Para Andrea Cisternino, a decisão é definitiva: a Ucrânia está em guerra, mas o regresso a Itália (país onde nasceu) está fora de questão. A razão? “Há anos que cuido de 400 animais que salvei de maus tratos”, assumiu ao La Stampa, admitindo que “construir este refúgio exigiu muito esforço”. “Não vou embora, não abandono os meus animais”, reiterou. Descobriu o cheiro a pólvora e, por isso, não negou as atuais circunstâncias: “Vivemos com angústia, mas tentamos ser positivos”.
O italiano, um ex-fotógrafo de moda, mudou-se para a Ucrânia com a mulher Vlada Shalutko em 2009. Mais tarde, em 2012, fundou um abrigo de animais (inicialmente só para cães) a 45 minutos de Kiev. Hoje, ali coabitam além de cães, também gatos, cavalos, vacas, porcos, cabras, ovelhas, gansos e galinhas.
A mulher não está com Andrea no abrigo, de acordo com a Euro News, está sim em Kiev. “Falei com ela ao telemóvel há poucos minutos. Ela disse que saiu para fazer compras e dar um passeio”, menciona. Acrescentou que “os supermercados já estavam vazios”, porém “ela está calma”.
É “uma loucura, em 2022, uma coisa destas poder acontecer”, vincou ao jornal italiano. Só passou uma semana, porém “parecem seis meses”, corroborou em entrevista à agência de notícias, com voz cansada.
Apesar de acreditar que a guerra não assolaria o país, já estava a guardar alguns mantimentos, fruto de uma situação traumatizante datada de 2014, quando o governo italiano deu licença aos caçadores para matar cães vadios. Aí, incendiaram-lhe o abrigo.
É a partir deste refúgio, o “Italia Kj2”, que atualizou a sua situação até dia 25 de fevereiro no Facebook. No dia em que a guerra começou, a 24 de fevereiro, escreveu: “Decidi que também posso morrer aqui pelos meus animais … são 400 convidados que merecem ser protegidos a qualquer custo”.
Nessa noite, a primeira vivida sob invasão russa, deu conta que o toque de recolher começava às 22h e terminava às 19h, e que as casas das proximidades estavam com pouca luz. “Temos esperança numa noite tranquila”, lia-se na legenda que acompanha a foto, onde Andrea surge de sorriso rasgado ao lado de um porco.
No desabafo do dia seguinte, fez saber que “o céu estava vermelho”, que não conseguia dormir devido ao som dos tiros, e que viu um projétil a cair perto do abrigo. Deixou igualmente uma mensagem de revolta: “Que Deus nos ajude e amaldiçoe aqueles que quiseram começar tudo isto”.
No mesmo dia, partilhou um vídeo onde se vê um avião militar a sobrevoar a zona.
Os cibernautas têm demonstrado preocupação, perguntando como é que Andrea se sente e pedindo que dê notícias. Um deles escreveu: “Toda a nossa solidariedade, a tua dor é a nossa e esperamos que todo este absurdo cesse por respeito às vidas humanas”. Outro optou por dar palavras de força: “Aguenta firme. Cada dia que passa será um dia a menos no final”.