O Citroën Ami tem quatro rodas, mas não é um automóvel, e embora seja capaz de deslocar dois adultos através da cidade e arredores, fá-lo mais devagarinho, pois está limitado a 45 km/h. Na realidade, o simpático Ami é um quadriciclo ligeiro, daqueles que podem ser conduzidos por jovens a partir de 16 anos ou por qualquer pessoa sem carta de condução, veículos que tradicionalmente são apelidados de “mata-velhos”, “papa-reformas” ou “papa-mesadas”. Tem a tripla vantagem de exibir uma estética irreverente, ser 100% eléctrico e estar à venda por um preço convidativo. Mas será uma boa opção? E para quem?

Os especialistas garantem que os veículos eléctricos são o futuro, sejam eles alimentados a bateria ou por fuel cells a hidrogénio. Mas ainda são caros, pelo menos comparativamente aos seus concorrentes com motor de combustão, o que os afasta de muitas bolsas. Sempre que se fala de eléctricos, vêm à ideia modelos como o Tesla Model S Plaid, com 1020 cv e capaz de atingir 322 km/h, mas os mais de 140 mil euros que exige em troca impedem a maioria dos fãs de assinar o cheque. É certo que as baterias estão cada vez melhores e os preços tendencialmente mais competitivos, com propostas como o Dacia Spring a apontar o caminho para modelos eléctricos baratos, a única solução para democratizar esta tecnologia. Mas a realidade é que os eléctricos ainda continuam a ser inacessíveis para muitos condutores, com o Ami a procurar colmatar esta lacuna.

Ousado, irreverente e prático

O Ami não pretende rivalizar com o Plaid, nem mesmo com o Renault Zoe ou com qualquer outro automóvel eléctrico. Mas isso não implica que não possa ser o primeiro eléctrico para muitas pessoas ou famílias, isto além de servir idosos e jovens de 16 anos, que continuarão a ser os seus clientes preferenciais. Basta que tenham a possibilidade de aceder a uma tomada a 220V para recarregar a bateria, idealmente lá em casa ou no local de trabalho, solução que leva a que este modelo, que é muito barato – há bicicletas eléctricas mais caras no mercado –, seja igualmente muito económico de utilizar.

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O trunfo mais visível reside nas suas linhas, simpáticas por um lado e desconcertantes por outro, em parte devido ao facto de usar exactamente a mesma porta – é por isso que uma abre para a frente e a outra para trás – e os mesmos painéis à frente e atrás, poupando nos moldes e nas peças. Com 2,41 m de comprimento, o Ami exibe formas para optimizar o espaço interior, ao contrário dos microcarros convencionais, como os Aixam, que pretendem assemelhar-se a carros normais, só que em ponto pequeno.

O quadriciclo da Citroën é fornecido com o tejadilho em preto e a carroçaria em plástico pintada num cinzento mate que pode ser pouco apelativo. Porém, para os clientes mais jovens, se não de idade pelo menos de espírito, a marca francesa propõe uma série de decorações para personalizar o Ami. Curiosamente, apesar de montar um motor eléctrico e uma bateria, em vez de um motor de combustão (a gasolina ou gasóleo) e respectiva transmissão, o Ami anuncia um peso de 471 kg, sensivelmente o mesmo de um Aixam a combustão.

Pouco conforto e muito espaço. Para dois

Como sempre acontece nos veículos com uma curta distância entre eixos, o Ami é algo desconfortável quando toca a digerir o tipo de irregularidades que é fácil encontrar na cidade, sejam elas tampas de esgoto mais salientes ou as inúmeras lombas limitadoras de velocidade. O pequeno quadriciclo francês alinha assim pelos seus concorrentes, os “mata-velhos” a gasolina e a gasóleo, ou até mesmo modelos como o Smart Fortwo. Em todas as restantes condições, o conforto é aceitável, apesar de os bancos serem finos e com um aspecto minimalista.

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A posição de condução é boa e indivíduos com até 1,85 m de altura não sentirão dificuldades em sentir-se à vontade a bordo. O assento do condutor regula longitudinalmente, mas não o do passageiro, posicionado mais atrás para deixar espaço para transportar mochilas, skates, compras de supermercado ou até uma mala de porão de avião. Há ainda espaço para alojar mais objectos atrás dos assentos, com o acesso a ser realizado apenas por dentro do habitáculo.

O condutor tem à sua frente um pequeno painel de instrumentos, colocado por cima do volante sem regulação, mas numa posição próxima da ideal, onde é possível ver a velocidade, nível de carga, autonomia e quilómetros percorridos. Para tudo o resto, da navegação ao Spotify, passando por qualquer outro tipo de aplicação, é necessário recorrer ao smartphone, para o qual existe um suporte junto ao volante.

