O antigo presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI), José Maria Ricciardi, foi esta quarta-feira ouvido ao longo de três horas e apontou sempre responsabilidade pela queda do BES ao primo Ricardo Salgado chegando mesmo a provocar o descontentamento do advogado que representa o antigo presidente do BES, Adriano Squilacce. “O senhor queria o lugar de Ricardo Salgado”, perguntou-lhe num momento mais quente de inquirição, ao que apurou o Observador.

Antes de entrar na sessão, no Tribunal Central de Instrução Criminal que agora funciona no Campus da Justiça, assegurou estar totalmente de consciência tranquila com a sua conduta nos problemas que levaram ao colapso do Grupo Espírito Santo (GES), em 2014. O antigo membro da comissão executiva do BES disse não saber aquilo que lhe vão perguntar nesta diligência conduzida pelo juiz Ivo Rosa, do Tribunal Central de Instrução Criminal, mas prometeu dar “o melhor” pela descoberta da verdade.

Um administrador de um banco é obrigado a um conjunto de deveres que tem de cumprir. Tem de dar a conhecer, tem o dever de diligência e eu tentei fazer o melhor na altura. Fiz o que podia”, sublinhou.

Embora já tenha assumido não ter atualmente qualquer relação com o primo e antigo presidente do GES, Ricardo Salgado, José Maria Ricciardi garantiu não misturar questões pessoais com os factos deste processo, nem fazer juízos sobre o ex-banqueiro.

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“Tento ser o mais objetivo possível, não confundo as coisas. Já se passou bastante tempo, mas vamos ler e rever aquilo que se passou. Tento dizer aquilo que vi e que fiz. Caberá a estes senhores aqui dentro decidir com todos os direitos e com a presunção de inocência. Não faço julgamentos de ninguém”, explicou.

Ricciardi foi arrolado pelo arguido João Martins Pereira como testemunha.

Esta foi a segunda vez que José Maria Ricciardi se desloca ao Campus da Justiça para ser inquirido no âmbito da fase de instrução. A audição enquanto testemunha no processo BES/GES esteve agendada para o passado dia 26 de abril, mas o seu depoimento acabou por ser adiado para esta quarta-feira, uma vez que as diligências daquele dia estavam atrasadas. A diligência terminou já perto das 19h00, foi a testemunha que mais tempo demorou a ser inquirida até agora.

GES/BES. A primeira vítima vulnerável na história da criminalidade financeira em Portugal: “Elisa já ganhou”

O processo BES/GES conta com 30 arguidos (23 pessoas e sete empresas), num total de 361 crimes.

Considerado um dos maiores processos da história da justiça portuguesa, este caso agrega no processo principal 242 inquéritos, que foram sendo apensados, e queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro. Segundo o Ministério Público (MP), cuja acusação contabilizou cerca de quatro mil páginas, a derrocada do Grupo Espírito Santo (GES), em 2014, terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.