O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, criticou esta segunda-feira a primeira entrevista do ministro dos Negócios Estrangeiros russo a um media europeu, desde o início da invasão da Ucrânia, acusando a televisão italiana de ter realizado “um comício”.

“Falou-se numa entrevista, mas foi realmente um comício. Temos que nos questionar se é aceitável convidar uma pessoa que pede para ser entrevistada sem qualquer contraditório. Isso não é muito profissional”, apontou o chefe do governo italiano.

Draghi falava aos jornalistas após o Conselho de Ministros onde foi aprovado um pacote no valor de 14 mil milhões de euros para ajudar famílias e empresas face à subida dos preços em Itália.

“Em Itália, há liberdade para expressar opiniões, mesmo quando são obviamente falsas e aberrantes. O que [Sergei] Lavrov disse é aberrante. E quanto à parte em que se refere a Hitler, é realmente obsceno”, sublinhou.

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A entrevista, com a duração de cerca de 50 minutos, foi promovida por um canal de televisão do grupo Mediaset, da família do ex-primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.

Lavrov assegurou durante a entrevista que o objetivo da invasão russa é “desnazificar” a Ucrânia e, quando questionado sobre as origens judaicas do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, lembrou que o ditador nazi Adolf Hitler também as tinha.

“Isso não significa nada. Por muito tempo ouvimos o sábio povo judeu dizer que os antissemitas também são hebreus”, referiu o ministro russo.

As declarações motivaram críticas por parte da comunidade judaica, com o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Yair Lapid, a convocar o embaixador russo em Israel “para uma reunião de esclarecimento”.

Também a comunidade judaica em Roma considerou esta segunda-feira as declarações como antissemitas.

Já o diretor-geral de informação da Mediaset, Mauro Crippa, defendeu a importância da entrevista porque “é um documento que fotografa a história contemporânea”, embora tenha admitido que as declarações de Lavrov foram “delirantes”.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.