Pioneiro entre os parques nacionais a nível mundial, o Parque Nacional de Yellowstone completa esta terça-feira 150 anos. Com a sua criação a 1 de março de 1872, foi o então presidente do Estados Unidos da América, Ulysses S. Grant, quem assinou a lei que protegeu a imensa extensão deste território indomável: quase nove mil quilómetros quadrados ( o Algarve ou o Minho não chegam sequer aos cinco mil quilómetros quadrados) estendidos entre os estados de Wyoming (com maior expressão), Montana e uma pequena porção do Idaho.
Localizado numa longa depressão flanqueada por imponentes montanhas com uma altitude que varia entre os 2.100 e os 2.600 metros, esta relíquia natural é uma lição magistral de geologia. Há 640 mil anos, ocorreu a última grande erupção das dez que já aconteceram por 12.5 milhões de anos — foi maior que a do Monte Santa Helena, em 1980. Como consequência, formou-se uma caldeira com quase quatro mil quilómetros quadrados, cuja atividade alimenta mais de duzentos géiseres, fumarolas e milhares de fontes termais.
As pradarias, as montanhas e as florestas cobrem quase dois terços do parque. Aí, domina o frondoso pinheiro lodgepole, a palavra que poderia ser traduzida como “vara de tipi” e que relembra que esta foi a terra das nações índias, durante mais de 10 mil anos: os nativos americanos viviam, caçavam, pescavam, apanhavam plantas, extraíam obsidiana e usavam as águas termais para fins religiosos e medicinais. Na vegetação escondem-se as mais variadas formas de vida selvagem, desde ursos pardos, lobos até bisontes e alces. É um autêntico santuário de fauna: coabitam cerca de 67 espécies e até 285 tipos de aves.
Sobram palavras poéticas aos exploradores que se anteciparam à expedição de Washburn-Langford-Doane em 1870 e à que foi liderada por Ferdinand Vandeveer em 1871, que definiram as bases para a declaração de Yellowstone como área protegida. Um deles foi Jim Bridger que, ao regressar, descreveu montanhas de cristal e lagoas fumegantes. Já o topógrafo do exército J.W. Gunnison falou de solos que retumbavam como o galopar dos cavalos, de jorros que disparavam com roncos aterradores e de fontes onde a água era tão quente que permitia cozinhar, segundo a National Geographic.
Yellowstone, inscrito na lista de Património da UNESCO em 1978, não tem as melhores histórias ambientais para contar. Por exemplo, em 1925 foi caçado o último exemplar do lobo-cinzento (teve a sua reintrodução em 1995). Anos mais tarde, os incêndios de 1988 queimaram mais de um terço do Parque e a introdução de trutas não nativas no lago dizimou as espécies que já lá viviam. Atualmente, contudo, somam-se à lista novos desafios: o desenvolvimento da força de trabalho, a preservação histórica, os efeitos das alterações climáticas e o números recordes de turismo, como o próprio site revela.
No lugar onde o olhar se depara com pequenos arco-íris ondulantes e com pegadas de ursos, o olfato percebe o amargo do enxofre, o tacto sente a humidade quente da água, dispersa em finos chuviscos que não vêm das nuvens, e a audição cruza-se com uivos de lobos, o roteiro para ficar a conhecer Yellowstone é longo, e vai desde o majestoso géiser denominado Old Faithful até à magnética fonte termal Grand Prismatic.
Aliás, as maravilhas são tantas que os mais céticos insistem em vê-las com os próprios olhos (caso contrário, não acreditam que a natureza foi capaz de esculpir tal cenário).
Há um século e meio, Warren Angus Ferris, funcionário da American Fur Company, impulsionado pela curiosidade, transformou-se (sem querer) no primeiro turista do parque. No livro que escreveu depois da viagem, Life in the Rocky Mountains (1840), notou: “Perante a magnitude e o insólito que avança sobre os meus olhos, tive de exclamar, como a rainha do Sabá, que não me tinham contado nem metade“.