As pessoas não vacinadas apresentam um risco de morte três a seis vezes superior do que aqueles que completaram o esquema vacinal. Esta é uma das principais conclusões do relatório das Linhas Vermelhas publicado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge (INSA) em conjunto com a Direção-Geral da Saúde.

Usando como amostra o número de mortes relacionadas de complicações associadas com a Covid-19 em dezembro de 2021, o documento indica que ocorreram 171 mortes (46%) em pessoas com o esquema vacinal primário completo, 168 óbitos (45%) em não vacinados ou com a vacinação incompleta e 32 mortes (9%) naqueles que tomaram a dose de reforço.

Nos casos diagnosticados em pessoas com idade igual ou superior a 80 anos, o documento refere que “por cada 100 casos sem esquema vacinal completo, cerca de 20 casos morreram, por cada 100 casos com esquema vacinal completo, cerca de sete casos morreram e por cada 100 casos com esquema vacinal completo e a dose de reforço, cerca de um caso morreu”.

Em termos gerais, tal significa que na faixa etária em estudo, “a dose de reforço reduz o risco de morte por Covid-19 quase seis vezes em relação a quem tem esquema vacinal completo e reduz mais de 18 vezes o risco de morte em relação aos não vacinados ou com esquema incompleto”.

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Verifica-se um padrão idêntico nos internamentos com a diferença de se tratarem de dados de novembro: “Os casos com esquema vacinal completo parecem apresentar um risco de hospitalização aproximadamente duas a cinco vezes inferior aos casos não vacinados”. Empregando a mesma lógica do que com as mortes e a mesma faixa etária, “por cada 100 casos sem esquema vacinal completo, cerca de 19 casos foram internados. Por cada 100 casos com esquema vacinal completo, cerca de 8 casos foram internados”.

“Ou seja, o risco de internamento neste grupo etário [80 ou mais anos] para os casos com um esquema vacinal completo foi menos de metade relativamente aos casos sem um esquema vacinal completo. O risco de internamento para quem tem dose de reforço é metade do risco de internamento de quem tem vacinação completa”, lê-se.

Pandemia com “intensidade muito elevada” e com “impacto elevado na mortalidade”

A atividade pandémica apresenta uma “intensidade muito elevada” em Portugal e ainda continua com “tendência crescente”. O impacto nos serviços de saúde também já são “elevados”, bem como na mortalidade — neste indicador, o relatório sublinha que “apresenta uma provável inversão da tendência estável anteriormente observada”, tendo a pandemia já “um impacto elevado na mortalidade”.

Aliás, a 12 de janeiro, a mortalidade específica por Covid-19 encontrava-se nos 25,5 óbitos em 14 dias por um milhão de habitantes, “o que corresponde a um aumento de 25% relativamente ao último relatório”. “Este valor é superior ao limiar de 20 óbitos definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC), indicando um impacto elevado da epidemia na mortalidade”, lê-se.

Apesar do impacto na mortalidade, não se verifica o mesmo na ocupação de camas em unidades de cuidados intensivos (UCI). Em Portugal, estão ocupadas 64% do valor crítico de camas em UCI, uma subida percentual de dois pontos percentuais face à semana passada, mas que, mesmo assim, apresenta uma “tendência estável”.

A incidência cumulativa de casos por 100 mil habitantes foi, na semana passada, de 4.036 infeções, o que significa uma “intensidade muito elevada” e “com tendência fortemente crescente”, que é transversal a todas as faixas etárias. É naqueles que têm entre 20 e 29 anos que a incidência é mais elevada: 6.811 casos por 100 mil habitantes. Pelo contrário, no grupo etário com mais de 80 anos registou-se “um risco de infeção mais de três vezes inferior ao apresentado pela população em geral” — embora a tendência seja igualmente “fortemente crescente”.

Em relação ao índice de transmissibilidade — R(t) —, este baixou em todas as regiões de Portugal continental. Lisboa e Vale do Tejo é, neste momento, aquela com um menor R(t), 1,15, enquanto o Norte é que tem o maior (1,23). Ainda assim, uma vez que se encontra acima de 1, é expectável “uma tendência crescente da incidência de infeção”.

Já a taxa de positividade aumentou face à semana passada, estando já nos 14% (há sete dias era de 10,6%). É um valor que se encontra muito acima do limiar dos 4%, estando ainda com uma “tendência crescente”. No número de testes realizados, e findo o período de festas, reportou-se uma ligeira diminuição — na semana passada foram realizados 1,68 milhões de testes, enquanto há duas semanas tinham-se feito 1,71 milhões de despistes à Covid-19.

O relatório do INSA e da DGS confirma, por fim, o cenário da semana anterior: a variante Ómicron continua a ser “dominante” em Portugal, representando uma proporção “de casos estimada de 93,2% no dia 10 de janeiro de 2022”.