Ao primeiro dia o efeito travão ao preço grossista da eletricidade ficou aquém do previsto e no segundo dia ainda foi pior. O teto ibérico ao gás resultou num custo mais elevado para os clientes expostos ao risco do mercado, o impacto contrário ao pretendido com a criação do mecanismo que Espanha e Portugal tanto defenderam na União Europeia. Isto porque o custo da compensação a pagar às centrais a gás natural (para cobrir a diferença ente o teto de 40 euros por MW e o preço real do gás) disparou para 88,2 euros por MW no segundo dia de aplicação.

Juntando esta compensação ao preço a que fecharam as ofertas esta quarta-feira para a eletricidade a entregar na quinta-feira no âmbito do Mibel — 170,81 euros por MW hora — o resultado dá 259 euros por MW hora, segundo o diário espanhol Cinco Dias. De acordo com a mesma publicação este preço é 15% mais caro que o obtido na véspera e será pago por todos os clientes que estão diretamente expostos às cotações do mercado, onde se incluem mais de 10 milhões de famílias espanholas, para além das empresas.

Este é o preço mais alto desde abril e está muito acima das previsões feitas em Espanha para o efeito do teto ibérico na evolução dos preços grossistas da eletricidade. Já no primeiro dia de funcionamento deste regime, o preço do mercado grossista baixou em linha com as previsões — cerca de 22%. Mas este efeito foi em grande parte absorvido pela compensação a pagar às centrais a gás que nesse primeiro dia foi de 59 euros. O que limitou a 6% a redução do preço a pagar pelos clientes diretamente beneficiados pelo mecanismo e que são também os que têm de suportar os custos do teto. Esta descida é um terço da estimada pelo Governo espanhol.

A explicar esta contradição está a fatia muito mais significativa da compensação a pagar às centrais a gás natural e que resulta da combinação de vários fatores que fizeram desta semana uma má altura para a entrada em funcionamento do mecanismo. Fontes do setor elétrico contactadas pelo Observador afirmam que ainda é cedo para fazer balanços sobre o sucesso deste mecanismo, mas reconhecem que a estreia não está a cumprir as expectativas criadas. A publicação especializada Periódico de Energia chama-lhe mesmo a “estreia desastrosa” da exceção ibérica. 

Por um lado, a temperatura está muito alta sobretudo em Espanha o que elevou a procura. Ao mesmo tempo, registaram-se condicionamentos na produção nuclear e um fraco contributo da geração eólica, o que aumentou a necessidade de usar mais as centrais a gás natural para responder à procura. Para este quadro contribuíram também as exportações para Portugal.

O Cinco Dias diz que a eletricidade produzida a partir de centrais de ciclo combinado atingiu os 398 gigawatts hora, o que representa o maior contributo do gás natural no mix energético dos últimos 14 anos, correspondendo a 40% da oferta. E quanto mais gás é preciso para responder à procura, mais pesadas ficam as compensações a pagar a estas elétricas. A fatura foi ainda agravada pela subida do preço do gás natural, em consequência dos mais recentes cortes da Gazprom a clientes europeus como a Itália, já que a compensação tem de cobrir a diferença entre o teto ibérico — os 40 euros por MW/hora — e o preço efetivo do gás.

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