Francisco Rodrigues dos Santos queria, Rui Rio hesitou e o partido chumbou-lhe as pretensões. O CDS desapareceu do mapa eleitoral, o PSD acabou vergado pela maioria absoluta de António Costa. Rodrigues dos Santos demitiu-se, Rio para lá caminha. Uma eventual coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS poderia ter evitado a maioria de Costa e, porventura, o desfecho destes dois líderes partidários.

Olhando para o mapa eleitoral, é possível chegar a essa conclusão, ainda que o exercício seja sempre teórico — ninguém pode garantir que o comportamento dos eleitores seria mesmo com ou sem coligação no boletim de voto. Ainda assim, no Largo do Caldas, durante a noite eleitoral, no ciclo mais próximo de Rodrigues dos Santos lamentava-se isso mesmo: com coligação, o CDS teria sobrevivido para contar a história.

Se na Madeira e nos Açores a questão de uma possível coligação não se coloca nas contas porque PSD, CDS e PPM apresentaram-se juntos numa única lista a votos, existem três casos de “matemática pura” que iriam tirar deputados ao PS (um por distrito) e um quarto onde só mesmo recorrendo ao método de Hondt se consegue chegar a essas contas. Nem sempre é assim e, no Porto, seria o Chega o “prejudicado”.

  • Bragança. Num distrito com apenas três deputados eleitos, o PS ganhou ao PSD por apenas 15 votos de diferença num universo de 65.742 votantes. Tendo em conta que o CDS conseguiu 1.368 votos, uma possível coligação inverteria o resultado, com apenas um deputado para o PS e não dois;
  • Vila Real. Sendo um distrito que elegia cinco e não três deputados, é um exemplo muito semelhante ao que se passou em Bragança: o PS teve 43.489 votos e ganhou com uma diferença de 1.354 entre um total de 105.319 votantes mas uma coligação iria acrescentar 1.667 votos do CDS aos 42.135 do PSD. Ou seja, em vez da divisão 3-2 no número de deputados eleitos, os socialistas ficariam apenas com dois;
  • Leiria. É o terceiro caso em que a votação em coligação iria impedir a vitória do PS, com a nuance de ser um distrito onde uma terceira força política, neste caso o Chega, também conseguiu eleger. Assim, o PS ficaria com 84.253 votos entre os 235.781 votantes mas PSD (81.778) e CDS (4.834) passariam a contar com 86.612, invertendo o 5-4-1 em deputados para apenas quatro dos socialistas e cinco da coligação PSD+CDS, além do Chega que manteria na mesma o deputado eleito;
  • Coimbra. Este é o único distrito onde só mesmo recorrendo ao método de Hondt era possível perceber a mudança de distribuição de deputados: o PS iria continuar a ser de longe a força mais votada com um total de 97.310 votos entre 215.122 votantes mas uma coligação entre PSD (62.668) e CDS (3.245) seria suficiente, por uma margem reduzida, para que o nono eleito deixasse de ir para os socialistas, que venceriam com uma diferença de 5-4 e não de 6-3 como veio a acontecer.

A aliança chegou mesmo a estar em cima da mesa. Rui Rio via-a como vantajosa e tentou convencer o partido das vantagens da solução. A 16 de novembro, na reunião da Comissão Política Nacional do PSD, o líder social-democrata apresentou-se na reunião defendendo, entre outras coisas, que uma pré-coligação eleitoral com CDS salvaria o partido liderado por Francisco Rodrigues dos Santos — o que, em última análise, seria bom para os equilíbrios políticos à direita — e seria útil às ambições eleitorais do PSD.

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Os argumentos de Rio acabaram por não colher a simpatia de grande parte dos dirigentes sociais-democratas. Houve, aliás, quem considerasse que seria apenas “caridade” fazer uma coligação pré-eleitoral com o CDS, um gesto de “misericórdia” para com um partido em profunda crise e que transformaria o CDS n’Os Verdes do PSD — apesar de ter representação parlamentar, o PEV nunca se apresentou a votos sozinho e faz parte da coligação com o PCP.

A questão não foi formalmente chumbada – não foi a votos – e Rio haveria de a recuperar um mês depois, no início de dezembro. A 7 de dezembro, proposta de coligação pré-eleitoral com o CDS (e o PPM) foi mesmo chumbada com apenas três votos a favor no órgão de direção alargada do partido.

Francisco Rodrigues dos Santos, que sempre defendeu a coligação, ainda tentou encontrar uma alternativa, criando uma coligação pré-eleitoral de direita. O objetivo era juntar partidos como o PPM, o MPT, a Aliança e Nós, Cidadãos numa candidatura alternativa a que daria o nome de “Aliança de Direita” – numa referência evidente à Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles. As conversações acabaram por não chegar a bom porto e o líder do CDS decidiu mesmo ir a votos sozinho.