Roberto Saviano, o autor que se infiltrou na máfia italiana e que tem proteção policial por isso desde 2006, não se arrepende de ter chamado “sacanas” aos líderes dos partidos de extrema-direita Liga e Irmãos de Itália, Matteo Salvini e Giorgia Meloni — declarações que lhe valeram um processo por difamação, que começará a ser julgado em novembro deste ano.

As acusações de Saviano surgiram na sequência de afirmações de Salvini e Meloni relacionadas com a crise de migrantes no Mediterrâneo. À altura, o ministério da Administração Interna italiano, liderado por Salvini, decidiu impor multas às ONG que salvassem migrantes em risco de naufrágio. Perante as declarações de Meloni de que os barcos das ONG deviam “ser afundados”, Saviano reagiu da seguinte forma num programa de televisão: “Quero dizer a Meloni e a Salvani: seus sacanas, como conseguem?”

Agora, em declarações ao The Guardian, Saviano garante não estar arrependido do que disse: “A minha raiva não foi calculada. O mais provável é que eu perca leitores, porque as pessoas vão achar-me polémico, mas não consigo evitar: uma pessoa que ache que aqueles barcos não salvam vidas não merece respeito. As palavras importam”, disse o autor.

Giorgia Meloni decidiu processar Saviano por difamação e um tribunal de Roma considerou haver matéria para avançar para julgamento. Segundo o La Stampa, a primeira sessão terá lugar a 15 de novembro.

Saviano mantém agora o que disse, apontando o ambiente anti-migrantes que se vivia em Itália à altura como inaceitável. “Os procuradores começaram a investigar as ONG e a arrestar-lhes os barcos. Para mim, tudo isto parecia absurdo”, afirmou o escritor, apontando o dedo à ação de Salvini como ministro.

O autor — que vive com proteção policial há 15 anos por causa das revelações sobre a máfia feitas no livro Gomorra (ed. Caderno) — garante que não está preocupado com uma possível condenação em tribunal e diz não estar arrependido: “Se for condenado, responderei pelas minhas palavras, mas não me arrependo de ter perdido a calma, e talvez até leitores, por ter defendido os que não têm voz”.

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