A Hungria rejeitou nesta quarta-feira a proposta de um embargo progressivo da União Europeia (UE) ao petróleo russo nos termos propostos pela Comissão Europeia, alegando que põe em causa a segurança energética do país.
A proposta prevê a proibição gradual das importações de petróleo pelos Estados-membros até final deste ano, mas inclui um ano suplementar para Hungria e Eslováquia, dois países altamente dependentes dos hidrocarbonetos russos.
“O Governo, nesta forma atual [da proposta], não pode aprovar responsavelmente o novo pacote de sanções”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Péter Szijjártó, no Uzbequistão, onde se encontra em visita oficial, citado pela agência espanhola EFE.
Szijjártó reconheceu que a proposta prevê um ano suplementar para a Hungria eliminar as importações de petróleo russo, mas mesmo assim considerou que “não é tempo suficiente”.
O chefe da diplomacia de Budapeste reiterou que o abastecimento energético da Hungria “está atualmente estável” e que o sexto pacote de sanções da UE contra a Rússia iria “afundá-lo completamente”.
A Hungria importa da Rússia 60% do seu petróleo e 85% do seu gás.
A proposta, que foi enviada aos Estados-membros para aprovação na terça-feira à noite, terá de ser aprovada por unanimidade pelos Estados-membros, podendo eventualmente ser introduzidas alterações ao texto apresentado por Bruxelas.
Esta será a primeira vez que a Hungria não apoia um pacote de sanções contra a Rússia por ter invadido a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
Anteriormente, o Governo do ultranacionalista Viktor Orbán, considerado um aliado do líder russo, Vladimir Putin, recusou-se a entregar armas à Ucrânia e vetou a passagem pelo seu território de material de guerra para as forças ucranianas.
A proposta do sexto pacote de sanções à Rússia, a que a Lusa teve acesso, prevê que a Hungria e a Eslováquia possam continuar a comprar petróleo à Rússia até 31 de dezembro de 2023, um ano mais do que os restantes Estados-membros.
O porta-voz principal da Comissão Europeia, Eric Mamer, justificou o período suplementar devido à “situação geográfica” e “elevada dependência” do petróleo russo dos dois países.
A proposta foi apresentada, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O plano da Comissão Europeia inclui uma proibição das importações de petróleo bruto seis meses após a entrada em vigor das novas sanções, enquanto no caso do petróleo refinado o período é alargado para oito meses.
Szijjártó assegurou que a Hungria só poderia aceitar o novo pacote de sanções se o transporte de petróleo por oleoduto estivesse isento das restrições.
A guerra na Ucrânia expôs a excessiva dependência energética da UE face à Rússia, que é responsável por cerca de 45% das importações de gás europeias.
A Rússia também fornece 25% do petróleo e 45% do carvão importado pela UE.
Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, a UE e vários países, incluindo Estados Unidos e Japão, têm decretado sucessivos pacotes de sanções contra a Rússia.
Os países ocidentais também têm fornecido armamento à Ucrânia na guerra contra a Rússia, que entrou no 70.º dia.
A ONU confirmou até agora a morte de mais de 3.000 civis na guerra, que também levou mais de 5,4 milhões de pessoas a fugir da Ucrânia para outros países.