O ministro da Defesa disse ter constatado esta quarta-feira, numa reunião da NATO, uma grande unidade e determinação dos Aliados relativamente à guerra na Ucrânia, e a clara noção de que “daqui tem de resultar um fracasso estratégico da Rússia”.

Aquilo que se ouviu à volta da mesa foi uma NATO, um conjunto de Aliados extremamente unidos e extremamente determinados. E isso são muito boas notícias para a Ucrânia, são más notícias para o Kremlin. Há claramente a noção de que tem daqui de resultar um fracasso estratégico para a Rússia. Caso contrário, seria uma ameaça para a NATO e isso não será tolerado”, afirmou João Gomes Cravinho, em Bruxelas.

Em declarações prestadas no final de uma reunião de ministros da Defesa da Aliança Atlântica, Gomes Cravinho disse ter expectativa de que essa mensagem será transmitida ainda de forma mais vincada na próxima semana, quando os chefes de Estado e de Governo da NATO se reunirem em Bruxelas, em 24 de março.

“Não tenho dúvidas nenhumas de que os chefes de Estado e de Governo reunirem-se de urgência passa um sinal fortíssimo. A minha expectativa é que aquilo que eu senti esta quarta-feira à volta da mesa sobre a unidade e a determinação […], creio que essa mensagem vai ser passada de forma muito vincada na próxima semana, na cimeira, e isso demonstrará que, do nosso lado, não aceitaremos que Putin tenha uma vitória estratégica na Ucrânia, terá que ter um fracasso estratégico“, reforçou.

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Relativamente à reunião desta quarta-feira, o ministro da Defesa sublinhou a “preocupação também em relação a falsas narrativas” do Kremlin e, sobretudo, o que as mesmas podem significar.

Nós temos visto repetidamente no passado que a Rússia utiliza falsas narrativas e, portanto, quando fala de armas biológicas e químicas, isso é uma fonte de preocupação”, afirmou.

Questionado sobre qual a reação da NATO na eventualidade de a Rússia recorrer a armas biológicas, João Gomes Cravinho escusou-se a falar de “cenários hipotéticos, que podem ser perigosos e utilizados de forma incorreta, inclusive pela Rússia”.

“Aquilo que eu quero dizer é que a Rússia será responsabilizada por tudo aquilo que tem feito e vier a fazer na Ucrânia”, limitou-se a dizer.

Na mesma linha, e quando confrontado com as vozes que reclamam uma intervenção mais ativa da Aliança Atlântica, o ministro disse que “é fundamental evitar uma escalada do conflito” e considerou “fundamental manter o sangue-frio aqui na NATO, manter a abordagem prudente que tem sido seguida”.

“Nós temos de evitar que isto seja um conflito entre a Rússia e a NATO. Dito isso, a NATO não hesitará em responder se houver qualquer incursão ou ataque contra território da NATO“, disse.

No final de uma reunião durante a qual interveio, por videoconferência, o ministro da Defesa ucraniano, que “fez várias referências às suas necessidades militares imediatas”, Gomes Cravinho garantiu, por outro lado, que, “tal como tem acontecido regularmente ao longo destas últimas três semanas”, Portugal e os restantes aliados vão “olhar com atenção” para esses pedidos, para ver de que forma podem “corresponder”.

Excluído, nesta fase, está o envio de uma missão de paz, tal como defendeu na véspera o primeiro-ministro da Polónia e, esta quarta-feira, na reunião da NATO, o ministro da Defesa polaco.

“Infelizmente, não estamos ainda em condições de ter uma missão de paz na Ucrânia. Seria fundamental termos um cessar-fogo, seria essencial a Rússia aceitar parar o ataque à Ucrânia e começar o processo de retirada” das suas forças, apontou.

Por fim, João Gomes Cravinho comentou que “continua a ser muito válida uma abordagem a 360 graus” por parte da NATO, pois, apontou, “embora todas as atenções estejam concentradas atualmente a leste, devido ao ataque da Rússia contra a Ucrânia, a Rússia também está presente e é uma força muito desestabilizadora para sul, em várias partes do continente africano“, pelo que há que “ter atenção em relação a isso”, além de “outros tipos de ameaça”.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 691 mortos e mais de 1.140 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, entre as quais três milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.