Quando já estava concentrado com a seleção na América do Sul sabendo ao mesmo tempo que o seu futuro iria ser negociado na Europa, Darwin Núñez falou ao programa Ping Pong do canal de YouTube da AUF TV (Federação Uruguaia de Futebol) sobre temas menos conhecidos da sua vida e carreira. Alguns exemplos: se pudesse naturalizava o argentino Otamendi, tem o 9 como número preferido, gosta de Coca-Cola com panado de frango com puré, Messi é o jogador que mais ficou na retina, mantém a superstição de colocar perfume ante de qualquer jogo. Ainda assim, já havia algo que parecia puxar para o próximo destino.

Venda de Darwin ao Liverpool oficializada esta madrugada. Avançado rende 75 milhões fixos mas pode chegar aos 100 milhões

“O meu melhor golo? Foi aquele que marquei em Anfield ao Liverpool. Foi um passe do Julian [Weigl], o João [Mário] correu um pouco a meu lado, tentou controlar mas, claro, fui mais rápido do que ele e recebi a bola. Depois rematei com a parte de dentro do pé e saiu contra o poste. Pensei que ia para fora mas saiu mesmo no cantinho. Vi-a fora e quando ela toca a rede…”, contou em relação ao empate na segunda mão dos quartos da Liga do Campeões. Esse golo entre os 34 que marcou na presente temporada não chegou para evitar a eliminação europeia mas como que carimbou uma das maiores transferências deste verão, com o conjunto de Jürgen Klopp a voltar a apostar no mercado português mas naquela que se poderá tornar-se a maior contratação de sempre do clube superando os 88 milhões pagos por Virgil van Dijk.

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“Ele foi fantástico nesses dois jogos. Na segunda mão, quando marcou o golo, o Klopp foi ter com ele e disse-lhe mesmo ‘Que jogador’. O Liverpool veio buscar o Luis Díaz do FC Porto, podem ver como era bom. É uma mistura de Cavani e Luis Suárez. Salta, vem de trás, é uma mistura dos dois. Quando chegou na época passada ninguém o conhecia bem, veio por um valor elevado e muitos ficaram surpreendidos. Quando o vimos no primeiro treino, percebemos que seria um dos melhores avançados do mundo. Eu gosto de avançados egoístas, daqueles só querem marcar. Darwin tem isso. Se não marcar, vai ficar insatisfeito mas trabalhará muito para a equipa. Está em forma. É uma máquina. Na Premier League irá marcar de certeza”, destacou Adel Taarabt, internacional marroquino do Benfica, em conversa com o TalkSPORT.

Depois do anúncio do Benfica na madrugada de domingo para segunda-feira de um acordo para a venda do jogador ao Liverpool por 75 milhões de euros fixos mais 25 milhões variáveis (que não estão especificados no comunicado à CMVM mas que ficaram divididos em três blocos: cinco milhões após dez jogos, mais dez milhões ao cumprir uma série de 50 jogos e mais dez milhões ligados a objetivos desportivos individuais e coletivos nas próximas três temporadas), faltava apenas a oficialização por parte do vice-campeão inglês e europeu, algo que aconteceu esta terça-feira após a realização de exames médicos. Ou seja, e depois dos seis milhões que custou ao Almeria e dos 24 milhões pagos pelo Benfica, chega agora a Anfield.

“Fui para a cama com o estômago vazio mas a minha mãe foi deitar-se mais vezes sem comer”

El Pichón, alcunha pela qual gosta de ser conhecido (ao invés, El Flaco é o nome que menos lhe agrada), não teve propriamente um caminho fácil até ao estrelato. Aliás, o início de vida apontava a tudo menos isso e até os primeiros anos no futebol não foram propriamente os mais fáceis para alguém tão novo.

“Fui criado num bairro pobre e aprendi a partilhar as coisas com os amigos. Assim era na escola, quando não tinha o que comer passava o dia todo na escola e quando saía ia treinar”, contou em entrevista sobre os anos em que cresceu em El Pirata, perto da fronteira com o Brasil, com o pai na construção civil e a mãe a apanhar garrafas na rua para vender. “É verdade que fui para a cama com o estômago vazio mas a minha mãe foi deitar-se mais vezes sem comer para que nós estivéssemos alimentados. Não me esqueço”, destacou quando foi para Espanha para representar o Almeria e comprou uma casa aos pais em Artigas.

A primeira viagem para Montevideu, onde ficou no centro de estágios do Peñarol, não foi definitiva e voltou pouco depois à terra. Aos 14 anos, já sem a companhia do irmão Junior que deixou o futebol por questões familiares e para que o mais novo pudesse lutar por uma oportunidade, ficou mesmo. No entanto, e com apenas 17 anos, acabou por sofrer outra contrariedade que lhe colocou a carreira em risco: fez uma rotura dos ligamentos cruzados do joelho, foi operado e esteve mais de um ano sem jogar. Pensou várias vezes em desistir mas a total recuperação física e a proposta para rumar à Europa desviaram-no da ideia, sendo que apenas um ano depois estava a tornar-se a transferência mais cara do Benfica (24 milhões de euros). Dois anos depois, chega a uma Premier League que sempre esteve particularmente atenta aos seus desempenhos entre Brighton, Newcastle, West Ham, Manchester United e Liverpool como o melhor marcador do último Campeonato (26 golos em 28 partidas) e um total de 34 golo em 41 jogos oficiais.

“Vi a equipa em muitos jogos na Champions e é o meu estilo de jogo”

“Estou muito feliz e encantado por estar aqui no Liverpool. É um clube enorme”, começou por dizer nas primeiras declarações ao canal do Liverpool. “É um prazer estar aqui e estou muito feliz por fazer parte deste grande clube. Joguei contra o Liverpool, vi a equipa em muitos jogos na Champions e é o meu estilo de jogo. Há alguns grandes jogadores aqui e acho que é algo que se vai adequar ao meu estilo de jogo. É um clube muito grande. Espero poder dar tudo o que tenho para ajudar a equipa. Gostaria de agradecer à minha companheira, aos meus pais e ao meu filho, que é um orgulho para mim. Foram muito importantes para mim nas etapas da minha carreira. Estou muito orgulhoso por eles. Quero ganhar muitos troféus no Liverpool”, acrescentou o avançado uruguaio nas primeiras declarações pelos reds.

“Darwin é um jogador maravilhoso. Já é muito bom mas tem muito potencial para ficar ainda melhor. É por isso que é tão empolgante para ser honesto. A sua idade, a sua vontade, a sua fome de ser ainda melhor do que é atualmente, tal como a sua crença no nosso projeto e no que queremos fazer como clube. Ele está tão animado por nós quanto nós por ele, o que contribui para um ótimo relacionamento, o que sucede quando aprecias os pontos fortes um do outro. Essa é certamente a situação aqui. Ele acha que combinamos com ele e acreditamos que ele encaixa bem em nós. Vamos fazer isso. Ele tem todas as caraterísticas que procuramos. Pode definir um ritmo, traz energia, pode ser perigoso na área e nas áreas. Ele é agressivo e dinâmico nos seus movimentos”, destacou o técnico Jürgen Klopp.