O ex-presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, quebrou, esta terça-feira, o silêncio para manifestar apoio total ao seu sucessor após os motins do início do mês, que evidenciaram uma luta interna pelo poder.
Nazarbayev, 81 anos, ainda não tinha aparecido e falado publicamente desde a agitação sem precedentes no país da Ásia Central, alimentando rumores de que tinha fugido para o estrangeiro com a família.
“Sou reformado e estou atualmente a gozar um merecido descanso na capital do Cazaquistão. Não fui a lado nenhum“, disse Nazarbayev num vídeo publicado esta terça-feira na rede social YouTube, citado pela agência de notícias France-Presse.
Nazarbayev assegurou que o seu sucessor, Kassym-Jomart Tokayev, a quem entregou a presidência em 2019, tem “todos os poderes” e negou qualquer “conflito ou confronto no seio da elite”, denunciando “rumores sem fundamento”.
O ex-presidente, que aparece no vídeo sentado numa secretária em frente às bandeiras do Cazaquistão, disse que o objetivo dos manifestantes era “destruir a integridade do país e as fundações do Estado”.
“Esta tragédia tornou-se uma lição para todos nós. É importante descobrir quem organizou todos estes ataques e assassinatos”, disse.
Nazarbayev apelou à população para apoiar o programa de reformas do seu sucessor, dizendo que quer “estabilidade e paz” no país.
“Iremos certamente ultrapassar a crise e tornar-nos ainda mais fortes”, acrescentou.
Os motins eclodiram após protestos contra o aumento dos preços dos combustíveis, num cenário de deterioração do nível de vida e de corrupção.
Pelo menos 225 pessoas foram mortas durante os motins e cerca de 10.000 foram detidas, de acordo com as autoridades cazaques.
Para pôr termo à violência, Tokayev pediu a intervenção de uma força internacional, de cerca de 2.000 efetivos, liderada pela Rússia.
Durante os motins, a ira dos manifestantes foi dirigida em particular contra Nazarbayev, acusado de ter fomentado a corrupção na antiga república soviética, que liderou durante três décadas.
225 mortos e 4.300 feridos nos protestos da semana passada no Cazaquistão
Em 2019, Nazarbayev entregou a presidência a Tokayev, um dos seus aliados, embora mantendo uma influência significativa ao reclamar o título de “Elbassy”, ou “pai da nação” cazaque, e o cargo de chefe do poderoso Conselho de Segurança do país.
Foi também estabelecido um culto à sua personalidade e a capital Astana foi renomeada Nursultan, o seu primeiro nome, logo após ter deixado a Presidência.
Desde os motins, Tokayev reforçou a sua influência ao assumir o Conselho de Segurança.
Nazarbayev também disse que Tokayev vai assumir em breve a liderança do partido governamental Nur Otan.
Num ataque sem precedentes, na semana passada, Tokayev acusou Nazarbayev de ter fomentado o aparecimento de uma “casta rica” que dominava o país rico em hidrocarbonetos.
Contudo, Tokayev atribuiu os motins a um grande “ataque terrorista” vindo do estrangeiro, sem apresentar quaisquer provas.
Desde os tumultos, várias pessoas próximas de Nazarbayev foram demitidas de cargos importantes e pelo menos um deles, Karim Massimov, que chefiava os serviços secretos, foi preso sob a acusação de “alta traição”.