O Megxit como “um desastre para todos”, “Harry irá querer regressar quando a rainha morrer” e Meghan não deverá voltar porque “ela não gostava de Inglaterra” são algumas das ideias sobre a família real britânica que Tina Brown lançou durante a promoção do novo livro. A autora, que descreve a monarquia britânica como “uma instituição com mais de mil anos, uma CEO com 96 anos e um septuagenário à espreita”, abordou estes e outros temas no podcast “Sway” do jornal norte-americano The New York Times em antecipação do lançamento de “The Palace Papers – Inside the House of Windsor, the Truth and the Turmoil” (editora Penguin).

O “idiota útil” de Epstein, o casal “viciado em drama” e o “avô da nação”. Há um novo livro sobre a família real britânica

Tina Brown acredita que o príncipe Harry poderá querer regressar ao Reino Unido no período pós-Isabel II, dividindo o seu tempo entre o seu país natal e a sua nova casa: “Penso que Harry irá querer regressar quando a rainha morrer para servir o seu país. E creio que encontrarão uma forma de o enquadrar. Talvez eles venham a ter um plano de deslocações. Não sei. Não vejo a Meghan a querer voltar. Ela não gostava de Inglaterra”. Tina Brown confessa alguma simpatia pela duquesa e diz que “eles foram terríveis com ela. Ela detestava aquilo. Acho que ela se sentia bastarda em relação a Inglaterra. Ela pensou, ‘não vou voltar. Não gosto daquilo'”.

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A autora descreve o Megxit como “um desastre para todos”, diz que os Sussex causaram um “caos máximo” e que “são viciados em drama”. Acrescenta que o público britânico ficou “muito muito triste” com esta situação, pelo profundo carinho que tem pelo príncipe, contudo conta que os conselheiros do palácio lhe disseram que “sempre acharam que ele partiria”. “Na verdade, eu penso que existe um buraco em forma de Harry na família agora. E o Harry amado pelos britânicos. E as pessoas adoraram a Meghan quando ela se juntou ao pacote.”

Tina Brown fala da relação entre os irmãos William e Harry e como se foi deteriorando desde que Harry saiu do exército. E também da forte relação que mantinha com Kate (por quem a autora confessa ter desenvolvido admiração), que via como uma irmã mais velha. Contudo, enquanto o irmão prosseguia com a sua vida ao lado da mulher, o príncipe mais novo começou a ficar um pouco de lado, “houve um longo período de tempo de dois ou três anos em que Harry se sentia como a Bridget Jones”. Segundo a autora, Harry começou a sentir-se muito infeliz e, eventualmente, tornou-se muito competitivo com o irmão. E então apareceu Meghan, que lhe disse “tu és uma estrela por direito próprio. Não precisas de nada disto. Podes seguir o teu próprio caminho. E foi realmente aí que a grande divisão começou entre Harry e William”.

A autora continuou a falar sobre o tema da saída dos Sussex da família real e o impacto que continua a ter: “Foi muito muito triste para toda a gente que tenha corrido mal porque eles precisam do Harry e da Meghan agora. Vê-se, a rainha está a fraquejar e está muito frágil”, e acrescenta que os Sussex são necessários para trazer um tipo de ‘poder de estrela’ e “para estarem na varanda do palácio no Jubileu”. Tina Brown toca num outro assunto sensível: “Temos de ter a família real lá em cima. Não podemos ter lá o André”.

A autora refere-se ao príncipe André, o protagonista do mais recente escândalo da família real, uma vez que enfrentou uma acusação de abuso sexual. Embora tenha chegado a um acordo com a vítima, o terceiro filho da rainha Isabel II deixou de ser membro ativo da família real, foi afastado dos atos oficiais, foram-lhe retirados os títulos e patronagens.

