Ao 18.º dia de guerra, os russos lançaram um ataque aéreo muito próximo da fronteira com a Polónia, país da NATO, atingindo o Centro Internacional para a Manutenção da Paz e Segurança. O número de baixas ainda não é certo, com a Ucrânia e a Rússia a passarem dados contraditórios: russos dizem que foram mortos “180 mercenário estrangeiros”, ucranianos falam em 35 mortos, nenhum deles estrangeiro. Também se desentenderam sobre a existência de negociações a decorrer.
Este domingo, os bombardeamentos continuaram em várias cidades e mais um autarca ucraniano foi raptado pelas tropas militares russas. Um jornalista norte-americano foi morto em Irpin e os jornalistas estão agora proibidos de entrar na cidade.
Fica aqui um ponto de situação, e pode também seguir os desenvolvimentos, minuto a minuto, no liveblog do Observador.
Zelensky avisa NATO. “É uma questão de tempo até que mísseis caiam no vosso território”
O que aconteceu durante a noite?
- Tal como tem acontecido ao longo dos últimos dias de guerra, Volodymyr Zelensky voltou a falar, no final deste domingo, e abordou vários temas. Primeiro, Zelensky reiterou a necessidade de se fecharem os céus da Ucrânia, com um aviso aos países da NATO: “Se não fecharem o nosso céu, é uma questão de tempo até que os mísseis russos caiam no vosso território.” O Presidente ucraniano ainda fez questão de recordar que no ano passado avisou os líder da aliança, realçando que “se não houvesse sanções preventivas duras contra a Rússia, começaria uma guerra”. “Estávamos certos.”
- O Presidente ucraniano não esqueceu o jornalista que foi morto a tiro na Ucrânia por tropas russas e disse ter-se tratado de “um ataque deliberado dos militares russos”.
- A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) lamentou a morte do realizador e jornalista norte-americano Brent Renaud, na Ucrânia, sublinhando “o papel fundamental” dos jornalistas em cenários de guerra.
- A organização de direitos humanos russa OVD-Info revelou que foram detidas na Rússia mais de 866 pessoas, em 37 cidades do país, por estarem a participar em protestos anti-guerra. Na publicação no Twitter, a organização descreve que os militares russos que intervieram nas manifestações tinham a letra Z pintada nos capacetes.
- A Rússia pediu à China apoio militar, nomeadamente com o fornecimento de armas, para as tropas russas que estão em território ucraniano. A notícia do The New York Times cita fontes das autoridades dos EUA, que não revelou o tipo de armamento procurado pela Rússia, nem qualquer reação do país liderado por Xi Jinping — que, em plena guerra, fez questão de dizer que a Rússia é o “parceiro estratégico mais importante” de Pequim.
- Depois de Zelensky ter pedido a várias empresas que abandonem as atividades na Rússia, a Oracle veio responder para esclarecer que foi “das primeiras a cortar totalmente os negócios na Rússia em apoio ao povo ucraniano”. A empresa multinacional de tecnologia e informática norte-americana explica que “terminou todas as operações na Federação Russa”, bem como “o acesso ao suporte foi cortado e as atualizações e patches de software não estão mais disponíveis para download”.
- O Ministério da Defesa do Reino Unido informou que as forças navais russas estabeleceram um “bloqueio distante da costa ucraniana do Mar Negro, isolando efetivamente a Ucrânia do comércio marítimo internacional”. Numa nota publicada no Twitter, a Defesa britânica refere ainda que as forças navais russas “continuam a realizar ataques com mísseis contra alvos em toda a Ucrânia”.
O que aconteceu durante a tarde?
- Volodymyr Zelensky continua a apelar ao mundo ocidental para se unir à Ucrânia no combate à invasão russo e desta vez pediu mais sanções, nomeadamente à Microsoft, à Oracle e à SAP. O Presidente da Ucrânia fez um apelo no Twitter: “Parem de manter os vossos produtos na Rússia, parem a guerra.” Na mesma publicação, Zelensky alerta que, nesta altura, não há “meias decisões ou meios termos”, apenas “preto e branco, bem ou mal”.
- Durante a tarde, Zelensky foi a um hospital visitar soldados ucranianos feridos, distribuiu medalhas e tirou selfies com os doentes e profissionais de saúde.
- A tarde deste sábado fica ainda marcada por um desencontro entre altos responsáveis ucranianos e russos sobre as negociações. Primeiro, o conselheiro presidencial ucraniano, Oleksiy Arestovych, revelou à televisão nacional que as negociações com a Rússia estavam a decorrer, mas a agência russa RIA noticiava que Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, negou a existência de negociações e que havia uma reunião marcada para segunda-feira. O conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podoliak, veio esclarecer que estão a decorrer conversações “contínuas” em formato de videoconferência e que, sim, há uma reunião agendada para segunda-feira.
