Continuam a surgir reações à invasão de larga escala das forças russas contra em território ucraniano. Da esquerda à direita, os vários partidos e líderes partidários têm sido unânimes em condenar a decisão de Vladimir Putin, à exceção do PCP, o último partido a reagir aos mais recentes desenvolvimentos.

Nos últimos dias, os comunistas têm tecido duras críticas ao papel desempenhado pelos Estados Unidos, NATO e União Europeia no escalar da tensão, como atesta esta quinta-feira o editorial do jornal “Avante!”, órgão oficial do PCP, que chega mesmo a acusar estas organizações de terem promovido o “golpe de Estado de 2014” protagonizado por “grupos fascistas” que, no entender dos comunistas, terá sido determinante para o desfecho atual.

No entanto, na altura em que foi escrito este editorial, tal como o comunicado divulgado na quarta-feira, regime russo ainda não tinha posto em marcha o ataque contra a Ucrânia. Esta quinta-feira, o secretário-geral do PCP, sem especificar a que palavras se referia, disse que as declarações de Vladimir Putin refletem um “país capitalista” e “desferem um ataque à União Soviética”.

O líder insistiu, tal como já tinha acontecido no primeiro comunicado sobre o tema, que a invasão da Rússia é “inseparável de décadas de crescente tensão e de confrontação” dos EUA e da Aliança do Tratado do Atlântico Norte (NATO) contra o país liderado por Putin.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Jerónimo de Sousa expressou ainda uma “profunda preocupação do PCP pelos graves desenvolvimentos na situação no leste da Europa, envolvendo operação militares da Rússia na Ucrânia”.

No Twitter, o eurodeputado João Ferreira defendeu o partido e tentou explicar a posição do partido. “A defesa dos princípios do direito internacional e da Carta da ONU não é conveniência de circunstância, como para outros. É posicionamento de sempre”, pode ler-se.

O PCP acusou a Ucrânia de nunca ter cumprido os acordos de Minsk — os mesmos que Putin rasgou agora, com a declaração de independência sobre as duas “repúblicas populares” — e responsabilizou a Ucrânia por “constantes violações do cessar-fogo”, “sucessivas provocações” e por “uma massiva concentração de forças militares junto à linha de demarcação”, garantindo que é a Ucrânia, e não a Rússia, que ameaça “lançar uma ação militar em larga escala nessa região”.

Bloco condena regime russo, mas não quer reforço da NATO

Entretanto, e já depois de ter condenado oficialmente “a aventura militar de Putin” assim como os “posicionamentos de apoio aos EUA e à expansão da NATO”, o Bloco de Esquerda pela voz de Catarina Martins voltou a juntar-se ao coro de críticas a Putin, dizendo estar em causa “algo gravíssimo” e um ataque a um país soberano “à margem de qualquer lei internacional”.

Ainda assim, a coordenadora bloquista defendeu esta manhã que “uma escalada de guerra não vai proteger o povo ucraniano nem vai proteger a Europa”. “Não há ninguém que acredite verdadeiramente que um reforço das forças da NATO vá dissuadir seja o que for. Seria irresponsável”, argumentou.

António Costa apela à paz e garante ter “plano de evacuação preparado”

Posição diferente tiveram os socialistas. O PS condena “veementemente toda e qualquer violação do direito internacional” e apela à “via diplomática” para resolver “qualquer visão alternativa ou desentendimento”. Em comunicado, os socialistas apelaram à “retirada imediata das forças militares russas da Ucrânia”.

“O respeito pelo direito internacional deve ser a bitola quanto ao reconhecimento de novos países pelo que solicita à Rússia que reverta seu reconhecimento unilateral das regiões de Donetsk e Lugansk da Ucrânia”, referiu o partido em comunicado, realçando que “o caminho para o futuro pacífico e próspero” da região passa pelo “quadro do direito internacional, dos acordos internacionais anteriormente estabelecidos, a retoma imediata do caminho da diplomacia e das resoluções pacíficas”.

O PS enviou uma palavra de solidariedade para o povo ucraniano e em particular à comunidade ucraniana em território nacional, demonstrando um apoio firme à “soberania e a integridade territorial da Ucrânia”.

No Twitter, ainda antes da reação oficial do PS, António Costa dirigiu uma palavra à comunidade ucraniana em Portugal, ao garantir que “podem contar com a solidariedade e segurança”.

“Aos portugueses e luso-ucranianos na Ucrânia, uma mensagem de confiança: acompanhamos a comunidade e há um plano de evacuação preparado que será ativado se necessário”, escreveu o primeiro-ministro nas redes sociais, enquanto se colocou ao lado do secretário-geral da ONU, António Guterres, num “apelo claro e inequívoco ao fim das ações militares e à abertura ao diálogo diplomático”.

