Morreu o antigo jornalista, apresentador de televisão e empresário Artur Albarran. Tinha 69 anos.
Artur Albarran foi diagnosticado em 2011 com um mieloma múltiplo, que o obrigou a um transplante de medula óssea. Recuperado deste cancro, sofreu uma reincidência em 2019 e foi submetido a um segundo transplante de medula. Em agosto do ano passado, chegou a estar hospitalizado nos cuidados intensivos por Covid-19 no Hospital Amadora-Sintra. Voltou a ser internado em novembro, desta vez no Hospital de São Francisco Xavier, por agravamento do estado de saúde.
Artur Albarran nasceu em Moçambique, filho de um empresário da área das madeiras exóticas, e mudou-se para Portugal aos 18 anos. Começou a carreira no Rádio Clube Português e, após a Revolução dos Cravos, filiou-se no Partido Revolucionário do Proletariado. Fugiu para França quando foi acusado de participação nas Brigadas Revolucionárias.
De França mudou-se para Inglaterra, onde trabalhou na BBC. Depois de uma passagem também pelos Estados Unidos e Brasil, regressa nos anos 80 a Portugal. Foi nessa altura que fundou e tornou famoso o programa “Grande Reportagem”. Passa então a ser grande repórter da RTP, tendo sido responsável pela cobertura da Guerra do Golfo em 1991 e pelo conflito na Somália em 1992.
Após ter assumido a chefia da redação da RTP1 e RP2, torna-se diretor d’O Século Ilustrado. Depois da estação pública, Albarran passou pelos dois canais privados: primeiro em 1993, quando trocou a RTP pela TVI; e depois em 96, quando se mudou para a SIC. Apresentou programas como “A Cadeira do Poder”, “Acorrentados” e “Imagens Reais”, onde popularizou a expressão: “A tragédia, o drama, o horror”.
Entretanto, passa a gerir os negócios em Portugal de investidores norte-americanos, incluindo o antigo embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, Frank Carlucci, tornando-se presidente do Conselho de Administração da imobiliária EuroAmer.
Em 2005, após a falência daquela holding, foi detido pela Polícia Judiciária, por suspeito de branqueamento de capitais. Mas nunca foi acusado e o caso acabou arquivado após sete anos de investigação.
Casado com a chef Sandra Nobre, com quem teve uma filha, Maria, surgiram sempre várias notícias sobre o fim da relação, nunca confirmadas. Antes esteve casado com a modelo Lisa Hardy — uma alemã de origem indiana, com quem teve duas filhas —, que acusou Artur Albarran de violência doméstica.
Lisa dizia que vivia “como uma escrava”, que o empresário ameaçava tirar-lhe as filhas e que a tinha submetido a um alegado tratamento psicológico em Londres onde era medicada inadequadamente. Mas Artur Albarran negou as agressões e pediu compreensão para com Lisa Hardy porque sofria de “uma grave doença mental”.
“Um profissional ousado”. As reações à morte de Artur Albarran
A Media Capital, dona do canal de televisão TVI, manifestou o “seu profundo pesar” pela morte de Artur Albarran, recordando-o como “um profissional ousado, que construiu uma relação de grande proximidade com o público”. “Os seus programas, bem como as reportagens que fez como enviado especial à Guerra do Golfo, ficam para a história da televisão portuguesa”, lê-se numa nota da Media Capital.
O grupo de comunicação social recordou que o antigo jornalista e apresentador chegou à redação da TVI em 1993, pouco tempo depois do arranque da televisão privada em Portugal. “Em Queluz de Baixo conduziu um programa com o próprio nome e apresentou o principal jornal da estação, ao lado de Bárbara Guimarães e Sofia Carvalho. Foi um dos rostos da informação da TVI até 1996”, lembrou.
Também o diretor de informação da TVI, Nuno Santos, recordou Artur Albarran como “um fora de série”. Numa mensagem publicada no Facebook, Nuno Santos descreveu o comunicador com “um homem maior que a vida, uma personalidade invulgar e multifacetada”. “Tinha um gosto pelas pessoas que o deveria ter feito viver para sempre”, observou, indicando que “deixa imensos amigos e muito filhos que o adoravam”.
Na mesma rede social, a jornalista da RTP Fátima Campos Ferreira lembrou-o como “marcante e único”. Já o também antigo apresentador e jornalista Carlos Cruz recordou o “seu sorriso imagem da sua permanente alegria a agarrar a vida”, no Facebook. “Assim se manterá, tenho a certeza disso, no seu novo destino. Um abraço, Artur. Descansa tranquilo”, escreveu.
Também a antiga apresentadora Vera Roquette distinguiu “as suas gargalhadas fantásticas”, guardando “as melhores memórias desses momentos”. “Sofreu vários anos de doença prolongada, batalhando sempre, corajosamente. Partiu hoje. Um grande beijinho para ti, querido Artur. Que descanses finalmente em paz”, assinalou.
Por seu lado, o antigo ministro da Cultura João Soares testemunhou a sua “profunda tristeza pela notícia da morte de Artur Albarran”. “Era seu amigo, e, mesmo nos últimos tempos, vizinho. Artur Albarran foi um grande jornalista de televisão, e não só. Também um empresário inteligente e audaz”, recordou no Facebook.
Ministra da Cultura lamenta morte de uma “personalidade emblemática dos ecrãs de televisão e do jornalismo português”
Em comunicado, a ministra da Cultura lamentou “profundamente” a morte de uma “personalidade emblemática dos ecrãs de televisão e do jornalismo português”, destacando o seu trabalho como jornalista de guerra, com “um estilo muito próprio e próximo de reportagem, que o tornou um dos mais conhecidos jornalistas da época”, e no Século Ilustrado, de que foi diretor.
“Pioneiro na televisão privada, foi uma figura central da informação na TVI e, mais tarde, apresentou diversos programas de entretenimento na SIC, como ‘A Cadeira do Poder’ ou ‘Imagens Reais’, num estilo sempre único e imediatamente reconhecível, que o ajudou a desenvolver uma relação de significativa proximidade com o público português”, afirmou Graça Fonseca, esta quarta-feira.
Artigo atualizado às 12h20 de 16/2/2022 com o comunicado da ministra da Cultura