Mais uma semana, mais um debate na Câmara dos Comuns marcado pelo escândalo “Partygate”, num dia em que podem ser conhecidas as conclusões do inquérito interno à série de festas em Downing Street durante o confinamento.
O líder da oposição, Keir Starmer, voltou a aproveitar o debate semanal para confrontar o primeiro-ministro com as recentes notícias que dão conta de que a relatora, Sue Gray, passou parte das suas conclusões à polícia britânica, que abriu um inquérito. “Se não entende o significado do que aconteceu ontem, desespero mesmo”, afirmou o líder dos trabalhistas. “O primeiro-ministro não compreende mesmo os danos que o seu comportamento está a causar ao país?”
Boris Johnson respondeu à provocação sublinhando que não comenta uma investigação em curso e acusando Starmer de estar a ignorar aquela que é “a situação mais importante” que o país enfrenta neste momento: a situação na fronteira da Ucrânia. “E nisso o Reino Unido está a unir o Ocidente para trabalhar num pacote de sanções fortes”.
Questionado pelo líder da oposição sobre se, quando receber o relatório, o divulgará na íntegra, Boris Johnson limitou-se a responder que “quando o receber vou fazer exatamente o que disse” — aquilo que o primeiro-ministro garantiu é que o relatório seria divulgado, mas nunca especificou se seria na íntegra ou não.
O debate foi ainda marcado por um momento tenso. Pegando numa declaração anterior de Boris Johnson, que disse que Keir Starmer não tinha fibra de político e era apenas um advogado, o deputado trabalhista Lloyd Russell-Moyle afirmou que preferia ser liderado “por um advogado do que por um mentiroso” — o que provocou uma reação acesa dos deputados conservadores. O presidente da Câmara, Lindsay Hoyle, pediu ao deputado que retirasse essa afirmação, algo a que o trabalhista acedeu.
Relatório publicado em breve
O relatório do inquérito interno às festas que se realizaram em Downing Street durante o confinamento contra a Covid-19 deverá ser publicado ainda esta quarta-feira ou, possivelmente, no dia seguinte. A divulgação das conclusões da funcionária Sue Gray, que liderou o inquérito, podem determinar a abertura de uma moção de censura interna ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que vai ao debate semanal da Câmara dos Comuns antes de ser conhecido o conteúdo do relatório.
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Apesar de ainda não serem conhecidas as conclusões do relatório, já é claro por aquilo que foi divulgado pela imprensa britânica que o resultado não é favorável para o primeiro-ministro. Esta quarta-feira, o The Times avança com a possibilidade de que Boris Johnson venha a ser interrogado pela polícia, já que Sue Gray passou informação sobre as suas conclusões à Scotland Yard — que considerou haver matéria suficiente para suspeitar de violações “sérias e flagrantes” às regras de confinamento impostas à altura.
A discussão sobre o timing da divulgação do relatório é também ilustrativa do frenesim que se vive dentro do Número 10 de Downing Street por estes dias. Segundo a Sky News, o governo avançou inicialmente que o relatório seria tornado público esta quarta-feira, imediatamente após o debate semanal na Câmara dos Comuns (que ocorre todas as quartas-feiras às 12h). Depois foi dito que seria publicado às 15h e, por fim, que poderia ser divulgado apenas no dia seguinte.
Ainda houve a possibilidade de o relatório ser entregue aos deputados imediatamente antes do debate, mas o presidente da Câmara, Lindsay Hoyle, opôs-se a essa medida, por insistir que os deputados deviam ter tempo para analisar o relatório antes de colocar perguntas ao primeiro-ministro.
Isso significa que as conclusões de Sue Gray ainda não serão tema do debate desta quarta-feira, mas marcarão certamente a agenda política britânica dos próximos dias. Vários deputados do Partido Conservador têm mantido aberta a possibilidade de enviarem cartas para o Comité 1922, que determina a abertura de um processo de caso sejam atingidas as 54 cartas com esse pedido.
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