Cerca de 1,27 milhões de pessoas morreram de causas diretamente atribuíveis à resistência antimicrobiana durante o ano de 2019, mas estima-se que, pelo menos, 4,95 milhões de mortes possam ser associadas à incapacidade de tratar doenças causadas por microorganismos que se tornaram resistentes aos tratamentos existentes, concluiu um estudo publicado na revista científica The Lancet esta quinta-feira.

Infeções por bactérias resistentes originam anualmente 1.160 mortes em Portugal

Segundo os autores do estudo, a resistência antimicrobiana (AMR) ultrapassou assim o VIH/sida e a malária como principal causa de morte em 2019 — estima-se que 860 mil mortes estiveram associadas ao VIH/sida e 640 mil associadas à malária. Pneumonias, septicemia (destruição generalizada dos órgãos) e apendicite, são as principais consequências da AMR.

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Estimativas anteriores previam que chegássemos aos 10 milhões de mortes anuais causados pela resistência antimicrobiana em 2050, mas sabemos com certeza que já estamos muito mais perto desse número do que pensávamos”, disse Chris Murray, co-autor do estudo e investigador no Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde na Universidade de Washington.

A resistência antimicrobiana é um problema a nível mundial. Os impactos maiores são nos países de baixo e médio rendimento — como na África subsariana e no sul da Ásia —, mas os países de alto rendimento também enfrentam níveis alarmantes de bactérias e outros microorganismos resistentes aos antibióticos e a outros tratamentos, conclui o estudo com base nos dados de 204 países e territórios.

Apesar de a resistência antimicrobiana colocar um risco de morte em qualquer idade, as crianças até aos cinco anos são o grupo etário que parece estar em maior risco, com uma em cada cinco mortes associada à AMR.

E se os antibióticos deixarem de tratar infeções?

A equipa de investigadores procurou apresentar um cenário a nível global — ao contrário de outros relatórios que se focavam em países ou regiões — e juntar vários patógeneos (microorganismos causadores de doença) e combinações de tratamentos, mas reconhece que a falta de dados em algumas regiões de baixo e médio rendimento pode enviesar os dados.

Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Streptococcus pneumoniae, Acinetobacter baumannii,Pseudomonas aeruginosa são os micoorganismos responáveis por mais mortes, incluindo nos casos em que e tornaram resistentes a uma ou mais linhas de antibiótico (até os de última linha).

O autores deixam cinco propostas para combater o problema:

  1. prevenir e combater as infeções e evitar a disseminação de microorganismos resistentes;
  2. prevenir as infeções (de forma geral) recorrendo à vacinação;
  3. reduzir a exposição a antibióticos que não os de tratamento (como os que são usados na pecuária ou que podem estar a contaminar solos e água);
  4. reduzir o uso de antibióticos em humanos apenas às situações indispensáveis;
  5. manter o investimento no desenvolvimento de novos antibióticos.

Última atualização às 9h15