Depois de ter falhado a sessão solene com Volodymyr Zelensky na Assembleia da República, de ter dito que o Presidente ucraniano “personifica o poder xenófobo e belicista” e que o discurso no Parlamento foi uma “instrumentalização para o aumento da escalada da guerra”, o PCP faz uma comparação da invasão russa da Ucrânia com o caso da anexação de Goa.

António Filipe, ex-deputado do PCP, recorre à História para justificar as críticas ao armamento enviado para a Ucrânia e ao facto de França estar a fornecer armas e mísseis antitanque para as forças ucranianas, dizendo que o anúncio de Emmanuel Macron “não é louvável”. “Esta atitude faz quase lembrar a atitude de Salazar em relação à Índia, em que a Índia também era agressora e ele dizia que só há soldados portugueses, perante uma desproporção de forças manifestas, ou mortos ou gloriosos”, realçou durante o programa Expresso da Meia-Noite, na SIC Notícias.

O dirigente comunista, que perdeu o lugar no Parlamento enquanto deputado e está no gabinete parlamentar, referia-se à anexação dos territórios ultramarinos portugueses por parte da Índia, em 1961. Após uma intervenção militar, Goa, Damão e Diu passaram a ter soberania indiana. Com a afirmação, António Filipe compara a Índia à Rússia (sendo que as tropas russas estão em todo o território ucraniano e não apenas nas zonas autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk) e sugerindo, face à desproporção de forças, uma semelhança entre a defesa do Exército português na Índia e resistência dos ucranianos à invasão russa. Recorde-se que Salazar sempre se opôs à rendição dos militares portugueses ao exército indiano.

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Por outro lado, António Filipe elogiou a postura de António Guterres, secretário-geral da ONU, dizendo ser “louvável” a tentativa de falar com as duas partes e procurar a via da negociação, “ao contrário da União Europeia”, segundo o ex-deputado.

Questionado sobre a palavra invasão, que o PCP se tem recusado a usar, o dirigente comunista realça que o uso da palavra é um “fait divers“. “Isso da invasão foi um fait divers. Todos nós sabemos do que estamos a falar, de uma guerra da Ucrânia. O que é um fait divers é o fetiche das palavras. Quer que eu diga que houve uma invasão? Houve [E condena essa invasão?] Claro, como foi condenado sempre. PCP sempre condenou e sempre achou que isto não devia ter acontecido”, afirmou durante o programa.

Contudo, sublinha que o PCP se recusa a dizer que a guerra é de agora, frisando que “começou em 2014 e que houve uma clara violação por parte da Ucrânia dos acordos de Minsk, que previam um estatuto de autonomia nas autoproclamadas republicas de Donbass nunca foi levado à prática”.

“O que dizemos que outros não dizem é que guerra começou em 2014 e que houve uma clara violação por parte da Ucrânia dos acordos de Minsk, que previam um estatuto de autonomia nas autoproclamadas republicas de Donbass nunca foi levado à prática”, justificou, acrescentando que “a ideia de que há um agressor e um agredido não é tão simples como isso”.

“Há uma invasão que não devia ter havido, mas colocar isso como se houve um mau da fita… as coisas não são assim”, apontou, frisando ainda que “os portugueses que aplaudem esta posição são muitos mais do que votaram na CDU”.

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