“Um dos dias mais tristes do pós-Guerra Fria”, diz Rio

No Twitter, Rui Rio refere-se a esta quinta-feira como “um dos dias mais tristes do pós-Guerra Fria”. O presidente do PSD considera que entre foi “oferecida a paz” à Rússia e que, ainda assim, o país “optou pela guerra”.

“A decisão de invadir a Ucrânia é ilegal, desnecessária e inaceitável. E, com o mundo a ver, é preciso deixar claro que estas ações acarretam fortes punições”, alertou o líder social-democrata, que já anteriormente tinha realçado que “a Rússia tem de ser condenada”.

Chega diz agressão da Rússia é “atentado” ao “ADN europeu”

O Chega, através de um comunicado, disse “condenar veementemente a agressão levada a cabo” e alertou para a necessidade das “mais severas condenações públicas e políticas”, bem como “duras sanções económicas”.

“A soberania de um país é um dos pilares fundamentais do ADN europeu e a invasão que está em curso é um atentado a este princípio”, escreveu o partido liderado por André Ventura, mostrando solidariedade com o povo ucraniano num “dos momentos mais difíceis da sua existência enquanto nação independente”.

Para o Chega é “importante que todos os Estados-membros da União Europeia se mantenham firmes e unidos na condenação a este ato vil que coloca em causa a estabilidade social, económica e política internacional” e, neste sentido, o partido espera que Portugal e os países da UE “saibam responder à crise humanitária que, infelizmente, poderá advir desta invasão” russa à Ucrânia.

IL considera invasão à Ucrânia um “ataque a todo o mundo livre”

A Iniciativa Liberal também se mostrou “solidária” com o povo ucraniano e descreve o ataque como “criminoso” que, vindo do “regime autocrático russo” é tido como um “ataque a todo o mundo livre”.

“Um povo na linha da frente com enorme dignidade e coragem no regresso das trevas da guerra à Europa”, escreveu o partido liderado por João Cotrim Figueiredo, que disse que “Portugal deve ajudar imediatamente os portugueses na Ucrânia e as famílias ucranianas em Portugal”.

Livre pede que Portugal esteja na “primeira linha” para acolher refugiados

O Livre referiu-se à invasão como sendo, “à luz do Direito Internacional, ilegítima, ilegal” e como uma guerra como irá “agravar brutalmente a crise que a Europa vive”.

“A Ucrânia tem as suas fronteiras internacionalmente reconhecidas e a Rússia, enquanto signatária da Carta da ONU, estava comprometida a não lançar ações agressivas, sem provocação, e a cumprir com as condições mínimas exigíveis para evitar o conflito”, recorda o partido que elegeu o deputado Rui Tavares, frisando que a UE e Portugal “tudo devem fazer perante o desastre humanitário que se adivinha”.

Perante o início do conflito armado, o Livre alertou ser “urgente preparar a ajuda a refugiados de guerra” e instou a que Portugal deve estar na “primeira linha de defesa dos Direitos Humanos, disponibilizando-se de imediato para acolher vítimas e deslocados de guerra”.

“À tentação imperial russa, a Europa deve responder com união, legalidade internacional, defesa dos Direitos Humanos e ações que mostrem que o tempo dos Impérios não é este, que este tem de ser o tempo da paz, prosperidade e segurança para todos os povos europeus”, alertou o Livre, realçando que “este não pode ser o tempo da força das armas, do gás e do petróleo”, mas sim de “aumentar massivamente o investimento em renováveis e alternativas energéticas”.

Francisco Rodrigues dos Santos, líder demissionário do CDS-PP, também reagiu nas redes sociais, começando por dizer que “nas guerras existe o dever moral de escolher um lado” e que se coloca ao lado da “nação soberana atacada e invadida pela possessão imperialista de um tirano”.

“O meu lado é, essencialmente, o único possível para um conservador: o da defesa intransigente da matriz de valores do ocidente, que é o coração político atingido por este ataque por mão militar: a liberdade, a soberania, a ordem internacional, o estado de direito e a paz”, justificou, frisando que o Governo deve “atuar em conjunto com a comunidade internacional, no sentido de sancionar a flagrante violação do direito internacional e trabalhar para que se encontre uma solução rápida e consequente para pôr cobro ao conflito”.

“Seria profundamente edificante que António Costa oferecesse, desde já, o acolhimento generoso de Portugal a todos os ucranianos que dele possam vir a precisar”, concluiu ainda o líder demissionário do CDS-PP.