O presidente da Câmara de Lisboa assegurou esta quinta-feira que vai ser resolvido “rapidamente” o diferendo com o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior sobre as filmagens durante a noite de uma produção para a plataforma Netflix.
“Vamo-nos sentar” e “resolver rapidamente” o problema, garantiu Carlos Moedas (PSD) durante a visita que fez esta quinta-feira à feira de arte contemporânea ARCOmadrid, na capital espanhola, acrescentando que tem estado diariamente em contacto com Miguel Coelho (PS) com quem tem “uma reunião marcada” para muito em breve.
Na segunda-feira, a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior manifestou-se contra a autorização de filmagens na zona durante “oito noites seguidas”, previstas para julho, por considerar que penalizam o direito ao descanso e a mobilidade dos moradores.
“Penso que os dois nos vamos sentar e encontrar uma solução para que todos possam ficar contentes nesta altura e para que as filmagens se possam realizar de maneira a não incomodar demasiado as pessoas, porque eu também não quero que as pessoas sejam incomodadas”, disse o presidente da Câmara de Lisboa.
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Carlos Moedas sublinhou que “Lisboa tem de estar aberta a estas oportunidades”, visto que na área do cinema “tem um potencial incrível que todos os que trabalham na área do cinema reconhecem”, como “a melhor luz do mundo, e a luz é o cinema”, sendo “impensável” a autarquia não aproveitar esta oportunidade.
O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior afirmou, na segunda-feira, que estão em causa “filmagens noturnas que implicam fecho de quarteirões, de ruas inteiras, alterações de tráfego, que implicam ruído, cenas de tiros, carros a bater, perseguições de motos em escadas”, que considerou ser “muito difícil de concretizar […], até pelo mau exemplo que darão às pessoas”.
Em declarações à agência Lusa, o autarca salientou que o plano de filmagens previsto, de “oito noites seguidas”, entre as 18h00 e as 08h00, vai “penalizar de uma forma muito acentuada a qualidade de vida, o direito ao sossego e ao descanso das pessoas que vivem no território“, assim como os direitos de circulação, acesso e estacionamento, em consequência da “ocupação massiva” do espaço público por parte da produção cinematográfica.
A cumprir o seu terceiro mandato consecutivo na liderança da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho disse ainda que o seu executivo “nunca dá parecer favorável” à realização de filmagens noturnas, “tirando uma ou outra situação excecional e por pouco tempo”, ainda que a autorização seja da competência da Câmara Municipal de Lisboa.
O executivo da Junta de Freguesia foi excluído do processo de autorização deste plano de filmagens noturnas apresentado pela produtora Ready to Shoot, numa produção para a Netflix, mas está disponível para encontrar uma outra solução: “Mais do que lamentar não ter sido ouvido, porque não fui ouvido, é que não haja aqui a sensibilidade para perceber que isto assim não pode ser”, acrescentou.
A expectativa de Miguel Coelho é que a Câmara de Lisboa “procure, naturalmente, sensibilizar os produtores para redimensionarem o projeto, sobretudo o período de filmagens em Santa Maria Maior”, com uma eventual distribuição por outras zonas da cidade.
Entretanto, a União das Associações de Comércio e Serviços (UACS) manifestou hoje que vê com bons olhos as filmagens da plataforma Netflix na Baixa de Lisboa, por considerar que promovem a cidade e beneficiam os comerciantes, apesar dos protestos da junta de freguesia.
A presidente da UACS, Carla Salsinha, afirmou que a posição dos comerciantes “é obviamente favorável” às iniciativas que promovam a cidade, que “só beneficiam o setor do comércio”, embora compreendam “as legítimas” preocupações do presidente da Junta da Freguesia de Santa Maria Maior.