Mata velhos. Novos também

A Citroën, como construtor de automóveis convencionais, promete uma segurança para o seu quadriciclo, em caso de acidente, superior ao que é habitual encontrar nesta classe de veículos, que o EuroNCAP provou não serem exemplares nesta matéria.

8,2 cv satisfazem. E com bons consumos

Quando nos sentámos ao volante do Ami, sentimos um nível de confiança e descontracção único, que só os quadriciclos ligeiros proporcionam: é que por muito que quiséssemos acelerar, seria quase impossível arriscarmo-nos a receber uma multa por exceder o limite de velocidade. Mas, ao contrário do que esperávamos, nunca sentimos que os 45 km/h de velocidade máxima, obrigatória para este tipo de veículos, eléctricos ou com motor a combustão, nos levassem a empatar o trânsito.

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O maior binário, especialmente a baixo regime, transforma o Ami num “leão” à saída dos semáforos, antes de acalmar à medida que se aproxima a velocidade máxima. O motor, colocado à frente, debita 6 kW, o equivalente a cerca de 8,2 cv. Se alinha em potência pelos outros “mata-velhos” a combustão, o Ami tem vantagens na forma como o motor entrega a “força” e pelo facto de não possuir caixa de velocidades, o que torna a aceleração mais contínua e rápida. De realçar que, ao contrário dos 21 Nm de binário dos motores a combustão (como acontece nos 480 cc diesel dos Aixam), o Ami, por ter motor eléctrico, fornece 40 Nm e a um regime inferior, o que representa uma vantagem considerável e que se sente ao volante.

Mas se este Citroën tem vantagens em relação aos concorrentes com motores a combustão, os trunfos são ainda mais valiosos no capítulo da economia. Enquanto os “papa-reformas” convencionais anunciam acima de 3 litros de consumo com motor diesel e um pouco mais se o motor for um bicilíndrico a gasolina, o que na realidade se traduz em valores acima dos 4 litros/100 km, o Ami que nos confiaram percorreu sempre entre 70 e 73 km com uma carga da bateria de iões de lítio, que pesa 60 kg e possui 5,5 kWh de capacidade. Se considerarmos esta capacidade como útil, uma vez que a Citroën não especifica se é bruta, isto significa que numa utilização urbana ou na periferia, o Ami necessitaria em condições reais de utilização de 7,86 kWh de energia para percorrer 100 km. Se recarregado em casa, à noite, em tarifa bi-horária, a centena de quilómetros implicará um custo de somente 0,70€ em electricidade, o que equivale a menos de 0,5 litros/100 km de combustível fóssil, uma vantagem impossível de igualar pelos “mata-velhos” a combustão, que contudo são os indicados para quem percorra maiores distâncias ou não tenha onde recarregar a bateria.

Afinal, este Ami eléctrico satisfaz ou não?

O Citroën Ami usufrui de vantagens inegáveis face à concorrência, apresentando também algumas desvantagens. Entre estas figuram a autonomia (75 km, WLTP), o tempo necessário para recarga (3 horas), a necessidade de acesso a uma tomada para recarregar e um aspecto menos sofisticado, que a marca compensa com o estilo mais ousado e moderno. Mas nada disto nos permite esquecer as vantagens que assegura e que certamente vão ser apreciadas por muitos, da utilização mais agradável à melhor resposta ao acelerador, custos de utilização mais reduzidos e um ar decididamente mais cool.

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Mas há outra vantagem que não convém descurar e que pode muito bem ser a mais importante do quadriciclo francês. O Ami é proposto por somente 7750€, podendo subir até aos 9110€. Isto significa que o mais barato dos Ami é 35,5% mais barato do que o mais acessível dos Aixam (o Miniauto GT é proposto por 10.499€).

É claro que o Ami não vai ser o único microcarro eléctrico, mas tudo indica que não só manterá a sua vantagem em matéria de preço, como inclusivamente a aumentará. Isto porque se o e-Aixam, a versão eléctrica que se pode descobrir no site português do construtor não avança com preços, em França é proposta por valores que oscilam entre os 13.899€ e os 18.799€. O Ami é pois uma alternativa que vale a pena considerar, para quem ainda não tem carta de condução e procura um quadriciclo ligeiro, mas também para quem quer um eléctrico barato para dar umas voltinhas, seja como segundo carro ou como meio de transporte para os mais novos.