Cerca de uma centena de profissionais de saúde do Centro Hospitalar Lisboa Central solidarizaram-se esta segunda-feira com o povo ucraniano numa manifestação simbólica no Hospital São José em que se fez um minuto de silêncio e se cantou o hino da Ucrânia.
Os profissionais de saúde, incluindo médicos e enfermeiros ucranianos, aceitaram o repto lançado pelo conselho de administração do centro hospitalar para uma manifestação de apoio ao povo ucraniano e, em particular, a todos os profissionais de saúde daquele país invadido pela Rússia.
Em poucos minutos, o largo do edifício principal do Hospital São José, em Lisboa, encheu-se de profissionais, com alguns a segurarem a bandeira da Ucrânia e outros a envergarem uma faixa em que se podia ler: “Os profissionais de saúde do CHULC estão convosco! ‘Slava Ukrain’ [frase escrita dentro de um coração]”.
Seguiram-se intervenções de médicos e médicas ucranianos e cantou-se o hino da Ucrânia, que emocionou quem estava presente na concentração e quem passava por aquele espaço.
Passavam poucos minutos das 12h30 quando se cumpriu um minuto de silêncio pelas vítimas do conflito e de apoio ao povo da Ucrânia, um ato que se repetiu nos serviços dos vários hospitais que integram o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC).
Há sete anos em Portugal, a médica Juliana Doroztiko disse à Lusa estar “chocada” com tudo o que se está a passar no seu país.
“Quando acordei na quinta-feira de manhã e vi as notícias fiquei chocada. Tenho parte da família mesmo na capital e outra parte em Donbass”, contou a médica, que disse estar sempre em contacto com a família através da internet.
Para Juliana Doroztiko, o que se está a passar parece “um pesadelo”, confessando que tem sido “complicado” gerir esta situação: “Já faço parte um bocadinho do povo de Portugal, mas o meu coração está sempre com eles”.
Também o médico Igor Pidgirnyi disse estar incrédulo com a ofensiva militar russa contra a Ucrânia, afirmando que nunca acreditou que esta situação pudesse acontecer no século XXI.
“Já sou mais português do que ucraniano, mas sou sempre ucraniano. Gosto do meu país e agora é muito difícil falar alguma coisa, porque a minha família está lá e estou sempre muito preocupado”, afirmou o médico à Lusa.
Presente na manifestação, o diretor clínico do CHULC, Pedro Soares Branco, quis mostrar a solidariedade do centro hospitalar para com os cidadãos ucranianos, nomeadamente quem está na linha da frente ou quem teve de abandonar o país.
“O mundo todo está chocado com o que está a passar, penso que mesmo uma parte importante da própria Federação Russa está chocada com o que se está a passar”, disse o médico à Lusa, sublinhando que mesmo alguns países “mais próximos” da Rússia não se identificam com o que se está a passar “e muito menos as democracias do mundo”.
“As democracias do mundo não podem pactuar com uma situação destas” idêntica à atuação do Hitler na ocupação da Checoslováquia, que conduziu à invasão da Polónia na Segunda Guerra Mundial, salientou.
Por isso, vincou Pedro Soares Branco, “não estamos disponíveis para isso e queremos manifestar-nos e dar um sentido contrário”, disse, contando que a iniciativa desta segunda-feira foi replicada em muitos hospitais do país à mesma hora.
“Estou convencido de que a adesão terá sido maciça como foi aqui“, comentou o diretor clínico.
Questionado se o centro hospitalar tem muitos profissionais de saúde ucranianos, Pedro Soares Branco disse em tom de brincadeira que não discriminam as pessoas por nacionalidade.
“Portanto, não tenho uma tecla que me permita identificar quais são os profissionais ucranianos, mas sabemos que temos. Aliás, muitos estiveram aqui presentes, médicos, enfermeiros, e são pessoas muito estimadas, que nós gostamos muito e como eu digo eles são portugueses e nós somos ucranianos”, rematou o diretor clínico do CHULC.