Um hat-trick em 2016 para o Campeonato, um hat-trick em 2017 nas meias da Liga dos Campeões, a saída para Turim em 2018. Quando Cristiano Ronaldo cortou com quase uma década de Real e se mudou para a Juventus, os adeptos do Atl. Madrid deveriam estar sobretudo aliviados por verem um carrasco mais longe. Longe mas não tanto. Nos oitavos da Champions de 2018/19, os bianconeri cruzaram logo com a formação de Diego Simeone e depois de um triunfo dos espanhóis no Wanda Metropolitano por 2-0 num jogo em que o português foi insultado do início ao fim, mais um hat-trick em Itália e passagem à fase seguinte. Como se viu depois nos encontros da fase de grupos de 2019/20, Ronaldo tem um histórico positivo frente ao Atl. Madrid mas nem sempre marca. Agora, pelo Manchester United, voltava a ter esse desafio. E curiosamente voltava a Espanha num dos momentos mais apagados da última década tal como os próprios colchoneros.

O jogo 100, um golo, uma assistência: João Félix voltou a ser feliz no regresso do Atl. Madrid às vitórias

“Quando foi o sorteio pensei no Manchester United porque é um grande clube. O Cristiano [Ronaldo] é um grande jogador, um dos melhores da história mas é um novo desafio, um novo clube e estamos concentrados no jogo. Vejo a equipa muito bem, com muito entusiasmo, porque todos sabemos o quão importante é jogar a Champions. É um jogo diferente, uma competição muito bonita que todos os jogadores querem jogar. Estamos ansiosos por este jogo, muito entusiasmados e vamos ver se conseguimos um bom resultado”, sublinhara Savic, central do Atl. Madrid. “Como já disse, Ronaldo tem experiência suficiente. Está habituado a ambientes hostis ao longo da carreira, por isso não deverá ficar muito incomodado. O que nos interessa será a performance enquanto equipa, ele não vai fazer tudo sozinho. Teremos de estar a alto nível como fizemos contra o Leeds”, acrescentara a esse propósito Ralf Rangnick, técnico do Manchester United.

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Bruno não precisa da universidade: um golo, uma assistência e mais uma lição de bola (a crónica do Leeds-Manchester United)

É certo que esse último jogo da Premier League terminou da melhor forma para os red devils, que saíram a ganhar por 2-0 ao intervalo, sofreram o empate em menos de um minuto mas foram ainda a tempo de nos 20 minutos finais ganharem o encontro e consolidarem o quarto lugar (o primeiro “possível” nesta fase), mas é visível que a equipa não está estável, cede perante o mínimo abanão e tem demasiados problemas ainda por resolver. Quase como um espelho, mesmo num contexto distinto, o Atl. Madrid estava no mesmo patamar: partindo como campeão, tem falhado na Liga, Simeone foi colocado em causa dez anos depois mas o último jogo em Pamplona com o Osasuna trouxe alguma serenidade com um triunfo assinado com um golo e uma assistência (para um grande golo de Luis Suárez) do “regressado” João Félix. E agora?

De forma inevitável, antes de um encontro que antes da repetição do sorteio a pedido do conjunto espanhol dava um cruzamento com o Bayern, Ronaldo e Simeone, por razões diferentes, surgiam como os principais destaques individuais de um encontro decidido pelo coletivo. E mesmo não tendo nunca trabalhado juntos, a relação entre ambos é de tal forma que El Cholo chegou a confidenciar no Mundial de 2018 que o português estava acima de Messi. “O Cristiano é um campeão, é um número um. Levas o Cristiano para a guerra e ele ganha a guerra por ti”, confidenciou numa conversa privada que se tornou pública. A dúvida agora seria, mesmo na pior fase da última década do avançado, travar o perigo que poderia provocar e que fez com que marcasse até hoje 25 golos em 34 encontros a contar para os oitavos da Champions (recorde).

“É uma das equipas clássicas de sempre e o Cristiano é um jogador magnífico. Viveu anos fantástico em Espanha”, referira ao El Partizado da Radio COPE Enrique Cerezo, presidente do Atl. Madrid que em 2018 “picou” CR7 a seguir à primeira mão dos oitavos da Champions e teve a resposta conhecida em Turim. “Mas o João Félix também é um grande jogador. Claro que às vezes as coisas não saem como ele quer mas batem muito nele. Ele sai e já lhe estão a bater. Em todo o lado, a qualquer hora e a qualquer momento”, frisara na mesma entrevista, defendendo a sua “joia da coroa” portuguesa que está pelo terceiro ano no clube.

Nem eram necessárias as palavras para defender o avançado. Aliás, bastaram menos de dez minutos para a própria realidade ficar contada por si só: depois de uma primeira iniciativa em que conseguiu ganhar espaço mas rematou por cima (5′), o português inaugurou o marcador com um fantástico desvio de cabeça após cruzamento de Renan Lodi que bateu ainda no poste antes de entrar na baliza do “regressado” David de Gea (7′). O Atl. Madrid estava na frente, o Manchester United nem assim reagiu e foi preciso Ronaldo tentar um remate de muito longe ao lado para surgir um lance de registo no ataque contra um conjunto espanhol que continua a fazer a diferença com o envolvimento dos laterais com Correa e João Félix como numa jogada em que Renan Lodi cruzou tendo na esquerda e Vrsaljko desviou no lado contrário ao poste (44′).

Esperava-se mais dos ingleses, continuaram a ser os colchoneros a atacar. A ter aproximações perigosas, a criar oportunidades, a impedir que o Manchester United saísse com qualidade do meio-campo para a frente perante um Ronaldo que já tinha saído a barafustar com a falta de jogo. No entanto, e na primeira vez que Bruno Fernandes conseguiu receber a bola no espaço entre linhas nas costas dos médios, fez a diferença: arrancou, avançou com bola, assistiu Elanga no momento certo e viu o sueco rematar forte para o empate (80′). Sem que tivesse feito muito por isso, o conjunto de Rangnick conseguia um resultado que nada tinha a ver com o que passava em campo. E ainda foi bafejada pela sorte de mais uma bola nos postes, desta vez do regressado Griezmann, que impediu o Atl. Madrid de materializar o ascendente e abriu a esperança de Ronaldo poder ainda sonhar com algo que já não consegue sozinho: chegar à final da Champions.