A série “Friends” foi a protagonista de um novo episódio, desta vez dirigido sob um olhar atento e um lápis azul do governo chinês.
Na primeira temporada, que voltou a estar disponível nos serviços de streaming da China, os momentos com referências sexuais entres os personagens ou qualquer referência à relação lésbica entre Cerol, ex-mulher de Ross e a sua companheira, Susan, foram eliminados.
A cena da série em que Ross conta aos pais que se separou da mulher, não é, segundo o novo guião chinês, seguida da explicação original — que Carol é lésbica e que vive com outra mulher, além de planear criar o filho do ex-casal, ainda por nascer, com a namorada. Em vez disso, como explica o New York Times, a cena passa diretamente para o ar surpreso dos pais de Ross.
Outras cenas, referentes a comentários de cariz sexual, foram substituídas. Quando durante um encontro com Monica, a personagem Paul afirma, na versão original não ser capaz de “desempenhar sexualmente”, o lápis azul do país asiático mudou a expressão para afirmar que Paul estaria “com baixa autoestima”. Já uma sugestão de Joey para uma visita a um clube de strip transformou-se numa “saída divertida”.
A série, segundo a CNN, estreou pela primeira vez nas plataformas de streamnig chinesas, Sohu e iQiyi, em 2012, sem qualquer tipo de censura, mas o acordo televisivo terminou em 2013.
Em 2016, foram emitidas novas orientações pelo governo chinês, que previam que as séries televisivas não podiam desenvolver narrativas que envolvessem relações homossexuais, relações extraconjugais, encontros de uma noite e relações amorosas que evolvessem menores de idade.
Depois do lançamento, em 2021, do episódio especial “Friends — a Reunião“, várias plataformas de stremaing da China, como Bilibili, Tencent, Youku, Sohu e iQiyi compraram os direitos da série cuja primeira temporada foi disponibilizada na passada sexta-feira, 11 de fevereiro.
O episódio especial foi também, na altura da estreia em território chinês, sujeito a diversos cortes. A aparição da banda sul-coreana de K-Pop, BTS, por exemplo, foi eliminada uma vez que, como escreve o jornal El Español, o grupo musical “contribuiu para as relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul“.
Já Justin Bieber foi retirado do especial de televisão por ter já visitado o santuário da guerra de Sasukuni, em Tóquio, referente às guerras sino-nipónicas. Lady Gaga, por seu lado, é oficialmente uma persona non-grata pelo Estado chinês desde 2016, depois de ter visitado o Dalai Lama — líder do Tibete, região que a China declara como pertencente ao seu território.
Na rede social chinesa Weibo, semelhante ao Twitter, os fãs da série têm expressado o seu descontentamento para com a censura imposta a “Friends”, com a hashtag #Friendscensurados a ter, segundo a CNN, mais de 54 milhões de visualizações na rede social na noite de sexta-feira. Na tarde de sábado, contudo, a Hashtag foi removida da rede social.
Eles não querem, acima de tudo, que as mulheres do país deles possam emancipar-se”, afirmou, segundo o New York Times, um utilizador do Weibo. “Eles não querem que elas saibam que as mulheres podem amar mulheres. Caso contrário quem ajudaria os homens a continuar com as linhagens de família?”
Outro utilizador da rede social apostou que uma das cenas mais conhecidas da série, em que Monica enumera os diversos pontos erógenos do corpo feminino, seria excluída da versão chinesa.
Aposto 100 yuan [14 euros] em como ‘Sete Sete Sete’ vai ser completamente eliminada”, afirmou.
Recentemente, o governo chinês reescreveu com lápis azul obras de grande e pequeno ecrã como o filme “Fight Club” — tendo depois voltado atrás para que se seguisse a primeira regra do filme. Também as referências de “Bohemian Rhapsody” à orientação sexual de Freddie Mercury foram retiradas do filme.