O secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, esteve este sábado na Ovibeja e recusou dizer explicitamente que a Rússia invadiu a Ucrânia.

Questionado por uma jornalista sobre a “invasão”, em declarações transmitidas pela RTP, respondeu: “Houve uma operação militar que nós condenámos”. Quando a jornalista insistiu, perguntando se “não houve uma invasão”, o secretário-geral do PCP hesitou: “Pelo menos as imagens que temos… as imagens que temos é que há um conflito, há uma guerra. Isso é incontornável, tem de se reconhecer”.

Já sobre as origens da guerra, o líder comunista lembrou que existe “uma história desde 2014, em que há acordos estabelecidos entre a Ucrânia e a Rússia que foram rasgados”. Daí, “deu-se o conflito”.

“O PCP não apoia a guerra”, mas também não apoia o “xenófobo e belicista” governo ucraniano

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Já interpelado sobre como classificaria o regime de Putin — o regime do país que invadiu a vizinha Ucrânia com tropas —, depois do PCP ter dito que o Presidente ucraniano Zelensky “personifica um poder xenófobo, belicista” e “sustentado por forças de cariz neonazi”, respondeu: “É claro para o PCP que estamos perante uma Rússia capitalista, em que coexistem grupos económicos e financeiros de que o PCP se demarca”.

Vincando que a posição do PCP “é coerente e honrada”, Jerónimo de Sousa acrescentou: “Nós somos contra a guerra. Queremos a paz e não a guerra e isso não nos perdoam”.

Não é porém na defesa da paz — que todas as forças políticas e sociais defendem — que o PCP se demarca, mas sim no caminho para chegar à paz. Para o secretário-geral comunista, por exemplo, dar meios militares ao país invadido pela Rússia (a Ucrânia) para se defender da “operação especial” do Kremlin é um erro: “Em vez de falar sempre em armas, em armas, em armas, em armas, o que se deve procurar fazer é que dialoguem, procurem uma solução negociada, exerça-se a diplomacia”.

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Já questionado sobre a ausência do PCP no Parlamento aquando do discurso de Zelensky (foi o único partido a recusar estar presente, tecendo duras críticas ao regime de Kiev), Jerónimo referiu “exigir que os jovens comunistas presos recentemente, que não se sabe bem onde estão, sejam libertados” e notou que “o Partido Comunista ucraniano ainda está à espera de uma resolução do tribunal para saber se é eliminado ou não”.

Existem 11 forças políticas que o líder comunista português defende como “progressistas na sua generalidade” — contrariamente, portanto, à mais votada nas últimas eleições na Ucrânia que levaram à eleição de Zelensky como Presidente — que “com assento parlamentar, viram suspensas todas as suas atividades”. A conclusão: a “solidariedade” deve “existir em dois sentidos e não apenas num”.

Jerónimo de Sousa disse ainda que os comunistas portugueses estão “profundamente convencidos que é possível” alcançar a paz no leste da Europa e deixou uma crítica ao Papa Francisco, que cancelou uma visita a Kiev e um encontro previsto com o chefe da Igreja ortodoxa russa: “Fiquei preocupado com a decisão do Papa Francisco de achar que não tem condições para promover a paz. Acho que todos aqueles que amam a paz e são contra a guerra deveriam continuar a fazer um esforço”.

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