No primeiro comício do partido nesta campanha eleitoral, o presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, deixou um alerta para possíveis indecisos entre PSD e IL: “Só há verdadeiramente um partido em que é útil votar, esse partido é a Iniciativa Liberal. É o voto verdadeiramente útil, porque um voto na IL nunca irá dar ao Costa. Um voto dado ao Rio pode eventualmente ir dar ao Costa“.
Numa altura em que a campanha aquece — até por ser véspera do dia em que milhares de portugueses vão exercer o direito de voto antecipado —, Cotrim visa diretamente o voto útil e diz que o partido é “alternativa e não uma alternância nos mesmos partidos de sempre”. E, apesar de já se ter mostrado disponível para negociar e procurar entendimentos com o PSD, em época de caça ao voto Cotrim ensaia o discurso:
“O voto na IL é o voto mais útil: só nós trazemos o nível de exigência, de independência, determinação, coragem, frescura e energia que os partidos do sistema já perderam, ao mesmo tempo que perderam o ímpeto reformista que já tiveram”, disse o candidato.
O principal adversário está à esquerda: Costa e a geringonça
Durante o discurso, Cotrim deixou várias críticas a António Costa. Disse, desde logo, que se fosse treinador de futebol “estava prestes a ser despedido” porque Portugal “desceu de divisão” na Europa. E apontou: “No dia 30 de janeiro está na hora de mudar de Governo. Podemos estar a pouco mais de seis dias de acabar com seis anos de geringonça, que durou enquanto se tratava de reverter e destruir o que estava feito mas nunca serviu para uma ideia construtiva de país”.
Após seis anos de entendimentos do PS à esquerda, Cotrim vê “um primeiro-ministro cansado, sem chama, sem energia, que recorre à mistificação e à mentira como se viu na campanha eleitoral”. Fala de um ranking de fact-checks do Polígrafo aos debates para sustentar a tese de que Costa ” disputa o primeiro lugar com outros afamados aldrabões”, uma farpa atirada sobretudo a André Ventura. E recordou a herança socialista dos últimos 25 anos:
Em 19 dos últimos 25 anos, o PS governou. Deixou este país em que metade dos portugueses ganha menos de 900 euros brutos, em que se bateu sucessivos recordes de carga fiscal. Um milhão de portugueses continua sem médico de família e continua a morrer-se em listas de espera”, atirou.
Cotrim lamentou que os jovens continuem sem “perspetiva de futuro” em Portugal e que as pessoas não tenham hipótese de “subir na vida” no país, tendo apenas duas soluções: “Ou resignam-se ou emigram”. E visou “empresas e pessoas de mão estendida, dependentes do Estado e de fundos que aqueles que a seguir virão terão de pagar — este não é o país em que queremos viver”.
O candidato passou ainda pelo programa eleitoral do partido para falar de várias bandeiras liberais, como as duas taxas no IRS — que Cotrim diz que vão pôr “todos os portugueses a pagar menos IRS” (ainda que sejam os mais ricos que mais terão uma redução das contribuições a que estão obrigados) — e a proposta de “reformar estruturalmente o SNS”.
Alguns dos pontos mais aplaudidos do discurso foram aquando de críticas ao BE e PCP — promotores de ideias que “só produziram opressão, miséria e ditaduras inimigas das liberdades que nós, liberais, tanto prezamos”, diz Cotrim — e quando defendeu a privatização da TAP: “Comece o Estado por sair da TAP o mais depressa possível”.
O candidato aludiu ainda ao programa liberal em matéria de direitos e costumes: quer “um Portugal para todos”, independentemente “da cor de pele, da origem social, do nome de família”. E promete: “A Iniciativa Liberal estará sempre ao lado daqueles que lutam pelas liberdades e direitos humanos”.
O discurso terminou com a canção “People have the Power” (em português, “o poder é das pessoas”), de Patti Smith, e com a já famosa cadela Bala no palco. Já depois da saída de Cotrim ouve-se “I Want to Break Free” (em português, “quero libertar-me”) dos Queen.