- Ainda assim, há ainda informações de que as autoridades dos dois países estarão mais otimistas em relação às negociações, indicando que poderão surgir resultados positivos nos próximos dias. No Twitter, Mykhailo Podolyak indicou que “nas negociações, a Rússia não fez ultimatos, mas ouviu cuidadosamente as propostas [ucranianas]”.
- Nas prioridades desta negociações estará, segundo o conselheiro presidencial ucraniano, a situação de Mariupol. Este domingo o comboio humanitário voltou a falhar, tendo o carregamento ficado a 80 km de Mariupol. Esta segunda-feira de manhã será aberto mais um corredor humanitário e a caravana “seguirá para Mariupol, onde 400 mil pessoas esperam por ajuda”.
- As contradições estenderam-se ao número de vítimas do bombardeamento que ocorreu a uma base militar. A Rússia anunciou a morte de “180 mercenários estrangeiros”. À CNN, Markiyan Lubkivsky, porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia, diz que se trata de “pura propaganda russa”, insistindo que são 35 as vítimas mortais e que não há cidadãos estrangeiros entre os mortos.
- Ainda sobre este ataque, a CNN avançou que há pelo menos quatro portugueses na base militar que foi bombardeada, com base nas declarações da irmã do condutor que transportou os portugueses para a Ucrânia e que dizia não os conseguir contactar há várias horas. Contactado pelo Observador, o Ministério da Defesa esclareceu que não há militares portugueses na Ucrânia ao serviço do Estado português e fonte do Gabinete de Emergência Consular referiu ainda que não tem “qualquer pedido de apoio ou informação” relativamente ao sucedido.
- O último balanço das Nações Unidas reporta que mais de 2,6 milhões ucranianos já saíram da Ucrânia desde que começou o ataque russo, tratando-se da “a maior onda de refugiados desde a II Guerra Mundial”. A Polónia tem sido o país mais procurado (1,6 milhões de refugiados).
- Na tarde deste domingo foi ainda noticiado que a energia elétrica na Central Nuclear de Chernobyl foi restabelecida, permitindo que os sistemas de refrigeração voltem a funcionar normalmente, sem recurso a fontes de energia secundárias. A central estava sem energia desde sexta-feira e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, tinha alertado que no prazo de 48h poderiam existir “fugas de radiação iminentes” na central nuclear que está desativada desde o acidente de 1986.
- O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, falou esta tarde por chamada telefónica com o presidente Volodymyr Zelensky e referiu que “as ações bárbaras de Putin estão a testar não apenas a Ucrânia, mas toda a humanidade”. O governante britânico elogiou ainda o esforço da população ucraniana na defesa do seu país.
- Depois da morte de um repórter em Irpin, perto de Kiev, os jornalistas estão impedidos de entrar na cidade. O presidente da câmara da cidade satélite de Kiev, Oleksandr Markushyn, revela que se trata de uma decisão para proteger os jornalistas e os soldados ucranianos.
O que aconteceu durante a tarde?
O que aconteceu durante a manhã?
- Presidente da Polónia diz que uso de armas químicas pode levar NATO a reagir. Em entrevista à BBC, questionado sobre se acredita que a Rússia possa usar armas químicas, Andrzej Duda foi claro: “Se me pergunta se Putin é capaz de usar armas químicas, eu acho que Putin pode usar qualquer coisa neste momento, especialmente quando se encontra numa situação complicada.”
Presidente da Polónia. Uso de armas químicas russas na Ucrânia pode levar NATO a reagir
- A ideia não é o confisco permanente pelo Estado britânico, mas explorar outras opções legais. Michael Gove, membro do Governo de Boris Johnson, que tem a pasta da Habitação, anunciou a intenção de usar as casas de oligarcas russos sancionados no Reino Unido para acolher refugiados ucranianos.
- Nas suas redes sociais, Zelensky afirmou que o país conseguiu retirar quase 120 mil pessoas através dos corredores humanitários. “A principal tarefa agora é Mariupol”, acrescentou num vídeo publicado no Facebook.
- A invasão da Ucrânia pelas tropas russas já provocou a fuga de cerca de 2,69 milhões de ucranianos, segundo o balanço do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). A Polónia acolheu mais de metade destas pessoas, recebendo 1,6 milhões de refugiados ucranianos.
- O exército russo terá feito ataques com bombas de fósforo branco na noite de sábado, denunciou o chefe da polícia da cidade de Popasna, a 100 quilómetros a oeste de Lugansk, no leste da Ucrânia. “Isto é o que os nazis chamavam uma ‘cebola queimada’ e é isto que os ‘russistas’ (combinação de russos com fascistas, segundo nota de redação da AFP) estão a desencadear nas nossas cidades. Sofrimento e incêndios indescritíveis”, escreveu Oleksi Bilochytsky na rede social Facebook.
