A seleção de futebol feminino dos Estados Unidos e a Federação norte-americana de futebol chegaram finalmente a um acordo relativamente à igualdade salarial em relação à equipa masculina. Seis anos depois do início da batalha judicial, a US Soccer aceitou pagar cerca de 24 milhões de dólares à seleção feminina — o mesmo que paga à seleção masculina.
22 dos 24 milhões serão divididos pelas jogadoras, sendo que os dois milhões que sobram serão alocados a um fundo que reverte para o pós-carreira das atletas e para associações que promovem e desenvolvem o desporto feminino. A quantia é um terço daquilo que as jogadoras exigiam no processo judicial, que também envolvia um pagamento por danos morais, e é uma vitória pessoal de Cindy Parlow Cone, uma antiga atleta que chegou à liderança da US Soccer em março de 2020 e na sequência da demissão do luso-descendente Carlos Cordeiro.
“Este é apenas um passo no caminho da reconstrução da nossa relação com a seleção feminina. Acho que é um enorme feito e estou entusiasmada com o futuro para trabalhar em conjunto com elas. Agora, podemos concentrar-nos noutras coisas, como no desenvolvimento do jogo a todos os níveis e o aumento de oportunidades para as raparigas e as mulheres”, referiu Parlow Cone, que foi internacional norte-americana em mais de 150 ocasiões.
O processo judicial agravou-se em março de 2019, a três meses do Campeonato do Mundo, quando as jogadoras da seleção processaram a US Soccer devido a queixas de discriminação de género. A tomada de posição das atletas surgiu como o culminar de uma luta sobre igualdade salarial e condições laborais travada entre as duas partes há muito tempo e no processo a Federação — o organismo que regula todo o futebol, masculino e feminino, nos Estados Unidos — é acusada de ter, durante anos, aquilo a que as jogadoras chamavam “discriminação de género institucionalizada”. As queixas das jogadoras não diziam respeito somente aos salários mas também ao facto de a federação norte-americana controlar onde as jogadoras jogavam e com que frequência, a forma como treinavam, os tratamentos médicos que recebiam e até a maneira como viajavam até aos locais dos jogos.
5 jogadoras acusam Federação de Futebol norte-americana de discriminação salarial
Os pontos referidos no processo tornado público há dois anos incluíam alguns dos problemas descritos por cinco jogadoras titulares da seleção — Alex Morgan, Hope Solo, Carli Lloyd, Megan Rapinoe e Becky Sauerbrunn — numa queixa feita à Comissão de Igualdade de Oportunidade Laboral dos Estados Unidos em 2016. A ausência de uma resolução, de qualquer ação governamental ou atitude por parte da Federação após essa primeira medida levou depois um conjunto ainda maior de atletas a apresentar então a ação judicial.
O processo representava todas as jogadores que foram à seleção dos Estados Unidos desde fevereiro de 2015 e exigia então o pagamento de retroativos e danos. A ação judicial foi o último capítulo de uma luta que durou vários anos (primeiro de forma interna e privada, depois de forma pública) e que teve como pontos fulcrais a compensação salarial, o apoio às atletas e as condições laborais enquanto as jogadoras representam os Estados Unidos: o grupo que levou o caso para os tribunais defendia que lhe era exigido um número superior de jogos e vitórias do que aquele que é pedido à seleção masculina e que a recompensa monetária era significativamente inferior.
Um Mundial que não tem a melhor do mundo e é o mais importante de sempre. Mas porquê?
Em março de 2020, Carlos Cordeiro mostrou-se “surpreendido” com a ação judicial interposta pelas jogadoras e garantiu que estava determinado a manter várias reuniões com as atletas para resolver a situação. “A Federação acredita que todas as atletas merecem um salário justo e igualitário. Esforçamo-nos para manter este valor fulcral em todos os momentos. Já tive uma discussão aberta, cordial e profissional com algumas jogadoras para entender as suas preocupações e vamos continuar a trabalhar juntos para resolver este problema”, explicou aquele que era, na altura, o presidente da US Soccer.
“Para a nossa geração, saber que vamos deixar o jogo num lugar exponencialmente melhor do que aquele em que o encontrámos, significa tudo. É só isso que importa. Até porque, para ser honesta, não existe justiça em nada disto se não garantirmos que não volta a acontecer”, reagiu Megan Rapinoe, uma das figuras mais importantes da seleção que conquistou os dois últimos Mundiais, em 2015 e 2019.