Cavaco Silva defende que, após ter sido sucessivamente ultrapassado por vários países do leste europeu, Portugal deve ter como objetivo regressar à 15.ª posição do ranking do países da União Europeia (UE) com maior rendimento per capita. “Se este objetivo não for alcançado, tendo o país recebido da UE um montante de fundos elevadíssimo, nunca antes verificado, pode dizer-se que o poder político falhou“, escreve o ex-Presidente da República no Público.

E é precisamente isso que Cavaco Silva receia que venha a acontecer por falta de ímpeto reformista de António Costa. Tudo porque, se tomarmos “como indicador o perfil político do primeiro-ministro, com base na análise da sua atuação nos seis anos de chefia do Governo, em que sobressaiu a aversão a políticas de cariz estrutural, obter-se-ia um grau de coragem política muito baixo”, escreve Cavaco.

O também ex-primeiro-ministro entre 1985 e 1995 identifica quatro áreas fundamentais para aplicar reformas estruturais: sistema fiscal, administração pública, justiça e mercado de trabalho. Mas no programa do Governo não encontrou qualquer sinal de reformas estruturais nessas áreas.

Apesar de manifestar fortes reservas ao perfil político de António Costa — apenas lhe reconhecendo o mérito de ter resistido “às pressões da extrema-esquerda no sentido do aumento da rigidez da legislação” laboral” —, Cavaco não faz o mesmo sobre os ministros que tutela as áreas que considera fundamentais. Diz que o perfil político dos titulares da Administração Pública (Mariana Vieira da Silva), Justiça (Catarina Sarmento e Castro) e Trabalho (Ana Mendes Godinho) “é ainda desconhecido” — isto apesar de Vieira da Silva e Mendes Godinho estarem no Governo desde 2015.

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Fernando Medina, o novo titular da pasta das Finanças, é a exceção nessa avaliação de Cavaco. “Pela sua ação na Câmara Municipal de Lisboa”, o ex-Chefe de Estado aponta a Medina “um grau médio de coragem política”.

Apesar de todas estas críticas, Cavaco Silva prefere esperar para ver. Não só porque o “perfil do primeiro-ministro no passado e o próprio conteúdo do programa” são “indicadores (…) de relevância limitada”, como o “o Governo, confrontado com o empobrecimento relativo do país, pode ir além das medidas constantes do programa aprovado pelo Parlamento e o primeiro-ministro pode adotar um perfil mais favorável ao crescimento económico.”

“Daqui a seis meses” se verá, conclui Cavaco Silva.

Portugueses reconhecem “capacidade reformista” no Governo, contrapõe ministra da Presidência

A ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, respondeu a Cavaco Silva, afirmando que “capacidade reformista é algo que as pessoas reconhecem a este Governo”.

A governante declarou que os portugueses veem “capacidade reformista, essa capacidade de garantir que as pessoas vivem melhor” no Governo e tal está comprovado com a confiança que o povo deposita no Executivo e com os resultados eleitorais, numa alusão à maioria absoluta garantida pelo Partido Socialista a 30 de janeiro.

O Programa de Governo e a capacidade de adaptação aos momentos em que se vive, com “medidas específicas e de resposta rápida”, revelam que tanto o atual Governo, como os dois anteriores, “procuram olhar para a realidade do país” e “trabalhar para que o país possa crescer mais, para que as pessoas possam viver melhor, com mais igualdade”, disse ainda.