em curso.

Quero pedir desculpas. Sei que milhões de pessoas fizeram sacrifícios extraordinários [nesse período]”, disse Boris Johnson no debate semanal da Câmara dos Comuns. “Sei a raiva que sentem contra mim e contra o governo que lidero quando pensam que as regras não estavam a ser seguidas corretamente em Downing Street.”

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O líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, não poupou nas palavras. Classificou o pedido de desculpas do primeiro-ministro como “ridículo” e “ofensivo”. “O primeiro-ministro é um homem sem vergonha”, declarou. “Quando o ministro da Saúde quebrou as regras, demitiu-se e o primeiro-ministro disse que foi a decisão certa. Porque acha que as regras não se aplicam a si?”, questionou Starmer.

Boris Johnson continua a dizer que considerava que o evento — onde os funcionários de Downing Street foram convidados a reunir-se no jardim e a trazer a sua própria bebida — era um encontro de trabalho. “Mas, agora, vejo que devia ter mandado todos para dentro”, reconheceu. “Arrependo-me muito de não ter feito as coisas de forma diferente naquela noite.”

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O primeiro-ministro afirmou várias vezes que assume “a responsabilidade”. Instado pela maioria dos partidos da oposição a demitir-se, porém, empurrou essa decisão para o momento em que sejam conhecidas as conclusões do inquérito que está em curso, liderado pela funcionária pública Sue Gray. “Acho que seria melhor se esperasse pelas conclusões do inquérito. Um advogado devia saber fazê-lo”, atirou Boris Johnson a Starmer, que foi procurador durante muitos anos.

A “pior crise de sempre” de Boris Johnson parece não ter fim. E podem ser os próprios tories a pôr fim ao “pesadelo”

Os partidos da oposição, porém, insistiram na demissão do primeiro-ministro — e foi a primeira vez que Starmer o fez no Parlamento — e deixaram no ar a possibilidade de serem os deputados do próprio Partido Conservador a afastar Boris Johnson. “Vai o povo mandá-lo embora, vai o seu partido mandá-lo embora ou ele vai fazer a coisa decente e demitir-se?”, questionou Keir Starmer. Já Ian Blackford, líder do Partido Nacional Escocês, questionou se Boris se vai demitir ou se “serão os seus próprios deputados a levá-lo à porta?”

Da parte dos tories, não houve qualquer reação ao caso na Câmara dos Comuns. As declarações dos conservadores sobre o tema seriam importantes para medir a temperatura dentro do partido. Antes do debate, porém, alguns já tinham reagido aos media e classificado as notícias como “chocantes” e “indefensáveis”. Douglas Ross, líder dos conservadores na Escócia, disse mesmo que Boris Johnson devia demitir-se caso tivesse quebrado as regras — algo que o próprio confirmou no Parlamento.

Recorde-se que o Partido Conservador tem um mecanismo que permite uma moção de censura interna ao primeiro-ministro, que, caso seja aprovada, resulta num afastamento do atual detentor do cargo. Se 15% dos deputados do partido escreverem ao líder do Comité 1922 (Graham Brady), uma votação é convocada. Aí, Boris terá de reunir o apoio de mais de metade dos deputados tory (180 votos) para se manter no cargo.