Há 50 anos, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, punha fim a 23 anos de relações congeladas e iniciava uma nova era. A 21 de fevereiro de 1972, quando desceu as escadas do Air Force One e apertou a mão do primeiro-ministro Zhou Enlai, tornou-se o primeiro líder norte-americano a visitar o território desde 1949, quando a China se tornou na República Popular da China. O motivo? Em plena Guerra Fria, existia um inimigo comum: a União Soviética. Anti-comunista ferrenho, Nixon queria afastar a China de Moscovo e precisava da ajuda de Pequim para sair do Vietname. A diplomacia preparou “a semana que mudou o mundo”, nas palavras de Nixon.
“Os céus estavam limpos. Não existia poluição em Pequim naquela altura”, recorda Charles W. Freeman, antigo secretário adjunto de Defesa para Assuntos de Segurança Internacional, ao Global Times. Reforçando que a palavra de ordem deveria ser “cooperação” e não “competição”, garante: “A principal lição do encontro Nixon-Mao é que poderíamos colocar de lado a ideologia no interesse de cooperar para fins comuns”.
Nixon acreditava que o mundo não poderia ser pacífico ou próspero se a China não tivesse um relacionamento construtivo com os Estados Unidos e fosse abandonada da ordem do pós-guerra”.
O anúncio do encontro foi feito com bastante antecedência: a 15 de julho de 1971. Na declaração transmitida em simultâneo em ambos os países, Nixon falou na “convicção profunda” de que todos iriam ganhar com uma “redução das tensões” e com a procura “da paz profunda e duradoura”.
Durante oito dias, as televisões e jornais preencheram-se de imagens históricas, desde o encontro com o Presidente e revolucionário comunista Mao Zedong até à visita à Muralha da China. Naquele aperto de mão, os líderes com convicções políticas marcadamente antagónicas “eram ambos muito realistas. Eles tinham cartas concretas que precisavam de jogar”, explica Xu Guoqi, professor de História na Universidade de Hong Kong, à CNN. Para os chineses, esse momento rompeu com anos de propaganda anti-americana, ao aparecer na primeira página do Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês.
Já a primeira-dama Pat Nixon foi ao jardim zoológico ver os pandas, que acabariam depois por ser emprestados aos EUA: o início da chamada “diplomacia dos pandas” que dura até hoje (apesar de o Congresso norte-americano querer travar o empréstimo destes animais).
O jornalista norte-americano Dan Rather, que acompanhou a delegação presidencial, admitiu anos mais tarde que viajar para a China era como “deixar a Terra e mergulhar profundamente no cosmos de algum planeta distante“, num documentário citado pelo mesmo jornal.
Só que esta passagem de meio século assinala-se com as relações entre os dois países em baixo e sem nenhuma indicação de comemorações reservadas — mesmo assim, qualquer celebração oficial estará muito longe do 30º aniversário, quando George W. Bush visitou Pequim. Entre os motivos que contribuíram para este afastamento, está a guerra comercial e as declarações polémicas ainda na presidência de Donald Trump e pela consideração, da parte de Joe Biden, de que a China é o maior desafio à liderança global dos EUA no século XXI, o nacionalismo de Xi Jinping, que se prepara este ano para ser eleito para um terceiro mandato.
Há ainda a questão de Taiwan, os ataques à democracia em Hong Kong ou as acusações de genocídio contra os uigures. Um dos reflexos mais recentes das tensões foi o boicote diplomático dos EUA aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. “Eu diria que, francamente, o primeiro passo precisa de ser dado pelos Estados Unidos” para quebrar o gelo das relações bilaterais, considera Freeman.
“Se conseguirmos encontrar um terreno comum onde possamos construir a ponte entre nós e um novo mundo, as gerações nos próximos anos olharão para trás e agradecer-nos-ão por este encontro que realizamos na passada semana”, sublinhou Nixon, sem saber o que o futuro reservava, no brinde final, durante um banquete no Jinjiang Hotel, em Xangai.