– Não há gritos ?
– Não… é que não há ninguém aqui.

O diálogo entre dois apoiantes de Francisco Rodrigues dos Santos — da comitiva pertencente à Juventude Popular que não larga o líder do CDS nesta campanha — espelha o ambiente no Mercado Municipal da Guarda, onde a caravana centrista decidiu centrar as atenções na manhã desta segunda-feira. E onde, já depois das 11h00, pouco movimento existia, o que desincentivou os apoiantes a gritarem pelo CDS.

Sem clientes, com meia dúzia de comerciantes, na sua maioria mais velhos (eram mais os jornalistas do que os comerciantes), Francisco Rodrigues dos Santos foi de banca em banca — ora à dos enchidos, ora à das frutas —, distribuir “vales farmácia”. E repetiu o mesmo discurso todas as vezes, com palavras diferentes. No essencial, enunciou, o vale “paga todas as despesas nas farmácias aos idosos mais pobres para que não tenham de escolher entre comprar medicamentos 0u alimentos”.

“Dê-nos força que esta medida vai mesmo para a frente connosco”, foi pedindo. E quando acusavam os políticos de “só” fazerem “promessas” que depois não concretizam, Rodrigues dos Santos já sabia o que responder: “Esta proposta já conseguimos que fosse aprovada na Assembleia da República, mas António Costa recusou-se a implementá-la”. “Ai o malandro!”, chegaram a responder-lhe.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Acompanhado de João Mário Amaral, cabeça de lista do CDS pela Guarda, foi ouvindo lamentos de comerciantes quanto ao baixo movimento. “Veemm o que temos aqui? Este panorama é quase todos os dias assim”, disse-lhe uma. Outra perguntou-lhe: “Vai-nos ajudar aqui no nosso comércio? Precisamos que isto melhore”. Rodrigues dos Santos atirou: “Claro que ajudo. Querida, até temos propostas para reduzir impostos sobre os pequenos empresários, está a ver? Para reduzir a carga fiscal na fatura da eletricidade e nos combustíveis”.  As queixas estenderam-se às portagens que têm de pagar entre Guarda e Lisboa.

“O PSD  foi mais colaboração do que oposição”

Aos jornalistas, Francisco Rodrigues dos Santos voltou a criticar o que diz ser “o elefante na sala destas legislativas”: a possibilidade de um “bloco central de interesses” em Portugal. Questionado sobre as declarações de António Costa, que admite negociar com o PSD, o líder do CDS diz que não ficou surpreendido, voltando a defender que não só “os votos do PSD podem vir parar ao bolso de António Costa”, como os “votos no PS podem servir para entendimentos no bloco central”.

Rodrigues dos Santos não acha que o secretário-geral do PS esteja a mudar de discurso, numa altura em que as sondagens ora mostram uma ultrapassagem social-democrata ora uma vitória por um fio dos socialistas. “Acho que sempre esteve implícito na aproximação que houve ao longo desta legislatura, convergindo em matérias que muito penalizaram a vida democrática do país, com a abolição dos debates quinzenais, arranjinhos para as CCDR. O PSD foi mais colaboração do que oposição, o PS abriu sempre possibilidade de, caso descartasse os seus companheiros de extrema esquerda, vir a entender-se com o PSD.” O bloco central, argumenta, seria um “perigo para o país”, com “ausência de reformas, jogos de bastidores, jogos de influência, de poder”.

O líder do CDS voltou ainda a frisar que não fará acordos parlamentares com o Chega, embora espere que o partido de André Ventura viabilize um governo PSD/CDS (apesar de as sondagens apontarem para mais votos em Ventura). “Este entendimento  que espero que venha a celebrar-se entre PSD e CDS  levaria à apresentação de um programa de governo na AR, conto que todos os partidos possam viabilizar essa solução alternativa”, defendeu, aos jornalistas, na Guarda, depois de questionado sobre se aceitaria apoio do Chega no pós-eleições.

Líder do CDS não quer participar no novo reality show “Quem quer casar com António Costa?”

Rodrigues dos Santos foi ainda questionado sobre se Costa terá mudado o discurso ao admitir aproximações ao PSD, numa altura em que a maioria absoluta parece cada vez mais “inalcançável”. “É inalcançável, só na cabeça de António Costa” é que  o argumento da maioria absoluta “faria sentido”, considera o líder centrista.

António Costa mostrou esta segunda-feira, em entrevista à Renascença, disponibilidade para dialogar com todos os partidos menos o Chega. Mas o CDS não está disponível para essas conversas. “Acho que as televisões podiam criar um programa reality show que é ‘Quem quer casar com António Costa?’. Ele era o grande protagonista, sentava todos os potenciais interessados em fazer alianças consigo e depois as pessoas  dizem ou não se querem entender-se com António Costa. A mim não me convidem para esse programa porque não me vou entender com António Costa“.