Muitas centrais de biomassa da União Europeia (UE), portuguesas também, estão a usar árvores abatidas nas florestas, mas dizem que só utilizam serradura e outros resíduos, denuncia um relatório divulgado esta terça-feira.

O documento acusa a indústria da biomassa de queimar troncos de árvores, mas alegar sustentabilidade e mostra fotografias supostamente dessas indústrias nas quais se veem grandes quantidades de troncos de madeira.

O relatório “Como a UE Queima Árvores em Nome das Energias Renováveis” foi publicado pela Aliança dos Defensores das Florestas (“Forest Defenders Aliance”), uma coligação internacional de organizações não governamentais ligadas ao ambiente.

A associação portuguesa Zero, que faz parte da coligação, num comunicado sobre o relatório diz que este vem demonstrar o que há muito se sabia, que “muitas centrais a biomassa para produção de eletricidade e fábricas de “pellets” na UE estão a utilizar árvores abatidas diretamente das florestas”.

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A Zero recorda que cientistas e consultores da Comissão Europeia advertiram que queimar árvores para produzir energia prejudica os objetivos climáticos da UE e a restauração dos ecossistemas.

No relatório são exibidas 40 fotografias de centrais de biomassa e “pellets” (aglomerado de resíduos de madeira normalmente para aquecimento doméstico) que supostamente usam troncos de árvores, o que não condiz que a publicidade das suas páginas na internet, pelo que, conclui-se no documento, um quarto das empresas faz afirmações enganosas, omitindo que usam troncos de árvores.

O relatório surge na altura em que os líderes da UE, incluindo o vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans, manifestam o seu alarme sobre a quantidade de árvores que estão a ser queimadas para produzir energia, e se comprometem a reformar a política de biomassa”, diz a Zero no comunicado.

A associação cita um relatório do ano passado no qual identifica a queima de madeira com uma perda para a natureza e para o clima, e avança que a queima de madeira na UE emite mais de 311 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano (o equivalente a todas as emissões de gases com efeito de estufa comunicadas por Espanha), sendo a biomassa subsidiada em cerca de 17 mil milhões de euros por ano.

A Europa tem de compreender que atualmente não consegue satisfazer a procura de biomassa para energia a partir de resíduos. Este relatório mostra como a queima de troncos é uma realidade, e como é importante que a UE deixe de contabilizar a queima insustentável de biomassa florestal para os objetivos de energia renovável”, diz o presidente da Zero, Francisco Ferreira, citado no comunicado.

Em relação apenas a Portugal a Zero lembra também um relatório que divulgou no ano passado no qual já se concluía que troncos de madeira de qualidade estão a ser queimados para produzir eletricidade ou fazer “pellets”.

E diz que o novo ministro do Ambiente e Ação Climática deve avaliar e reformular os apoios públicos às centrais de biomassa florestal, que deve haver mais informação pública sobre o setor, e que o Governo só deve permitir nas centrais o uso de biomassa florestal residual.

As centrais de biomassa produzem energia elétrica a partir da combustão de biomassa, gerada de matéria orgânica de origem animal ou vegetal.