Enquanto debitava números sobre os paraquedistas ucranianos, Yuriy Galushkin fazia pausas para engolir o choro. No dia anterior à conferência de imprensa, marcada pelo então comandante interino da Força de Assalto Aéreo de Alta Mobilidade para celebrar as tropas paraquedistas da Ucrânia em agosto de 2014, uma unidade caiu numa emboscada russa em Shakhtyorsk. Dez militares morreram, onze estavam desaparecidos, 13 ficaram feridos.

Hoje nascem as Forças Aerotransportadas Ucranianas”, disse Yuriy Galushkin, refugiando de vez em quando o olhar na caneta que girava entre os polegares e os indicadores. “Haverá uma Força Aérea. Vontade”: “É hoje que os nossos rapazes obtêm a experiência de combate necessária”, continuou o militar. “Sim, perdas… Mas na espinha dorsal que se desenvolve nas batalhas, essa carne crescerá, da qual qualquer inimigo terá medo”.

Menos de oito anos mais tarde, Yuriy Galushkin, na liderança das Forças de Defesa Territoriais desde janeiro, assumia o comando da reserva militar das Forças Armadas e lutava contra a Rússia desde 24 de fevereiro, lado a lado com o Exército ucraniano. Mas menos de três meses após o início da guerra, Volodymyr Zelensky destituiu-o e substituiu o brigadeiro-general por Ihor Tantsyura, major-general. E sobre ele pouco se sabe, exceto que é um militar “experiente” que já foi chefe de gabinete das forças terrestres da Ucrânia.

Reportagem multimédia em Andriivka. Radiografia de uma aldeia sob ocupação russa durante 30 dias

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A nota do ministério da Defesa ucraniano nada diz sobre os motivos por detrás desta decisão. Diz apenas que, sob a liderança de Yuriy Galushkin, as Forças de Defesa Territoriais registaram um “crescimento explosivo”: “Principalmente em condições de combate intenso é uma grande experiência, com erros e conquistas. Há sucessos e, infelizmente, perdas“.

A mudança na cúpula militar ucraniana acontece no mesmo dia em que o Ministério da Defesa anunciou que um batalhão das Forças de Defesa Territoriais conseguiu repelir as forças russas em Kharkiv e chegar à fronteira com a Rússia. Não se sabe se o avanço ucraniano ainda foi conquistado sob o comando de Yuriy Galushkin, que está de saída, ou à conta de novas ordens de Ihor Tantsyura.

Galushkin Yuriy Alimovitch nasceu em Khorol, no oblast (região) de Poltava, em junho de 1971. Estudou na Escola Superior de Comando de Mísseis Antiaéreos daquela cidade, esteve numa operação internacional de manutenção da paz no Kosovo e licenciou-se na Academia Nacional de Defesa da Ucrânia — onde estudou Combate e Gestão de Unidades de Forças Terrestres.

No início de 2014, foi recrutado para uma operação especial conjunta antiterrorista em Donetsk e Lugansk. Nesse mesmo ano, em junho, atuou como Comandante das Tropas Aerotransportadas de Alta Mobilidade. Nesta época, este batalhão estava incorporado nas Forças Terrestres da Ucrânia. Quando o mesmo se tornou independente, Yuriy Galushkin foi nomeado vice-comandante.

Pelo meio, foi galardoado pela Presidência ucraniana “por coragem pessoal e alto profissionalismo”, “lealdade ao juramento militar” e “heroísmo” na “defesa da soberania do Estado e integridade territorial da Ucrânia”.

Em dezembro de 2019, já com Volodymyr Zelensky como Presidente da Ucrânia, o militar passou a inspetor-chefe do Ministério da Defesa da Ucrânia. Em meados do ano seguinte, desceu para inspetor-chefe adjunto. Já enquanto brigadeiro-general, em janeiro de 2022, foi nomeado comandante das Forças de Defesa Territoriais das Forças Armadas da Ucrânia. Foi desse cargo que veio a ser exonerado este domingo.