As forças russas terão violado homens e rapazes na Ucrânia, acusou Pramila Patten, a representante especial das Nações Unidas (ONU) sobre Violência Sexual em Conflitos. “Eu recebi relatórios, que ainda não foram verificados, sobre casos de violência sexual contra homens e meninos na Ucrânia”, confirmou esta terça-feira à margem de uma conferência de imprensa em Kiev, capital do país invadido.
Pramila Patten reconheceu que para as vítimas de violação do sexo masculino pode ser particularmente desafiador fazer a denúncia da situação pela qual passaram.
É difícil para as mulheres e meninas denunciarem [os crimes de violação sexual] por causa do preconceito, entre outras razões, mas muitas vezes é ainda mais difícil para os homens e meninos relatar [o que aconteceu]…temos de criar um espaço seguro para que todas as vítimas reportem casos de violência sexual”, citada pelo The Guardian.
De momento há dezenas de casos sob investigação que “representam apenas a ponta do icebergue”. Por isso, a responsável incentivou as vítimas a denunciar este crime à comunidade internacional para que os agressores sejam encontrados e responsabilizados, reforçando: “A documentação de hoje será a acusação de amanhã”.
A multiplicação de relatos de violações generalizadas, sistemáticas e “brutais” no conflito e o risco de tráfico humano foram as razões que levaram a enviada especial das Nações Unidas a viajar até a Ucrânia.
Eu não podia simplesmente continuar no meu escritório em Nova Iorque enquanto recebia relatos tão angustiantes de violência sexual. Estou aqui porque não devemos poupar esforços para garantir tolerância zero e consequências consistentes para estes crimes”.
Alertou igualmente que a violação é uma arma “barata, porque não tem custo”. E ainda: “Muito eficaz, porque não afeta apenas a vítima, afeta famílias inteiras, as próprias comunidades”. O que está a acontecer no país de Zelensky “é uma guerra biológica, é uma guerra psicológica”, reiterou.
Por seu turno, a Procuradora-Geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, revelou esta terça-feira que o seu gabinete tem vindo a recolher informações de crimes de violência sexual cometidos pelas tropas russas contra homens e mulheres de todas as idades, bem como crianças e idosos.
Para Venediktova, as forças de Moscovo utilizam este crime como uma estratégia deliberada para “assustar a sociedade civil” e “obrigar a Ucrânia a render-se”, vincando, na conferência de imprensa em Irpin, que o baixo número de relatos é resultado de algumas vítimas terem fugido do país e outras temerem denunciar a violação.
Já equipas de procuradores e investigadores têm estado no terreno a recolher provas de violência sexual e, do que ouviram das vítimas e das suas famílias, violações em grupos, assaltos à mão armada e violações cometidas à frente de crianças estão entre os testemunhos mais sombrios.
A Ucrânia tem desenvolvido esforços para identificar os soldados russos responsáveis por crimes de guerra e, de acordo com o The Guardian, um mandado de prisão foi emitido para um homem acusado de violação. Mas dúvidas levantam-se sobre se os militares russos alguma vez serão formalmente acusados, já que estão sob proteção da Rússia, que nega estar a cometer crimes de guerra.