- O mais recente balanço aponta para 35 mortos, número que pode vir a aumentar, e centenas de feridos. Este domingo, as forças russas atacaram o Centro Internacional para a Manutenção da Paz e Segurança, um local usado para o treino militar de forças que costumam participar em operações das Nações Unidas. As instalações ficam a 26 quilómetros da fronteira com a Polónia, país que pertence à NATO.
- Nova presidente da câmara de Melitopol (escolhida pelos russos) pede aos habitantes que acabem com resistência. Galina Danilchenko fez o apelo num vídeo para os cerca de 150 mil moradores “se ajustarem à nova realidade”, não desestabilizarem a situação atual e não participarem em atividades extremistas.
- Brent Renaud, 51 anos, jornalista premiado, foi morto a tiro quando os russos abriram fogo contra um carro na zona de Irpin. Repórter de vídeo não estava ao serviço do New York Times, esclarece o jornal norte-americano, numa mensagem que irritou os internautas. Renaud tinha uma identificação de imprensa do NYT.
- As manifestações contra a guerra na Rússia já levaram à detenção de mais de 14 mil pessoas em 112 cidades desde o começo da invasão da Ucrânia, revela a OVD Info, organização independente de defesa dos direitos humanos.
- Autarca de Dniprorudne foi sequestrado por tropas russas. Esta é a segunda vez que os invasores fazem refém um presidente de câmara ucraniano. “Os crimes de guerra estão a tornar-se sistémicos”, disse o governador de Zaporíjia, Olexandr Starukh.
- As tropas russas nomearam um novo autarca da cidade ocupada de Melitopol um dia após as autoridades ucranianas terem denunciado o rapto do presidente eleito, Ivan Fedorov. Foi escolhida uma deputada da oposição, Galina Danilchenko.
Tropas russas nomeiam nova autarca para Melitopol e sequestram presidente de Dniprorudne
- O secretário-geral da NATO alerta que a Rússia está na disposição de utilizar armas químicas para levar a bom porto a invasão da Ucrânia. Em entrevista à edição de fim de semana do jornal alemão Welt, Jens Stoltenberg defende que as “alegações absurdas” dos russos de que existiam laboratórios de armas químicas e biológicas na Ucrânia pode servir de pretexto para Moscovo dar uso ao seu arsenal.
- Sete civis ucranianos, incluindo uma criança, morreram após um bombardeamento russo de uma caravana humanitária de refugiados, anunciou o Ministério da Defesa da Ucrânia. Fugiam da aldeia de Peremoha, 20 quilómetros a nordeste de Kiev.
O que aconteceu durante a madrugada?
- Durante a madrugada, segundo a imprensa ucraniana, ouviram-se sirenes de aviso para ataques aéreos em várias cidades: Uman, Kharkiv, Kramatorsk, Sloviansk, Vinnytsia, Kiev, Poltava, Zhytomyr, Khmelnytskyi, Lviv, Odesa, Volyn, Zaporíjia, Berezivka, Izmail, Kiliya, Yuzhne, Chernomorsk, Bilyaivka, Avdiivka, e nos oblasts (municípios) de Rivne, Chernihiv, Ternopil, Dnipro, Cherkasy e Sumy.
- O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o primeiro-ministro de Israel falaram durante a noite sobre formas de resolver o conflito. A conversa entre os dois líderes durou mais de uma hora, segundo o gabinete de Naftali Bennett.
- Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, confirmou conversações por videoconferência com a França e a Alemanha e disse que a delegação russa foi chefiada pelo assistente de Putin, Vladimir Medinsky.
Porta-voz do Kremlin confirma conversações por videoconferência
- O site Vkontakte – a rede social mais popular da Rússia – bloqueou páginas de vários meios de comunicação social russos independentes — 7×7, The Village e Republic, seguindo ordens do procurador-geral da Rússia. Antes disso, também a página do Meduza, que avança a notícia, tinha sido bloqueado.
- O Roskomnadzor, o censor federal da Rússia, argumentou que a decisão de bloquear o Instagram no país é uma resposta necessária para se defender do “genocídio” e movimento anti-russo. A declaração surge depois de a Meta (dona do Facebook e do Instagram) permitir incitamentos ao ódio contra as forças russas na Ucrânia. O Instagram “ameaça a segurança das crianças e adolescentes da Rússia”, defendeu o Roskomnadzor.
- A Bolsa de Valores de Moscovo anunciou que o mercado de ações do país continuará fechado, pelo menos, até 18 de março.
Pode encontrar um resumo do que se passou durante o 17.º de guerra aqui.
Mapa da guerra. O que se sabe sobre o 17.º dia do conflito na Ucrânia