O PCP tem evitado pronunciar a palavra “invasão” no que à guerra da Ucrânia diz respeito, mas na primeira audição parlamentar do ministro das Finanças sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2022, o deputado comunista Bruno Dias não fugiu à expressão: “Nem a guerra na Ucrânia começou a 24 de fevereiro, já durava há oito anos, nem os problemas de que estamos a falar começaram com a invasão da Ucrânia em fevereiro”, afirmou.

Bruno Dias começou a sua intervenção a defender que o Orçamento apresentado (e chumbado) em outubro não respondia aos problemas colocados já na altura, “a começar pelos salários e o poder de compra dos trabalhadores”. “Talvez agora as pessoas percebam porque é que era tão importante para o PCP o aumento dos salários, dos salários da administração pública, do salário mínimo nacional, da caducidade da contratação coletiva”, disse.

O deputado argumentava que “os problemas” do país “já aí estavam e agravaram-se substancialmente de então para cá“. Foi então que mencionou a “invasão da Ucrânia” para dizer que não foi o conflito a trazer problemas que já existiam na altura do chumbo do OE. Bruno Dias referia-se ao “aumento das rendas”, que já era “uma discussão em cima da mesa”,  assim como “a questão dos preços da energia” ou “a situação do SNS”. “Se a proposta de Orçamento em outubro não respondia, esta agora apresentada responde ainda menos a estes problemas”, argumentou.

No final da semana passada, o ex-deputado do PCP, António Filipe, já tinha falado sobre a guerra na Ucrânia. Questionado sobre a palavra invasão, o dirigente comunista defendeu que é um “fait divers”. “Isso da invasão foi um fait divers. Todos nós sabemos do que estamos a falar, de uma guerra da Ucrânia. O que é um fait divers é o fetiche das palavras. Quer que eu diga que houve uma invasão? Houve [E condena essa invasão?] Claro, como foi condenado sempre. PCP sempre condenou e sempre achou que isto não devia ter acontecido”, disse, no programa Expresso da Meia-Noite, na SIC Notícias.

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Já Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, tem evitado a palavra “invasão”. Nas comemorações do 25 de abril, reconheceu que “houve uma intervenção que nunca devia ter havido” e disse mesmo que o partido condena a “intervenção da Rússia”. Já antes, em Beja, tinha dito: “Nós condenamos esse ataque (…). Nós somos contra a guerra, nós somos pela paz”, afirmou.

Mas questionado por uma jornalista sobre a “invasão”, contornou a palavra. “Houve uma operação militar que nós condenámos”. E perante a insistência da jornalista que lhe perguntou se houve uma “invasão”, atirou: “Pelo menos as imagens que temos… as imagens que temos é que há um conflito, há uma guerra. Isso é incontornável, tem de se reconhecer”.

Já sobre as origens da guerra, o líder comunista lembrou que existe “uma história desde 2014, em que há acordos estabelecidos entre a Ucrânia e a Rússia que foram rasgados”. Daí, “deu-se o conflito”.

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