Uma Estátua da Liberdade com mar até à cintura. Uma Torre Eiffel sem a imponência de outros tempos e rodeada de areia. O Arco do Triunfo debaixo de água e Chicago no meio da selva. Estas e outras imagens fazem parte da série “News From the Future” (Notícias do futuro, em português) do fotógrafo e artista digital francês, Fabien Barrau, que imagina um “mundo transformado” pela crise climática. “É claramente ficcional e eu deliberadamente puxei o cursor ‘catastrófico’ ao máximo”, confessa em resposta escrita ao Observador.
O objetivo? Acreditando no “poder de cada um”, Fabien quer agir — e incentivar outras pessoas a fazê-lo — enquanto há tempo para reverter o rumo dos acontecimentos: “Para mim é difícil continuar a fingir que nada muda e não transmitir uma mensagem de consciencialização”. Como não poderia deixar de ser, acredita no poder da fotografia:
Eu continuo convencido que uma simples imagem pode ter um grande impacto nas pessoas, especialmente nos mais jovens, para compreenderem as probabilidades das consequências da inação”.
Noutra fotografia, o artista de 45 anos recordou a frase do poeta inglês Lord Byron para vincar a “urgência de agir todos os dias”: “Quando o Coliseu cair, Roma cairá; e quando Roma cair, o mundo também”. Após a queda da civilização, a paisagem que envolve o monumento, que foi palco de combates entre gladiadores, não passará de um deserto. Nestas viagens ao futuro, o que sente quando pensa que a natureza vencerá?
Certamente o mesmo sentimento dos arqueólogos do século XIX que descobriram Pompeia, as cidades [onde viveram] os maias, os astecas e os incas, a civilização egípcia, etc. Porque é que eles [antepassados] criaram estas arquiteturas? Como é que estas populações viviam? Porque é que desapareceram?”
Fã do pós-apocalítico, salvaguarda contudo que este “não é um trabalho científico”. Trata-se, sim, de uma obra artística inspirada nos dados do IPCC (Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, organismo científico da ONU). Por exemplo, um relatório divulgado em agosto do último ano dá como quase certo que, nas melhores das hipóteses, se nada for feito, as águas do mar poderão subir em média entre 28 e 55 centímetros até 2100.
Uma das influências mais marcantes para Barrau é a do artista francês Roland Cat, que pintou duas baleias a nadar numa cidade das luzes submersa pelo mar e reduziu o Arco do Triunfo a um ornamento marinho.
“Eu refiz esta imagem com técnicas digitais modernas para pagar-lhe o tributo”, sublinha ao Observador. Do surrealismo à distopia, de romancistas a cineastas, há ainda dezenas de filmes que dão asas à sua imaginação, desde o “Planeta dos Macacos” (1968) e “Mad Max” (1979) até ao “muito bom” documentário da National Geographic, “Aftermath: Population Zero” (2008).
A maior inspiração veio, no entanto, da família: a mãe, que era fotógrafa amadora. Depois de ver uma exposição do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado em Paris nos anos 90 quis aprender fotografia com a ajuda dela. A paixão dura há 33 anos e “não há cansaço de produzir imagens fictícias” — aqui, alia as viagens que fez pelo mundo à tecnologia dos drones e aos conteúdos dos bancos de imagens. Depois é só “retocar” através de ferramentas de edição.
Noutras obras da sua autoria, o espírito ambientalista está igualmente presente. Por exemplo, numa das publicações no Instagram, rede social onde partilha o seu trabalho, o fumo que compõe o corpo de uma arara é um alerta para os incêndios florestais que devastam a Amazónia.