Tina Brown sabe bem do que fala. Tem uma longa e prestigiada carreira na comunicação social e sempre acompanhou a vida da família real. Ainda no Reino Unido foi editora da revista Tatler aos 25 anos de idade (uma revista feminina focada na alta sociedade) e depois partiu para os Estados Unidos, mais precisamente para Nova Iorque, onde revitalizou a revista Vanity Fair e a tornou na referência que hoje conhecemos. É possível saber um pouco sobre como o fez através do livro “The Vanity Fair Diaries”, a publicação dos seus diários. Depois foi editora da revista The New Yorker, fundou o jornal Daily Beast e passou pela revista Newsweek. Pelo meio investigou a família real para artigos, acompanhou de perto toda a vida da princesa Diana desde o noivado real e escreveu até uma extensa biografia “The Diana Chronicles”. O seu novo livro “The Palace Papers – Inside the House of Windsor, the Truth and the Turmoil” (editora Penguin) tem lançamento previsto para esta terça-feira, 26 de abril.

Tina Brown conta que quando a rainha celebrou o seu jubileu de ouro em 2002, o primeiro depois da morte de Diana, havia uma certa ansiedade para perceber se o povo ainda iria castigar a sua monarca pelo seu comportamento quando a ex-nora morreu. Contudo foi um grande sucesso e as pessoas acorreram às ruas aos milhões. “O mesmo aconteceu outra vez em 2012 com o Jubileu de Diamante. Cada vez que houve um casamento. Quero dizer, é sempre uma espécie de festival massivo de excitação com os membros da realeza. Por isso acho que há uma grande contra-corrente no povo britânico que se sente muito conectado com a monarquia e quer que ela sobreviva.”

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Em relação ao Jubileu de Platina, a celebração dos 70 anos de Isabel II no trono, tanto a rainha como o príncipe Carlos estão “ansiosos” que a família composta por Harry, Meghan, Archie e Lilibet esteja presente. Brown acrescenta que o Palácio de Buckingham já prometeu que os Sussex terão segurança totalmente armada nos eventos da família real em junho, incluindo a cerimónia Trooping the Colour no dia 2 desse mês, na qual costumamos ver a família real completa a varanda do Palácio de Buckingham. Este anúncio acontece na sequência do príncipe Harry dizer que não se sente seguro no Reino Unido e que também não está autorizado a ter segurança paga por si. Harry disse numa entrevista, na semana passada, que ainda não sabia se estaria presente nas comemorações do Jubileu e voltou a referir os problemas de segurança.

A jornalista e autora confessa-se muito interessada pela “saga desta família”. E explica: “Por um lado há a monarquia e todos os costumes, tradições, rituais e restrições que a definem e, por outro lado, está tudo às costas desta família”. Como alguém que seguiu de perto e com olhar crítico o enredo da realeza britânica nas últimas décadas, observa que a monarquia “nos últimos 70 anos foi mantida unida pela rainha Isabel II, que é a última pessoa que se sabe comportar nos altares britânicos e em breve deixará de estar connosco” e prevê que a partida da rainha traga “uma enorme crise de identidade” na nação, “as pessoas não saberão como ser britânicas sem a rainha”.

Houve ainda oportunidade para falar sobre a série “The Crown” da Netflix, que está a contar ao público uma história do reinado de Isabel II. A autora conta que os os membros da família real começaram por gostar da série mas agora não gostam porque a história se está a aproximar e explica: “Eles estão muito preocupados com o que se vai passar na próxima temporada, porque a última coisa de que o príncipe Carlos precisa é de outra geração que entenda o facto de que ele foi indecente com Diana, e que a tratou mal. E que ele foi infiel, e a Camilla e tudo isso. Mas ele não quer ver esta temporada sair.”

A entrevistadora termina dizendo a Tina Brown que poderia haver um canal com notícias do palácio 24 horas sete dias por semana, ao que ela responde: “Bem, eu já pensei nisso, na verdade, mas depois pensei ‘quero mesmo passar as minhas duas últimas décadas de vida nos media a contar a história da realeza?'”.