A Iniciativa Liberal está confiante com o resultado eleitoral de dia 30 e sonha com o terceiro lugar. Na sequência da última sondagem da RTP, que mostra um crescimento da intenção de voto nos liberais, João Cotrim Figueiredo começou por responder deste modo a uma questão sobre se a IL está preparada para entrar num Governo:
Estamos preparados para assumir as responsabilidades que forem necessárias mas também já disse que não é minha preocupação os cargos. E também não costumo comentar sondagens porque as variações estão todas dentro das margens de erro.”.
No entanto, acrescentou, ainda durante a manhã e no campus universitário da Faculdade de Ciências e Tecnologias da NOVA School of Science and Technology, que visitou: “O único comentário que faço, porque confesso porque me diverte um pouco, é ver que afinal há um conjunto de partidos a lutar pelo terceiro lugar bastante maior do que o que se achava”.
Umas horas mais tarde, interpelado pelos jornalistas, Cotrim voltaria a falar do assunto deixando uma farpa a Chega, Bloco de Esquerda e PCP: “Seria muito boa notícia para Portugal que fosse um partido reformista e moderno como a IL que acabasse por ocupar o terceiro lugar — e não extremistas das várias cores e dos vários quadrantes que têm estado todos contentes a disputar esse lugar. Seria uma surpresa boa”.
A IL, recorde-se, estabeleceu como objetivo para estas legislativas obter pelo menos 4,5% dos votos e conseguir eleger cinco deputados. A sondagem mais recente da Católica para a RTP, Antena 1 e Público projeta um resultado de 5% para os liberais — apenas a um ponto percentual de distância do Chega, que surge em terceiro lugar com 6% de intenção de voto.
Uma proposta: acabar com o concurso de colocação de professores
O candidato liberal visitou esta sexta-feira de manhã o campus da FCT da NOVA School of Science and Technology, em Almada, e revelou as prioridades que a IL teria numa negociação com os possíveis parceiros PSD e CDS-PP: “Claramente autonomia financeira, administrativa e pedagógica das escolas“.
João Cotrim Figueiredo fez questão de explicar o porquê da visita de esta sexta-feira ao campus: quis “dar visibilidade a um projeto que tem imensas características e qualidades, que Portugal devia levar em atenção e multiplicar se fosse possível”.
O campus da faculdade faz parte de uma zona chamada Innovation District, construída pela aliança de dinheiros públicos a financiamento privado — como o candidato deseja noutras áreas, como a da Saúde —, e é “uma autêntica cidade nova, numa área que se aproxima dos 70 hectares, com o único objetivo de gerar à volta do conhecimento uma rede social económica e académica que funcione e faça crescer o concelho de Almada, o distrito de Setúbal e o país”.
Cotrim visou no entanto os “inúmeros obstáculos” com que se depararam os que tiveram o “sonho” de construir este Innovation District. E apontou: “Isto não devia ser tão difícil de fazer”. Deixou ainda críticas ao modelo de colocação de professores nas escolas: “A falta de professores nas escolas tem a ver com o sistema de colocação de professores e os próprios incentivos que são dados aos professores que são arcaicos, centralizados”.
O concurso de colocação de professores é uma coisa que já não faz sentido absolutamente nenhum, quando as pessoas não sabem onde vão ser colocadas de um ano para o outro e as escolas não sabem que professores vão ter”, afirmou Cotrim.
O candidato liberal explicou ainda que a proposta da IL “é que os processos venham a ser muitíssimo mais autonomizados e que seja dada primazia à vontade das escolas, as escolas [e não o Estado centralizado] é que têm de decidir que professores querem ter” e concorrer então entre si.
Mira ao voto útil, o “desafio mais difícil” da campanha
As sondagens parecem animar a comitiva, mesmo que oficialmente o discurso seja de cautela. Até porque ainda faltam nove dias para as eleições e até lá a IL tem um adversário forte: o voto útil. Cotrim falaria dele esta sexta-feira à tarde, já depois de uma reunião com a AISET– Associação da Indústria da Península de Setúbal.
Estes últimos dias de campanha são particularmente difíceis porque são os dias em que os partidos grandes fazem o apelo ao voto útil e isso é o desafio estratégico mais difícil que temos. E eu peço aos portugueses que pensem se a decisão de voto útil que provavelmente tomaram muitas vezes nas últimas sete ou oito eleições legislativas lhes serviu bem”, apelava Cotrim, pedindo o voto.
O voto útil, entende, “trouxe o país até aqui”. E o candidato liberal perguntou aos indecisos que equacionam votar num dos dois grandes partidos “se gostam das situações políticas e económicas de países na Europa com os quais se identificam e admiram”. Caso gostem, sugeriu, o melhor é evitar o logro do voto útil: “Vejam se esses países não têm coligações de partidos que concorreram sozinhos e se os eleitores desses países terem escolhido de acordo com a sua consciência não produziu coligações que são mais capazes de resolver os problemas dos países do que as nossas têm sentido”.
O dinheiro europeu e o dream: “Que um dia fosse Portugal a ajudar outros da UE”
O candidato alertou também esta sexta-feira para os perigos de ilusões com o PRR: “É visto como uma bóia de salvação para muita coisa, é dinheiro que as pessoas acham que vem de graça da Europa. Um dia alguém vai ter de acartar com a dívida, porque uma dívida europeia não deixa de ser dos cidadãos europeus”.
“Acho que Portugal tem de se desabituar de depender permanentemente daquilo que vem de fora, de bazucas que vêm de fora, de agora é que vai ser. Enquanto o país não for capaz de gerar recursos próprios para fazer face aos seus problemas vai estar permanentemente nesta situação que é uma espécie de dependência. Não é bom”, acrescentava.
Nesta fase em que há ao dispor fundos europeus, Cotrim diz que “a ambição tem de ser usar obviamente o que estiver à nossa disposição”, mas “usá-lo tão bem com o objetivo de deixar de precisar dele”. Até porque o candidato liberal tem um sonho: “Um dia, antes de passar o testemunho a outros e às gerações seguintes, gostava que Portugal estivesse a ajudar outros países da Europa. Isso é que eu gostava mesmo: não ser um recetor líquido mas sim um contribuinte líquido do Orçamento da União Europeia. Pode ser problema da IL que é demasiado ambiciosa…”.