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Quase dois anos depois de ter abandonado Espanha, o rei emérito de Espanha, Juan Carlos I, volta a ver o filho, o rei Felipe VI, e a mulher, a rainha Sofia. Pelas 8h em Portugal continental (9h em Madrid), Juan Carlos já tinha apanhado o avião em Vigo, em direção a Madrid, para um reencontro muito antecipado na imprensa espanhola — e não só.
Juan Carlos passa esta segunda-feira pelo palácio da Zarzuela, onde permanecerá algumas horas na companhia de Felipe VI, a rainha Sofia e outros membros da família, antes de voltar a Abu Dhabi, onde está a viver há 21 meses, como detalha a agência Efe. “Vim aqui para normalizar tudo”, terá repetido a vários amigos ao longo do passado fim de semana o rei emérito, na sua passagem pela Galiza, adianta o El Mundo.
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Segundo a imprensa espanhola, a Casa Real classificou o encontro como “um encontro familiar de âmbito privado”, que não estará, assim, incluído na agenda oficial de Felipe VI, não se sabendo sequer a que hora começa nem os nomes de todas as pessoas que estarão presentes (os outros familiares foram referidos assim mesmo: como “outros familiares”, sem mais detalhes). Confirmada, entretanto, foi a presença da infanta Margarita, irmã mais nova de Juan Carlos, que se fez acompanhar pelo marido, Carlos Zurita, e que foram fotografados rumo a Zarzuela para o almoço em família.
É, no entanto, previsível que participem no encontro a rainha Letizia, que não tem agenda oficial para esta segunda-feira, e uma das filhas, a infanta Sofia (a irmã, princesa Leonor, estuda no Reino Unido e é lá que se encontra atualmente).
O dia fica desde logo marcado pela manifestação popular nas ruas, quer contra a visita do rei emérito quer nas demonstrações de apoio junto ao palácio. Um divisão de opiniões que se tem estendido ao Executivo espanhol. “Nestes dias de visita, o rei Juan Carlos perdeu uma oportunidade que os espanhóis esperavam de dar explicações e de pedir perdão”, apontou a porta-voz do Governo e ministra Isabel Rodríguez, numa entrevista na RNE. “Tem uma responsabilidade no mínimo ética, não apenas legal, para com o nosso país”, defendeu ainda o ministro do Consumo, Alberto Garzón, numa entrevista à TVE. Já do lado do Partido Popular, pela voz de Enrique López, a opinião é a de que “Juan Carlos não tem que dar nenhuma explicação, uma vez que a justiça falou e o que aqueles que lhe pedem explicações têm que fazer é respeitar o que a justiça disse”.
O rei emérito, que chegou a Espanha na quinta-feira e tem feito um périplo para visitar alguns amigos e familiares — já tinha sido recebida por uma das filhas, a infanta Elena, e visto um jogo de basquetebol de um dos netos, Paulo Urdangarín, filho da infanta Cristina –, vai deslocar-se a Madrid partindo de Sanxenxo, em Pontevedra. Nos últimos dias, também esteve no clube náutico de Sanxenxo e esteve alojado na casa do amigo de longa data Pedro Campos, presidente do clube.
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Foi, aliás, no clube náutico que assumiu a emoção do reencontro, dizendo que tem “muita vontade” e que espera receber “muitos abraços e ver a família”. Num breve contacto com os repórteres, confrontado sobre se iria dar explicações ao rei durante o seu encontro na Zarzuela, Juan Carlos optou por uma resposta evasiva: “explicações de quê?”, atirou a La Sexta. “Que vai dizer ao seu filho?, perguntam-lhe ainda, quando o apanham no carro. “E você, que diria ao seu filho?“, rebate.
A visita do rei emérito tem dividido a opinião pública, a política espanhola e até, segundo a Vanity Fair espanhola, causado algum embaraço à família real, que preferiria uma aparição mais discreta do que os dias de veleiros e aparições públicas de Juan Carlos, sempre seguido por jornalistas.
O rei emérito exilou-se nos Emirados Árabes Unidos desde agosto de 2020, após ter rebentado um escândalo financeiro relacionado com o suposto recebimento de alegadas comissões milionárias para as obras do comboio de alta velocidade para Meca (Arábia Saudita), entre outros casos. A Justiça espanhola já encerrou, entretanto, três investigações contra Juan Carlos, nomeadamente por corrupção e desvio de fundos.
O rei emérito já tinha anunciado que era seu desejo “viajar frequentemente a Espanha para visitar a família e amigos, e organizar a sua vida pessoal e o seu local de residência em âmbito de caráter privado”. Antes desta visita, a imprensa espanhola noticiou que Felipe VI falou com o pai por telefone e combinaram encontrar-se em Madrid.