O Estado português suportou nesta quarta-feira um custo implícito de 2,33% para emitir dívida a nove anos, mais do que o dobro do juro de pouco mais de 1% que suportou numa emissão comparável em fevereiro, antes da guerra na Ucrânia e antes de se terem agudizado as expectativas de subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE).
Apesar da subida do custo de financiamento, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) obteve os 750 milhões de euros que eram o montante máximo previsto, atraindo até uma procura que superou em 2,68 vezes o montante que acabou por ser colocado.
Juros a subir. Dívida nova deixa de ser mais barata que a antiga
Em nota difundida pelas redações, Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, comenta que “o prémio de risco de Portugal continua a subir e a refletir o movimento que temos assistido globalmente nas taxas das dívidas soberanas”.
O especialista recorda que “no início do ano era expectável que fossemos assistir a uma subida nas taxas das dívidas soberanas, no entanto a elevada inflação que se faz sentir globalmente, a guerra na Ucrânia e os novos confinamentos na China vieram criar novas disrupções no ciclo económico”. Neste contexto, “os bancos centrais têm vindo a correr atrás do prejuízo, quer retirando estímulos de forma mais rápida do que se esperava inicialmente, quer elevando as taxas de juro”.
Filipe Silva conclui que “o facto de sairmos de taxas de juro negativas é um processo de normalização económica e saudável para a economia”, porém “o problema atual é que o ritmo a que tudo está a acontecer está a ser muito mais rápido do que se previa inicialmente”. E “os países da periferia têm sido mais penalizados neste movimento, Portugal não é exceção e o seu spread contra a Alemanha continua a aumentar”.