Devem chegar a Tonga em quatro dias (ou até já na próxima sexta-feira, mas apenas se as condições climatéricas estiverem de feição) os primeiros navios com ajuda humanitária enviados pelos governos australiano e neozelandês para o arquipélago.

Uma vez no destino, a primeira prioridade, avançou o ministro da Defesa de Wellington, Peeni Henare, vai ser assegurar o fornecimento de água às populações, já que o mais provável é que a nuvem de cinzas provocada pela erupção do vulcão submarino Hunga-Tonga-Hunga-Ha’apa tenha contaminado as reservas locais.

A bordo dos navios que esta quarta-feira zarparam do porto de Brisbane, avançou Sophie Ford, a coordenadora de resposta internacional da Cruz Vermelha Australiana, seguem, para além de material para ajudar a fornecer abrigo temporário aos locais — na ilha de Mango, onde moravam 50 pessoas, não ficou uma casa de pé, na de Fonoifua, mesmo ao lado, só duas casas resistiram ao tsunami provocado pela erupção —, reservatórios com água potável limpa.

Em terra, à espera da ajuda internacional — as provisões reunidas pela Cruz Vermelha de Tonga permitiram ajudar cerca de 1.200 agregados familiares mas só vão ser suficientes para os próximos dias —, vão crescendo entre os locais receios de que o arquipélago possa vir a ser atingido por outro desastre, nomeadamente um “tsunami de Covid”, disse à australiana ABC Curtis Tuihalangingie, diplomata sénior em Camberra.

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Desde o início da pandemia, o reino do Pacífico, composto por cerca de 170 ilhas, 32 delas habitadas, só teve um caso confirmado de Covid-19 — registado apenas no início de novembro de 2021, quase dois anos mais tarde. O feito foi conseguido através de um controlo rígido que manteve as fronteiras encerradas. Agora, que cidadãos estrangeiros vão ter de entrar no país, não se espera que os cuidados diminuam. De acordo com a representante da Cruz Vermelha Australiana, os bens transportados vão cumprir um período de quarentena e os membros dos grupos de ajuda vão estar em isolamento durante três semanas. “Estamos realmente conscientes de que a nossa ajuda não pode trazer mais problemas”, disse Sophie Ford.

Um arquipélago coberto de cinza: as primeiras imagens de Tonga após a erupção do vulcão

Apesar dos receios iniciais, o aeroporto internacional de de Fua ‘ amotu, na capital, Nukualofa, não sofreu danos. Equipas de voluntários têm passado os últimos dias a limpar a pista, tornada intransitável pelo tsunami e pela queda de cinzas, e tudo leva a crer que esta quarta-feira os trabalhos vão estar terminados. O que não deve ser recuperado tão cedo é o cabo submarino que, via Fiji, fornecia rede de telefone e de Internet ao arquipélago. Desde o dia da erupção que as comunicações em Tonga estão a 10% do habitual, com uma operadora de rede móvel a estabelecer um sistema temporário em Tongatapu, ilha principal, através da antena parabólica da Universidade do Pacífico Sul, em Suva, capital das Fiji. Vão ser necessárias pelo menos quatro semanas, estimam as autoridades, para reparar o cabo.

O vulcão que abalou, não só o Pacífico, mas todo o mundo. Porque é que a erupção de Tonga se sentiu até em Portugal

A erupção do passado dia 15 de janeiro foi tão violenta que teve consequências até em Portugal, que viu subir o nível do mar “em praticamente todas as estações maregráficas em operação na costa portuguesa”, confirmou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Três pessoas morreram: dois tonganeses, um homem e uma mulher, e uma cidadã britânica de 50 anos, que tinha um abrigo para animais e terá morrido a tentar salvar os cães.